A defesa de Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, afirmou que ele somente fornecerá esclarecimentos à Polícia Federal após ter acesso completo aos depoimentos do tenente-coronel Mauro Cid, bem como dos ex-comandantes Freire Gomes (Exército) e Baptista Junior (Aeronáutica).
Garnier, sujeito a um mandado de busca e apreensão, optou por permanecer em silêncio durante seu interrogatório na PF, ao contrário de Freire Gomes e Baptista Junior, que foram ouvidos em uma ocasião. Já Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, prestou quatro depoimentos. As investigações estão centradas em uma alegada tentativa de golpe de Estado, com a suposta participação do ex-presidente Jair Bolsonaro.
— Ele vai prestar todos os esclarecimentos quando tivermos acesso ao que os alvos falaram sobre ele — disse o advogado e ex-senador Demóstenes Torres, que defende o almirante.
Garnier foi implicado na suposta trama golpista na delação premiada de Mauro Cid. Ao ser apresentado ao plano golpista em uma reunião no Palácio da Alvorada, o almirante teria dito ao ex-presidente que a sua tropa estava pronta para atender a um chamamento do mandatário, segundo informações publicadas pela coluna de Bela Megale.
Em outubro do ano passado, Garnier também foi alvo de pedido de indiciamento no relatório da CPI do 8 de Janeiro pelos crimes de associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. A relatora da CPI, senadora Eliziane Gama (PSB-MA), afirmou no documento que ele “aderiu” ao plano golpista e “colaborou decisivamente” para o “desfecho” dos atos antidemocráticos, quando manifestantes invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes.
No dia em que foi deflagrada a operação, Garnier comentou a ação policial em uma mensagem enviada a pessoas próximas.
“Face a situação política de nosso país, fui acordado em minha casa hoje, às 6h15m da manhã, pela Polícia Federal. Estando acompanhado apenas do Espírito Santo, em virtude de viagem da minha esposa. Levaram meu telefone e papéis de projetos que venho buscando atuar na iniciativa privada. Peço a todos que orem pelo Brasil e por mim. Continuamos juntos na fé, buscando sempre fazer o que é certo, em nome de Jesus”, escreveu ele.
Convocados a depor pela Polícia Federal, a maioria dos militares alvos da operação optou por exercer o direito de permanecer em silêncio, seguindo o exemplo de Garnier. Essa tendência começou a mudar após os esclarecimentos fornecidos por Freire Gomes à PF na semana passada. De acordo com fontes familiarizadas com as investigações, o general implicou diretamente Bolsonaro na alegada trama golpista.
Nos últimos dias, o coronel e ex-assessor de Bolsonaro Marcelo Câmara e o tenente-coronel Ronald Ferreira de Araújo entraram com um pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando uma nova audiência. Os dois haviam optado por permanecer em silêncio quando foram intimados pela primeira vez.
“A defesa compreende que, após informes pela imprensa de que investigados teriam feito novos relatos, seria importante, mesmo com parcial conhecimento da acusação que há contra ele, esclarecer questionamentos de sua relação com Mauro Cid e os demais investigados, evitando especulações sobre sua participação, negada veemente em qualquer planejamento, ideia ou sugestão a abolição ao estado democrático de Direito”, informaram, em nota, os advogados João Carlos Dalmagro e Lissandro Sampaio, que representam Araújo.
Defensor de Câmara, o advogado Luiz Eduardo Kuntz disse ainda que, além de querer prestar esclarecimentos, ele está “aberto” a ouvir alguma proposta sobre colaboração premiada.
— A intenção é que ele seja ouvido, preste todos os esclarecimentos e demonstre estar contribuindo com a investigação. Se dessa contribuição for verificado, por parte de quem quer que seja, que é o caso de lhe oferecer qualquer tipo de benefício, estamos dispostos a ouvir a proposta que venha eventualmente a ser formulada a partir de suas declarações — disse ele.
Com informações de O Globo/EDUARDO GONÇALVES