foto: PF
Perícias feitas pela PF em computador de agente secreto demitido da Abin não conseguiram apontar culpa em vazamento de informação sigilosa
A Polícia Federal (PF) apreendeu o computador e o celular de um agente secreto demitido pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), em fevereiro, por suspeita de vazar uma informação sigilosa.
Até o momento, contudo, a perícia feita pela PF nos equipamentos não conseguiu concluir se o servidor em questão foi, de fato, o responsável pelo vazamento. A análise da principal prova, a foto de um monitor, intrigou os dois peritos que se debruçaram sobre o material. A coluna teve acesso ao inteiro teor da investigação.
O inquérito apura se o servidor Cristiano Ribeiro fotografou a tela de seu computador, na sede da Abin, para municiar uma reportagem sobre Flávio Bolsonaro e Alexandre Ramagem, então chefe da agência, em 2020.
Ao apontar um suposto desvio de finalidade na Abin, a matéria reproduzia um organograma detalhando os chefes de cada setor na agência. Por descuido, o agente secreto deixou aparecer uma parte da borda do computador. Veja, abaixo, o documento vazado e outros detalhes da investigação.
O procedimento administrativo disciplinar (PAD) aberto pela Abin usou o critério de exclusão para apontar o suposto autor do vazamento. Ribeiro e outros 18 servidores acessaram o organograma na caixa de e-mail, mas só Ribeiro, segundo a corregedoria, usava um monitor com características semelhantes à da foto.
“A espessura de borda lateral do monitor AOC, modelo M2470PWH, é compatível com a quantidade de borda visível na imagem vazada. Além disso, a forma contínua e texturizada do monitor é compatível com a da imagem analisada, inclusive quanto aos efeitos de difusão da luz na textura”, diz trecho do documento produzido pela corregedoria da Abin.
PF diz ser impossível atestar uso do monitor
A perícia da Polícia Federal, contudo, diz não ser possível garantir que o monitor que aparece na foto é o mesmo que, à época do vazamento, era usado por Ribeiro. A PF fez operações de busca e apreensão tanto na sede da Abin quanto na residência do agente, em Brasília.
Diz o laudo produzido por dois peritos da Polícia Federal ao comparar o computador de Ribeiro com o da imagem vazada:
“A borda lateral (ou moldura) do monitorretratada IMAGEM_QUESTIONADA é apenas parcialmente visível, não sendo possível atestar sua compatibilidade (ou incompatibilidade) com oMONITOR_QUESTIONADO apreendido em diversos aspectos relevantes, como dimensões, formato e textura.
Em especial, os efeitos de reflexão da luz na superfície da borda lateral no monitor retratado na IMAGEM não são passíveis de caracterização por fatores como contraste, resolução e artefatos de compressão”.
A PF continuou:
“Tanto o MONITOR_QUESTIONADOapreendido quanto o monitor retratado naIMAGEM_QUESTIONADA apresentam suas telas circunscritas a uma moldura lateral na cor escura. A moldura noMONITOR_QUESTIONADO apresenta pequeno relevo em relação ao plano da tela.
Em relação à IMAGEM_QUESTIONADA questionada, não é possível determinar se a correspondente moldura apresenta relevo em relação ao plano da tela por fatores como contraste, resolução e artefatos de compressão”.
Por fim, concluiu a PF:
“Levando-se em consideração o material encaminhado e os exames realizados, por meio da verificação das convergências e divergências observáveis entre os materiais confrontados, sua relevância e recorrência,os peritos concluem que as evidências obtidas nem suportam nem se contrapõem à hipótese de que o objeto de interesserepresentado na IMAGEM_QUESTIONADA é o objeto MONITOR_QUESTIONADOapreendido e apresentado como suspeito”.
Casa Civil
O procedimento administrativo disciplinar (PAD) aberto pela Abin culminou com a demissão de Ribeiro em fevereiro deste ano. Na esfera judicial, contudo, o caso segue aberto. E passados três anos do início do inquérito policial, instaurado em março de 2021, a PF ainda trabalha para concluir seu relatório final.
O caso corre em segredo na 12ª Vara Criminal da Seção Judiciária do Distrito Federal, que apura o crime de violação de sigilo funcional. Se a Justiça considerar que Ribeiro é inocente, o ex-servidor poderá anexar o processo a um pedido de readmissão feito à Casa Civil da Presidência da República.
coluna do Paulo Capelli – Metrópoles