Após sua prisão na Penitenciária Federal de Brasília (DF) no final de janeiro de 2023, o espião Sergey Vladimirovich Cherkasov, a serviço do regime de Vladimir Putin, precisou ser isolado dos demais detentos. A ameaça veio do segundo escalão da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC).
De acordo com informações do Metrópoles, o russo comunicou às autoridades que os integrantes do PCC estavam cientes de sua identidade e de suas ações. Essas informações teriam surgido de uma publicação em revista que circulou na prisão, levando os policiais penais a decidirem pelo isolamento do detento.
Sergey foi preso pela Polícia Federal (PF) em São Paulo. Ele utilizava uma falsa identidade brasileira na tentativa de se infiltrar no Tribunal Penal Internacional (TPI), localizado em Haia, na Holanda. O serviço secreto holandês revelou que o espião levou 12 anos para construir essa identidade fictícia, adotando o nome de Viktor Muller Ferreira, supostamente nascido em Niterói (RJ).
A inteligência holandesa também informou que Sergey trabalhava para a GRU, o Departamento Central de Inteligência da Rússia, o maior serviço de inteligência do país, com operações inclusive no exterior.
Os holandeses optaram por tornar público o caso, visando evidenciar as estratégias da inteligência russa que ameaçam instituições internacionais, como o TPI.
Por meio de nota, o serviço secreto holandês alertou que, caso o espião tivesse conseguido ingressar no tribunal, ele poderia coletar informações, recrutar fontes e acessar sistemas digitais da Corte. O TPI investiga possíveis crimes de guerra cometidos pela Rússia, incluindo a atuação de Vladimir Putin na Ucrânia.
Documentos de uma investigação do Federal Bureau of Investigation (FBI), a polícia federal dos Estados Unidos, revelaram que o espião simulava residir na capital brasileira. Assim, frequentava bares, restaurantes e boates locais.
Sergey costumava afirmar que havia se mudado para Brasília em 2010, hospedando-se em uma pensão de baixo custo, onde pagava cerca de R$ 550 por mês. Entre aulas de português e explorações pela capital, ele dizia ter se apaixonado pela culinária brasileira, especialmente nos restaurantes que serviam comida a quilo.
Após sua chegada ao Brasil em 2010, já com a identidade falsa, ele viveu nos Estados Unidos e na Holanda, onde conseguiu um estágio no TPI, também conhecido como Corte Penal de Haia.
Além do alerta, os holandeses compartilharam todas as informações obtidas com órgãos de inteligência e investigação do Brasil.
O governo brasileiro tomou conhecimento de que, por trás dos documentos falsos, havia um suspeito apontado pela Holanda como um espião russo, o que gerou repercussão internacional.
Embora o Brasil tenha mantido o caso em sigilo, o próprio serviço secreto holandês revelou a desmascaração do agente após a prisão do russo, diante do silêncio do Estado.