Disputas territoriais, como terremotos, nevascas e prêmios Nobel, costumam parecer distantes da realidade brasileira. São eventos que os cidadãos, por sorte, geralmente veem apenas pela televisão. No entanto, nos últimos dias, uma disputa entre dois países vizinhos ao Brasil ganhou destaque nas notícias.
No domingo, a Venezuela realizou um referendo sobre a anexação da região de Essequibo, uma área rica em petróleo que corresponde a 74% do território da Guiana. Segundo o governo venezuelano, o referendo obteve 95% de votos favoráveis à anexação.
O governo brasileiro afirmou que o referendo é uma questão interna da Venezuela, mas já reforçou a presença militar na fronteira com os dois países. Internamente, diplomatas demonstram preocupação com a possibilidade de conflito armado na fronteira.
Na sexta-feira, a Corte Internacional de Justiça, em Haia, determinou que a Venezuela não tome nenhuma ação agressiva contra o vizinho e alertou para o “sério risco” de invasão.
A região de Essequibo tem um interesse histórico para a Venezuela, sendo alvo de uma série de investidas que já alteraram até o mapa do Brasil. Desde pelo menos 1844, Venezuela e Grã-Bretanha disputam o controle dessa região, baseando-se em registros históricos dos impérios estabelecidos pela Espanha e Holanda na área. Essa disputa chegou a um tribunal em 1899.
O Laudo de Paris favoreceu os britânicos, mas pouco tempo depois, a área passou a ser contestada pela Venezuela. Uma nova negociação começou, dessa vez para delimitar as fronteiras britânicas com o Brasil naquela área parcamente povoada. Em 1904, uma arbitragem italiana definiu que, dos 33 mil km² do Essequibo em disputa, pouco mais de 13 mil km² ficariam com o Brasil e cerca de 19 mil km² com a Grã-Bretanha.
A área britânica foi integrada à Guiana após a independência do país em 1966 e hoje faz parte do território contestado pela Venezuela. O país, atualmente governado por Nicolás Maduro, reivindica oficialmente a região do Essequibo desde 1963. O referendo de domingo deve ser um novo ápice nas tensões.
Vale ressaltar que a área que há 119 anos pertence ao Brasil, parte do estado de Roraima, não está sendo contestada por Maduro.
Foto: reprodução/Exame
Com informações de Exame