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Tentativa de resposta da família real teve efeito contrário e alimentou rumores
A ausência pública de Kate Middleton, a princesa de Gales, passou de uma preocupação do nicho de observadores da família real britânica para uma piada internacional em questão de semanas.
O Palácio de Kensington disse que a cirurgia abdominal que a princesa foi submetida em janeiro estava planejada e indicava que ela estaria fora dos holofotes até março.
Entretanto, vários detalhes incomuns, como fotos granuladas, uma imagem editada, informações médicas vagas e atualizações irregulares da família real britânica, mantiveram o público fazendo especulações.
E isso nunca é uma coisa boa, ainda mais com Kate não tendo sida vista em público desde dezembro.
O suposto desaparecimento de Kate fez com que usuários do TikTok e do X mergulhassem em teorias de conspiração bizarras e piadas intertextuais nas redes sociais.
Multidões de detetives amadores elaboraram cronogramas e se aprofundam nos movimentos da princesa nos últimos meses, combinando preocupação de verdade com conspirações.
Cidadãos comuns que trabalham como especialistas em fotografia forense sugeriram que imagens recentes de Kate foram fabricadas, criando teorias sobre onde ela realmente está e quem eles acham que está tentando encobrir a “verdade”.
E, sim, há muitas piadas.
No início, eram apenas as típicas gargalhadas que surgem sempre que há algo socialmente digno de nota: “Talvez Kate tenha feito uma Brazilian Butt Lift (cirurgia nas nádegas)! Talvez ela tenha uma franja horrível e esteja se escondendo até crescer! Talvez ela esteja ficando em forma depois de um longo período intertemporada da MLB (a liga de baseball nacional dos EUA)!”
Depois que se acreditou que a foto da princesa e seus três filhos no Dia das Mães foi alterada, e, posteriormente, retirada pelas agências de notícias, as coisas começaram a ficar mais sérias e mais confusas.
Os meios de comunicação britânicos, normalmente elogiosos a realeza, começaram a fazer perguntas mais incisivas. Os programas de TV americanos zombavam abertamente do que estava rapidamente se tornando uma bagunça real, até mesmo apresentando teorias que antes eram alimento exclusivo dos entusiastas da fofoca.
O alvoroço, as teorias, as análises, as piadas e, sim, a séria preocupação mostram a multiplicidade de formas como as pessoas interagem e veem a família real britânica.
“Intriga palaciana”
Não é difícil entender por que as pessoas estão tão envolvidas nesta peça dramática em particular. Afinal, isso é chamado de “intriga palaciana” por um motivo.
Nas redes sociais e nos fóruns – e, na verdade, mesmo antes da internet –, os observadores da realeza se reuniam para discutir quem está fazendo o quê, quem está de fora e quais os segredos mais interessantes.
“Eles levam vidas inatingíveis e pouco identificáveis, e ainda assim estive ciente deles durante toda a minha vida”, comentou Susan Graves.Esta foto sem data divulgada no domingo, 10 de março de 2024, pelo Palácio de Kensington mostra Kate, princesa de Gales, com seus filhos, o príncipe Louis, à esquerda, o príncipe George e a princesa Charlotte. As áreas circuladas parecem mostrar evidências de possível manipulação da imagem / Divulgação/Palácio de Kensington
A mulher de 40 anos se mudou de Birmingham, no Reino Unido, para os Estados Unidos há quase 20 anos e acompanha as notícias da realeza em sites como o Reddit, onde o subreddit (espécie de página) r/RoyalsGossip tem mais de 44 mil assinantes.
“Tenho idade suficiente para me lembrar de quando a princesa Diana morreu e de todo o escândalo e tristeza que aconteceu depois disso”, ressaltou à CNN.
“E agora, com tudo que está acontecendo com o príncipe Harry e sua esposa, as coisas mais sórdidas acontecendo com o príncipe Andrew, e o rei estando doente. É sempre alguma coisa”, adicionou.
Carly Wainsworth, uma americana de 28 anos que também acompanha as fofocas reais no Reddit e em outros lugares, afirmou à CNN que tudo parece resolver um mistério.
“Parece ficção, mas não é. É real o suficiente para ser real, se isso faz sentido. Então você adiciona coisas como uma imagem no Photoshop e não consegue deixar de ficar intrigado com o que está acontecendo”, ponderou.
Ela diz que até amigos que geralmente não se importam com a família real se inteiraram no drama com a princesa.
“Todo mundo adora um mistério. Muitas dessas pessoas acham divertido procurar pistas, adivinhar o que está acontecendo nos bastidores. É a mesma coisa que as pessoas fazem quando fofocam sobre pessoas que realmente conhecem.”
Tanto Graves quanto Wainsworth ressaltarm que séries como “The Crown” e controvérsias em torno de vários membros da família real influenciaram a maneira como as pessoas veem a monarquia.
Isso também devido ao tratamento dado pela mídia ao príncipe Harry e Meghan, Duquesa de Sussex, e às consequências do livro de memórias de Harry, o “Spare”, até assuntos mais sérios como as acusações contra o irmão do rei Charles, o príncipe Andrew, e até mesmo o interesse duradouro na vida e morte da princesa Diana.
