Imagem: Gentileza/Polícia Federal
Equipamento sumiu em fevereiro de 2023, corporação descobriu em junho, e Corregedoria só abriu inquérito em novembro. Máquina apreendida em ação contra trabalho escravo produz 2,5 mil cigarros por minuto e foi leiloada por R$ 550 mil – compradores nunca receberam.
Uma máquina de produzir cigarros do tamanho de um caminhão desapareceu de um dos locais que deveriam ser os mais seguros do Rio de Janeiro: a Cidade da Polícia – o centro de comando da Polícia Civil no estado.
O equipamento, que tem mais de 6 metrosde comprimento, quase 2 metros de altura e pesa mais de 5 toneladas, foi levado na calada da noite – e a polícia só descobriu que a máquina sumiu quatro meses depois, como mostrou, com exclusividade, o RJ2 nesta quarta-feira (20).
Funcionam na Cidade da Polícia 15 delegacias especializadas – órgãos ligados à chefia da corporação – e trabalham mais de três mil agentes.
A máquina estava guardada num galpão onde fica o depósito de bens apreendidos da Delegacia de Cargas, que fica nos fundos do complexo.
O equipamento havia sido apreendido numa operação realizada em julho de 2022, em uma ação de outra unidade, o Departamento-Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro.
A investigação era contra um grupo que mantinha 23 paraguaios e um brasileiro em situação análoga à escravidão. Os trabalhadores eram obrigados a trabalhar numa fábrica clandestina de cigarros, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Não recebiam salário e eram impedidos de sair da fábrica.
2,5 mil cigarros por minuto
Todo o material apreendido, entre eles, a máquina modelo MK8 PA7, usada na fabricação dos cigarros, foi levado para ser guardado com a Delegacia de Cargas. Um equipamento valioso à indústria do cigarro, capaz de produzir 2,5 mil cigarros por minuto.
A máquina ficou bem guardada lá por pouco mais de sete meses. Por determinação da 3ª Vara do Trabalho de Caxias, onde tramita o processo, ela foi vendida em um leilão. Parte do valor da venda seria revertido para projetos sociais.
Máquina de produzir cigarro — Foto: Reprodução/TV Globo
O leilão aconteceu no dia 8 de fevereiro do ano passado. A empresa que venceu a disputa online, a Indústria Amazônica de Cigarros Ltda, comprou o equipamento por R$ 550 mil.
No entanto, uma semana depois, na madrugada do dia 17 de fevereiro, uma quinta-feira véspera de carnaval, a máquina foi furtada.
O sumiço só foi descoberto em junho, quando um oficial de Justiça esteve na Cidade da Polícia, na companhia do representante da empresa vencedora para verificar as condições do bem comprado.
Ao chegarem ao depósito, não encontraram a máquina.
Imagem aérea da Cidade da Polícia, no Jacaré, Zona Norte do Rio — Foto: Reprodução/TV Globo
Em novembro, nove meses após o furto, a Corregedoria da Polícia Civil instaurou um inquérito.
A investigação interrogou quase 50 pessoas – todos os policiais que estavam de plantão na portaria da Cidade da Polícia durante o carnaval foram ouvidos.
Ninguém viu qualquer movimentação que pudesse explicar a ação dos criminosos.
A investigação acredita que o autor do furto seja alguém com acesso ao depósito, porque o local fica trancado e poucas pessoas têm as chaves.
Outra conclusão do inquérito é que os criminosos teriam usado um caminhão do tipo Munck, que além da carroceria tem um equipamento parecido com um guindaste para içar peças pesadas, como a máquina que foi furtada.
A conclusão é que o furto não foi uma operação simples, nem silenciosa, e que precisou de mais de uma pessoa envolvida na operação.
A TV Globo apurou que o depósito onde estava a máquina não tem câmera de segurança e, na época do furto, a portaria também estava sem monitoramento por imagem.
Quando o equipamento sumiu, em fevereiro de 2023, a Polícia Civil era chefiada por Fernando Albuquerque. O sumiço só foi percebido em junho, ainda na gestão dele. Na época, a Delegacia de Cargas abriu uma sindicância para apurar o sumiço.
As circunstâncias do desaparecimento continuaram sem resposta com o secretário de Polícia seguinte, José Renato Torres, que ficou um mês no cargo.
A Corregedoria entrou no caso em novembro, um mês depois do atual secretário de Polícia Civil, Marcos Amim, assumir.