Foto: Toni Pires/Poder 360.
O governo liderado por Lula (PT) procura dissociar-se e não assumir a responsabilidade pela imagem dos protestos contra Jair Bolsonaro (PL) organizados por partidos de esquerda neste sábado (23), os quais acabaram tendo baixa adesão em praticamente todas as cidades onde ocorreram.
Internamente, a avaliação é de que o PT e outros partidos cometeram um erro ao realizar manifestações que não tinham uma “pauta mobilizadora”, conforme definiu um membro do governo, e que, além disso, foram conduzidas de forma desarticulada.
Por outro lado, ministros também argumentam que se trata de um “evento do PT” e, portanto, o esvaziamento não serve como um indicador da força do governo.
Eles também apontam que as pautas dos protestos – em defesa da democracia, para lembrar os 60 anos do golpe militar e contra a anistia para aqueles que buscaram uma ruptura institucional – embora relevantes, não estão no topo da lista de prioridades que o governo tem enfatizado publicamente.
Em meio a uma oscilação negativa na avaliação da gestão petista, Lula e seus ministros optaram por concentrar esforços na divulgação das ações do governo, intensificando as viagens pelo país. Aliados têm aconselhado o presidente a evitar confrontos retóricos com Bolsonaro e a não abordar temas polêmicos.
Além disso, a proximidade do aniversário do golpe militar em 31 de março, uma das pautas dos protestos, tem gerado divisões dentro do governo e entre os aliados. A decisão do presidente Lula de desencorajar eventos para marcar a cerimônia foi alvo de críticas.
O governo atravessa um momento de tentativa de aproximação com os militares, à medida que avançam as investigações sobre a participação de membros da cúpula das Forças Armadas em articulações em favor de um golpe para manter Jair Bolsonaro no poder, após sua derrota nas eleições.
Na noite de sexta-feira (22), por exemplo, Lula e outros membros de seu governo participaram de um jantar na residência do comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen.
O Palácio do Planalto já havia decidido se distanciar dos protestos quando eles começaram a ser planejados.
Por isso, Lula, seus ministros e outros membros do governo optaram por não comparecer às manifestações. Ao longo deste sábado (23), também não houve menções aos protestos nas redes sociais da equipe do presidente.
Havia uma estratégia deliberada de que os protestos seriam inevitavelmente comparados com a manifestação liderada pelo pastor Silas Malafaia em apoio a Jair Bolsonaro, na avenida Paulista, em fevereiro. Lula chegou a comentar na época que o evento foi “grande”.
A estratégia de mudar o local do protesto em São Paulo e de dividir as manifestações em várias cidades tinha como objetivo evitar comparações com o evento pró-Bolsonaro. No entanto, isso também foi motivo de críticas no Planalto, por expor ainda mais a falta de uma articulação.
Neste sábado (23), movimentos de esquerda e partidos organizaram protestos em defesa da democracia em várias cidades do país, além de Portugal e Espanha. No entanto, a adesão foi baixa, incluindo nas cidades onde estavam previstas as maiores manifestações, como Salvador (BA) e São Paulo (SP).
Na capital baiana, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, destacou que o objetivo dos protestos de esquerda não era igualar em números o evento liderado por Bolsonaro na Paulista, mas sim reforçar a luta contra ditaduras e tentativas de golpe.
“[O objetivo] é fazer atos pelo Brasil inteiro, independente de tamanho. Para reunir as pessoas e aqueles que lutaram contra a ditadura e deixar aceso na memória que não podemos voltar a esse tempo. E também para dizer que nós não concordamos com a tentativa do golpe do 8 de janeiro.”
Sobre a ausência de Lula nos protestos, a presidente do PT ressaltou que “não cabe ao governo ou ao presidente liderar mobilizações sociais”.
O protesto em São Paulo também foi prejudicado devido à chuva. Um dos presentes no evento foi o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Com informações da Folha de S. Paulo.