Imagens e vídeos foram encontrados em computador e telefone. Material ainda passará por uma perícia
Relatório técnico feito pelo por policiais do Núcleo de Combate ao Uso e à Exploração Sexual Infantil , da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV), indica que pelo menos um dos 240 arquivos de imagens e vídeos de pornografia infantil, encontrados armazenados em um computador e um celular do ator José Dumont, pode ter sido produzido com uma câmera do aparelho de telefonia apreendido com Dumont. A informação também consta no despacho do juízo, que converteu em preventiva na última sexta-feira, a prisão em flagrante do ator, ocorrida no dia anterior, por armazenar imagens de crianças com teor sexual.
O celular e o computador apreendidos passarão ainda por uma perícia. Na ocasião, será feita uma análise mais aprofundada para tentar saber se existem outras imagens de pornografia infantil que não foram localizadas pelos agentes da especializada. A prisão de José Dumont aconteceu, na última quinta-feira, quando os agentes da DCAV cumpriam um mandado de busca e apreensão na residência do ator, no Bairro do Catete, na Zona Sul do Rio e acabaram encontrando cerca de 240 arquivos, entre imagens e vídeos, de pornografia infantil.
Também foi encontrado, na mesma operação, um comprovante de depósito bancário para uma vítima de abuso sexual, investigação que motivou a operação de busca e apreensão. O artista já era investigado pela DCAV pelo estupro de um menino de 12 anos, que teria recebido os mil reais do ator após o crime.
De acordo com a polícia, ele teria se aproveitado do prestígio e reconhecimento como ator para atrair a atenção do adolescente de 12 anos, que era seu fã. A investigação aponta ainda que ele desenvolveu um relacionamento próximo com o menino, oferecendo ajuda financeira e presentes, valendo-se da vulnerabilidade financeira da vítima para, a partir daí, fazer investidas com beijos na boca e carícias íntimas, que acabaram sendo captadas por câmeras de vigilância, dando início às investigações.
Confrontado com as imagens de pornografia infantil apreendidas em seu celular e no seu computador pessoal, o ator confirmou, em depoimento prestado à polícia na quinta-feira , ao qual O GLOBO teve acesso, que elas eram de sua propriedade e faziam parte de um “estudo para a futura realização de um trabalho acerca do tema, sem tabus ou filtros”.
No despacho que converteu a prisão em flagrante em preventiva, o juiz Antonio Luiz da Fonseca Lucchese, argumentou que “a situação tem contornos de gravidade” ao apontar, no documento, que teriam sido encontrados com o ator cerca de 240 arquivos, entre imagens e vídeos, o que indicia reiteração criminosa.
O mesmo juiz também determinou que um ofício seja feito expedido para a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap) recomendando que o ator seja encaminhado para atendimento médico, por conta de problemas de saúde relacionados a hipertensão, gastrite, tireoide e sífilis. Procurada, a Seap informou que José Dumont está preso na Casa do Albergado Crispim Ventino, em Benfica, na Zona Norte, e que já foi atendido por uma equipe de enfermagem. Ainda segundo a Seap, um médico irá a unidade, nesta quinta-feira, para que o ator seja examinado.
A apreensão de material de pornografia infantil não é o único problema enfrentado pelo ator na Justiça. O Ministério Público da Paraíba (MPPB) anunciou, nesta segunda-feira, ter requerido a retomada das investigações de um inquérito policial que apura uma denúncia de crime de estupro de vulnerável contra José Dumont . De acordo com o relato de duas testemunhas, o delito teria ocorrido em 2009, no interior de um apartamento onde o ator se hospedava, no município de Cabedelo, e envolveria meninos na faixa etária de oito a 14 anos.
Ainda segundo o Ministério Público da Paraíba, a estimativa é a de que José Dumont, que está preso no Rio, seja ouvido sobre o caso nos próximos 30 dias. A tendência é a de que o ator seja interrogado pela polícia paraibana pelo sistema de videoconferência. Segundo o MPPB, o inquérito estava parado desde 2013, após tentativas fracassadas de localizar e ouvir o ator, no Rio e em São Paulo por carta precatória. Ainda segundo o MPPB, o inquérito foi encaminhado para a autoridade policial com um pedido para que às vítimas do suposto crime sejam identificadas e ouvidas.
Como a investigação não encontrou indícios suficientes da autoria do crime, o ator não foi denunciado pelo Ministério Público. O caso veio á tona depois que duas mulheres procuraram o Ministério Público Federal ( MPF)para denunciar que o ator levava crianças para seu apartamento. O MPF encaminhou a denúncia para o Ministério Público estadual que ouviu as duas testemunhas e ainda uma terceira pessoa. Esta última também confirmou ter visto o ator levando meninos para seu apartamento.
A reportagem procurou a defesa do ator por um telefone fixo, mas ainda não conseguiu contato com o advogado de José Dumont.
Com mais de 40 de carreira, José Dumont estava escalado para a novela “Todas as Flores”, no Globoplay, plataforma de streaming da TV Globo, que tem estreia prevista para outubro. Em nota, a Globo afirmou que o ator foi retirado da trama criada e escrita por João Emanuel Carneiro com direção artística de Carlos Araujo.O último trabalho do ator na emissora foi em “Nos tempos do Imperador” (2021). Na novela, ele interpretava Coronel Eudoro, um fazendeiro viúvo, pai de Pilar (Gabriela Medvedovski) e Dolores (Daphne Bozaski).