JOÃO COTTA/TV GLOBO
A Globo deve anunciar nos próximos dias que teve um lucro operacional de cerca de R$ 1,1 bilhão em 2023. É o seu melhor resultado desde 2018 e vem depois de dois anos consecutivos de prejuízos operacionais. Os dados foram obtidos com exclusividade pelo Notícias da TV.
Lucro operacional é o resultado positivo de receitas menos despesas com a atividade principal da empresa (ou seja, a produção e veiculação de conteúdo), sem considerar custos financeiros, ganhos com investimentos, equivalência patrimonial, depreciação e amortização, Imposto de Renda e contribuição social.
É diferente do lucro líquido, que é o resultado final disso tudo. O resultado operacional, como o nome sugere, diz respeito apenas à operação e mostra a capacidade da empresa de gerar caixa com sua atividade principal. O resultado de 2023 anula o rombo de R$ 951 milhões dos dois últimos anos.
Em 2021, a Globo teve um prejuízo líquido de R$ 174 milhões, uma marca negativa histórica. Um ano depois, a empresa registrou lucro líquido de R$ 1,254 bilhão, mas teria tido prejuízo novamente se não fosse a venda da gravadora Som Livre (por R$ 1,295 bilhão).
A Globo fechou 2023 com lucro líquido, mas o valor só será conhecido na divulgação do balanço. Em dezembro, como o Notícias da TV antecipou, o diretor-presidente da emissora, Paulo Marinho, anunciou o pagamento aos funcionários de participação em lucros.
Em entrevista ao Valor Econômico no último dia 7, Marinho afirmou que a Globo teve receitas de R$ 15,16 bilhões e fechou 2023 com R$ 14,2 bilhões em caixa. O resultado é um pouco melhor do que o do ano anterior, quando as receitas totalizaram R$ 15,09 bilhões. Se considerada a inflação, a Globo faturou em 2023 menos do que 2022.
É inegável, contudo, que a Globo teve um 2023 bom, como comemorou Marinho em novembro ao anunciar os resultados do terceiro trimestre. “O fim do ano se aproxima e temos motivos para celebrar”, afirmou em comunicado interno. A emissora finalmente se recuperou do impacto da pandemia de Covid, que havia reduzido suas vendas em 2020 para R$ 12,5 bilhões.
Emissora quer vender roupa pela TV
Embora a Globo preveja para 2024 um “ano desafiador”, seus executivos já sonham com dias melhores, em voltar a ter crescimento real nas receitas. As principais apostas são a TV 3.0, que possibilitará a oferta de anúncios personalizados para grupos de telespectadores, e um ambiente regulatório que permita uma concorrência mais justa com as big techs.
Prevista para entrar em testes em 2025, a TV 3.0 é um novo padrão tecnológico de TV digital que vai reduzir o atraso da TV aberta em relação ao streaming.
Novos protocolos vão “fundir” a transmissão pelo espectro magnético da TV aberta com o sinal de internet. A emissora poderá emitir uma novela pelo ar e todo o intervalo comercial pela internet, entregando um mesmo programa para milhões de pessoas e milhares de anúncios para indivíduos diferentes.
Isso permitirá maior interatividade, e a Globo vislumbra faturar com comércio eletrônico, vendendo, por exemplo, roupas de personagens de novelas. “Existem vários desafios, como a integração tecnológica com as redes varejistas e a definição de modelos de negócio compartilhados, mas estaremos preparados para isso”, disse Marinho ao Valor no último dia 7.
A dúvida é se o telespectador vai mesmo interromper a novela e dividir a tela do televisor com uma aplicação de compra de roupa. A TV digital já oferece essa possibilidade, e nunca se vendeu nada nem se votou em Big Brother Brasil pelo controle remoto. A audiência já aprendeu a fazer isso pelo celular.
A Globo também tem atuado forte pela regulamentação das big techs. No ano passado, trabalhou nos bastidores de Brasília pelo PL das Fake News (2630/2020) e pelo projeto que muda a legislação de direitos autorais (2370/2019). Ambos regulamentam as plataformas digitais e preveem a monetização de conteúdo jornalístico nas redes sociais.
O projeto das Fake News quase foi votado em maio, mas a forte pressão de empresas como o Google mudou a opinião de deputados. O segundo também avançou, mas está emperrado por falta de acordo com a classe artística.
Na entrevista ao Valor, Paulo Marinho foi claro sobre a questão e mostrou preocupação com o avanço da inteligência artificial.
“Precisamos estar maduros para debater sobre isso. Existe um lado muito bom, que são os avanços trazidos pela inovação que não pode parar, mas precisamos discutir mais para que não sejam nocivos. Temos um setor altamente regulado [a radiodifusão] que convive com outro que é totalmente desregulado [a internet]. Isso cria uma assimetria e deixa terreno fértil para a desinformação e a publicidade fraudulenta.”
A Globo também está se lançando em um novo nicho de receitas, o do marketing de influência, com o agenciamento de contratados e de participantes de BBB.
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