Segundo o depoimento prestado à Polícia Federal, o ex-comandante da Aeronáutica Carlos Almeida Baptista Júnior revelou que o ex-comandante do Exército, Freire Gomes, teria avisado que tomaria medidas para prender o então presidente Jair Bolsonaro, do PL, caso houvesse tentativa de implementação de um suposto golpe de Estado. Essa declaração foi registrada no depoimento de Baptista Júnior, ao qual a Folha teve acesso, no contexto do inquérito das milícias digitais. Este inquérito investiga a suposta tentativa de golpe discutida pelo ex-presidente e seus aliados após o segundo turno das eleições de 2022, visando impedir a posse de Lula, do PT.
“Depois de o presidente da República, Jair Bolsonaro, aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, por meio de alguns institutos previsto na Constituição (GLO ou estado de defesa ou estado de sítio), o então comandante do Exército, general Freire Gomes, afirmou que caso tentasse tal ato teria que prender o presidente da República”, disse o ex-comandante da FAB.
Baptista Júnior (Aeronáutica) relatou a ameaça de Freire Gomes (Exército) no mesmo contexto em que narrou como ele e o chefe do Exército se posicionaram contra o golpe, enquanto o então comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, colocou as tropas à disposição ao discutir as minutas apresentadas por Bolsonaro.
Além de indicar que Freire Gomes tentou convencer Bolsonaro a não utilizar as teses jurídicas de GLO (Garantia da Lei e Ordem), estado de sítio e estado de defesa, o então chefe da Aeronáutica disse a PF que ele mesmo avisou o ex-presidente que não apoiaria uma ruptura institucional.
“Em outra reunião dos comandantes das Forças com o então Presidente da República, o depoente deixou evidente a Jair Bolsonaro que não haveria qualquer hipótese do então presidente permanecer no poder após o término do seu mandato. Que deixou claro ao então presidente Jair Bolsonaro que não aceitaria qualquer tentativa de ruptura institucional para mantê-lo no poder”, disse ele.
O antigo chefe da FAB também mencionou a reação de Bolsonaro após ele deixar clara sua posição sobre a GLO, estado de sítio e estado de defesa, temas discutidos nas minutas apresentadas pelo círculo próximo do ex-presidente. Ele afirmou que o ex-presidente ficava assustado com isso.
As declarações de Baptista Júnior corroboram as de Freire Gomes, que informou à PF que apenas Garnier concordou com as ideias propostas nas versões das minutas golpistas discutidas com Bolsonaro.
Freire Gomes afirmou em seu depoimento que ele e o comandante da Aeronáutica se opuseram consistentemente aos planos golpistas em todos os momentos.
“Que ele e Baptista afirmaram de forma contundente suas posições contrárias ao conteúdo exposto. Que não teria suporte jurídico para tomar qualquer atitude. Que acredita, pelo que se recorda, que o almirante Garnier teria se colocado à disposição do presidente da República”, contou Freire Gomes.
Com informações da Folha de SP