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Há mais de meio século, o agrônomo Sérgio Vergueiro empreendeu uma jornada à Amazônia com a intenção de estabelecer a criação de gado. Desde o início, ele adotou uma abordagem incomum: conservar áreas de floresta entre cada parcela de terra em sua propriedade, a Fazenda Aruanã, a fim de evitar a contínua desflorestação. Dez anos mais tarde, enfrentando a degradação dos pastos, optou por mudar de rumo e investir no cultivo de castanheiras.
Atualmente, Vergueiro é proprietário de uma propriedade repleta de árvores nativas e plantadas, ostentando o título de maior reflorestamento de castanheiras do Amazonas. Seu trabalho recente rendeu-lhe 2,2 milhões de créditos de carbono, que podem ser comercializados para indivíduos ou empresas interessadas em compensar suas emissões de gases de efeito estufa (GEE).
A trajetória de Vergueiro é uma exceção no cenário do agronegócio brasileiro, mas reflete uma tendência crescente entre os produtores rurais de explorar o mercado de carbono. Esse mercado, considerado vital para atingir a neutralização global das emissões de GEE até 2050 e limitar o aquecimento global a 1,5°C até o final do século, foi destacado durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP 28, realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, no ano passado.
Nesse mercado, os diferentes gases de efeito estufa são convertidos em dióxido de carbono, sendo que cada tonelada de dióxido de carbono equivalente não emitida ou capturada corresponde a um crédito de carbono.
No Brasil, o impulso desse mercado é impulsionado pelo projeto de lei 2.148/2015, que visa regulamentar o mercado de carbono no país. Aprovado pela Câmara dos Deputados no final de 2023, o texto agora está em análise pelo Senado.
O projeto estabelece regras para o mercado regulado de carbono, onde os agentes privados devem cumprir obrigações como a limitação de emissões e a compra de créditos para compensar emissões excedentes. Além disso, prevê também regras para o mercado voluntário, onde empresas e indivíduos realizam atividades que reduzem as emissões e vendem créditos de carbono correspondentes.
É nesse mercado voluntário que Vergueiro oferta seus créditos de carbono, utilizando a plataforma da Tero Carbon, uma startup amazonense especializada em certificação e comercialização de créditos de carbono.
Embora o foco do projeto de lei seja o mercado regulado, o texto também prevê disposições para o mercado voluntário, estabelecendo que os geradores de créditos de carbono registrem seus ativos no Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), facilitando assim o rastreamento e a venda dos créditos.
Atualmente, o mercado voluntário é dominado por algumas grandes certificadoras internacionais, sendo a Verra a principal delas, detendo cerca de 90% do mercado brasileiro de créditos de carbono. Entretanto, iniciativas locais, como a Tero Carbon, estão ganhando espaço ao oferecer alternativas aos produtores rurais.
Além do mercado voluntário, existem esforços para desenvolver projetos de restauração com árvores nativas e exóticas, visando a captura de carbono da atmosfera. Apesar dos desafios, o mercado de carbono é visto como uma ferramenta complementar para incentivar práticas agrícolas sustentáveis, embora não deva substituir o papel central da produção agropecuária.
Com informações do Globo Rural.