“Não sei se é porque sou americano ou algo assim, mas presumo que eles estão sempre escondendo alguma coisa. Não [a família real] especificamente, apenas qualquer pessoa nesse tipo de posição”, comentou Wainsworth.
A plataforma de mídia social X agora possui grupos conhecidos como “comunidades”, e um chamado deles é o “where TF is Kate Middleton” que atraiu 4.400 membros prontos para usar seus chapéus de detetive.
“Kate está desaparecida e o Twitter está no caso! Junte-se a nós, entregue-se ao seu prazer culposo”, diz a descrição.
Vídeos e postagens no grupo descrevem histórias que podem superar qualquer thriller de mistério fictício. Por outro lado, também há trabalhos de Photoshop de Kate de mãos dadas com o eterno namorado celebridade Pete Davidson e piadas de que ela pode estar dando uma volta no reality show “The Masked Singer”.
Piadas internacionais
Uma coisa são os amantes de fofocas em casa mergulharem nas teorias da conspiração real, mas à medida que a ausência de Kate dos olhos do público aumenta, os meios de entretenimento e a mídia estão ficando mais ousados em suas especulações.
Em um episódio recente do programa The Late Show with Stephen Colbert, o apresentador Stephen Colbert alimentou abertamente rumores sobre a vida pessoal de Kate e William.
Em uma única linha, ele também resumiu o que tantas partes interessadas se sentem em relação à polêmica: a preocupação com Kate como pessoa, mas, ao mesmo tempo, uma fome por mais detalhes.
“Meu coração está com Kate. Agora vamos espalhar a fofoca quente!”, brincou.
O Daily Show zombou da polêmica da foto do Dia das Mães com um falso correspondente de Londres lendo uma lista de coisas que “também foram culpa de Kate”, incluindo a “colonização e toda aquela coisa do príncipe Andrew”.
Até o Aeroporto de Dublin entrou na brincadeira, publicando nas redes sociais uma imagem irônica do ator Cillian Murphy, ganhador do Oscar, obviamente com Photoshop, tirada pela sua nova “estagiária de mídia social Kate”.
Dissolução da confiança
Mais terrível do que a crescente rotina da comédia transatlântica é a aparente dissolução da confiança entre alguns meios de comunicação e a família real britânica.
Depois que Kate se desculpou pela imagem editada do Dia das Mães, o diretor global de uma das maiores agências de notícias e fotografia do mundo pontuou que o Palácio de Kensington, que divulgou a foto, não era mais considerado uma “fonte confiável”.
“Como acontece com qualquer coisa, quando você é decepcionado por uma fonte, o nível [de alerta] aumenta e temos grandes problemas internos”, explicou o chefe da agência AFP, Phil Chetwynd, à BBC em uma entrevista.
A Associação Britânica de Fotógrafos de Imprensa divulgou um comunicado pedindo para o Palácio de Kensington “disponibilizar as imagens originais para inspeção, para que possamos avaliar o que foi feito” e “garantir que isso não aconteça novamente”.
Membros da mídia britânica também começam a questionar abertamente a narrativa oficial da ausência de Kate. “Alimentar o frenesi por causa de Kate prova que a realeza deve ser mais transparente”, diz uma manchete recente do The Daily Mail, um meio de comunicação que geralmente é simpático em sua cobertura de notícias reais.
Resposta real não acalmou as coisas
Ao longo de toda a polêmica, as informações oficiais do Palácio de Kensington, que é a residência e escritório em Londres do Príncipe William e Kate, foram controversas.
Especialistas reais notaram que o palácio normalmente não responde a rumores sobre a família real, mas tomou a rara atitude de responder a relatos não confirmados sobre a condição de Kate.
Ao mesmo tempo, o palácio não respondeu aos pedidos de uma versão não editada da foto do Dia das Mães, nem forneceu mais informações sobre o paradeiro de Kate.
Mark Borkowski, especialista em relações públicas e comunicação de crise baseado em Londres, disse à revista People que a cultura de silêncio de longa data da família real britânica não está fazendo nenhum favor a eles quando se trata de reprimir conspirações sobre a ausência de Kate.
“A dificuldade agora é porque há tão pouca informação sobre o que está acontecendo com Kate, se eles fossem projetar que as coisas estão normais desta forma, com uma foto que agora é considerada falsa, é bastante contundente a dificuldade e a ruim tomada de decisão que está acontecendo”, destacou Borkowski.
Embora algumas vozes tenham apelado aos especuladores para dar alguma privacidade a Kate e à família real, e outras tenham sugerido explicações completamente razoáveis para o desaparecimento de Kate, o fato permanece: por uma razão ou outra, as pessoas se preocupam com a realeza.
E, como figuras de valor nacional, faz parte do seu dever serem cuidadosos.
“Em uma monarquia constitucional, onde reis e rainhas exercem pouco poder real, mas muito poder brando, a visibilidade é tudo”, escreveu Rosa Prince, vice-editora do Politico UK, para a CNN.
“Eles podem não ser capazes de aprovar leis, negociar tratados ou ordenar tropas para a batalha, mas a realeza britânica pode abrir supermercados, assistir a estreias e visitar os doentes. Sem isso, como diz a música do filme Barbie, para que foram feitos?”, questionou.
Créditos: CNN.