Apesar de ser uma condição relativamente comum, a trombose é perigosa, e é preciso atenção para evitar maiores problemas de saúde associados ao entupimento das artérias. A preocupação deve ser maior entre elas: as mulheres que têm histórico do problema na família e utilizam anticoncepcional podem ter 30 vezes mais chances de ter um trombo (coágulo).
Estimativas apontam que uma em cada 10 mulheres pode ter trombofilia hereditária, ou seja, uma predisposição genética aos coágulos no sangue, bloqueando veias e artérias, e levando a problemas graves como embolia pulmonar ou acidente vascular cerebral (AVC).
Além disso, uma em cada cinco pacientes pode ter a condição de forma adquirida, causada pelo uso de hormônios, tabagismo, alcoolismo, obesidade ou cirurgias e hospitalizações prolongadas.
Mulheres consideradas trombofílicas não devem ter medo da condição. O médico Ciro Martinhago, especialista em reprodução humana e medicina fetal da Dasa Genômica, explica que a doença não é incapacitante e, pelo contrário, se identificada logo cedo, ainda na adolescência, a informação pode ajudar a paciente a ter melhores condições de vida e evitar problemas de saúde no futuro.
“Ao viajar, ela vai poder curtir voos longos com mais conforto e segurança, bebendo bastante líquido, não consumindo álcool e se levantando a cada 50 minutos. Além de usar anticoncepcionais, planejar gravidez e fazer reposição hormonal na velhice de forma mais segura”, explica o médico.
Por que é importante detectar a trombofilia?
Se uma jovem ou adolescente for diagnosticada com a doença, ela não pode tomar qualquer tipo de anticoncepcional — algumas pílulas com estrogênio têm potencial para aumentar o risco de trombose. Por isso, Martinhago ressalta que, ao fazer as primeiras consultas ginecológicas, o médico e até a própria paciente, por segurança, devem solicitar um rastreamento da trombofilia. Só a partir dos resultados se escolhe o contraceptivo mais adequado.
A doença pode ser identificada por meio de exames laboratoriais (de sangue ou saliva) que não precisam ser repetidos, já que a condição é considerada crônica. O diagnóstico é essencial para indicar a necessidade de uso de anticoagulantes em uma gravidez, por exemplo, evitando problemas na gestação e até no próprio parto.
“Mulheres trombofílicas têm perigo de perder o bebê na barriga por conta de uma trombose no cordão umbilical, ter pré-eclâmpsia, descolamento prematuro da placenta, aborto, além de provocar uma restrição de crescimento na criança. Tudo isso pode ser evitado com o diagnóstico precoce”, completa o médico.
Na velhice, se a doença for conhecida, os geriatras podem avaliar com a paciente a necessidade de reposição hormonal. Se for necessária, a medicação deve ser sem estrogênio, para não aumentar o risco de trombose associada a outros problemas, como embolia e AVC.
A trombofilia pode ser tratada por meio de medicamentos, mas as mudanças no estilo de vida são essenciais para evitar crises. Atividades como exercícios físicos, que auxiliam na circulação, dieta com baixa quantidade de gordura e sal, além de não fumar e consumir bebidas alcoólicas, são algumas das ações recomendadas para diminuir a formação dos coágulos.
Mutações genéticas que podem indicar trombofilia
Segundo Martinhago, nos últimos anos, mutações genéticas estão provocando cada vez mais casos da doença. Uma delas é a chamada Fator V Leiden, que ocorre em cerca de 5% da população e é responsável por 20% a 30% dos eventos de tromboembolismo venoso. Outra mudança conhecida é a do gene MTHFR, que pode ser encontrada em 5% a 15% da população e está associada a um risco seis vezes maior de trombose venosa.
O que é trombose e porque deve ser evitada
A trombose é a formação de coágulos no sangue, bloqueando veias e artérias. Ela geralmente ocorre nos membros inferiores, como pernas e panturrilhas, mas pode atingir qualquer parte do corpo. Em casos mais graves, pode chegar ao pulmão e levar à morte súbita.
“Não existe destino certo no organismo para a trombose. Por isso, a melhor coisa a se fazer é identificar os riscos e se prevenir, pois não se sabe se ela vai acontecer, quando vai ocorrer e se teremos tempo de remediar”, alerta o médico.
Na maioria dos casos, a trombose é assintomática. Mas, em casos venosos, os pacientes podem apresentar inchaço, aumento da temperatura nas pernas, coloração vermelho-escura ou arroxeada ou endurecimento da pele. Em casos arteriais, podem ocorrer dores no peito e fraqueza em um lado do corpo.
Os principais fatores de risco são os mesmos da trombofilia: predisposição genética, colesterol alto, obesidade, uso de anticoncepcionais e consumo de álcool. Segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), 180 mil pessoas no Brasil são diagnosticadas com o problema anualmente.
Créditos: Metrópoles.