Brasileiros que residem em Portugal e votaram nas eleições legislativas deste domingo (10) se depararam com um sistema de votação diferente do que estão acostumados no Brasil. Em Portugal, o voto é feito em cédula de papel, onde os eleitores marcam a opção do partido ou coligação desejada, ao contrário do sistema brasileiro de urnas eletrônicas, onde o voto é direto no nome do candidato. Essa experiência analógica causou estranhamento em muitos brasileiros, que precisaram se adaptar ao novo método de votação.
“Na primeira vez em que eu fui votar, eu ouvi dizendo ‘entupiu, entupiu’. Eu achava que fosse porque estava com muita gente e queriam que segurassem o fluxo de entradas, mas não. Tinha sido a urna que fisicamente entupiu com o papel”, diz o paulistano Gustavo Miller.
“A cédula é um papel A4 que você dobra em quatro e a urna é pequena, ela entope. Então tem de vir alguém com uma régua para soltar o papel para baixo”, afirma. Nas redes sociais, Miller chamou a atenção ainda para a divisão por ordem alfabética nas seções eleitorais, mostrando uma foto de uma fila formada apenas por pessoas chamadas Maria.
“Votei pela primeira vez em papel hoje e achei muito diferente. Não sabia nem dobrar a cédula”, diz a baiana Carolina Santos, que se naturalizou há cerca de dois anos.
Desde o começo do pleito, muitos portugueses também têm aproveitado para publicar imagens com o boletim de voto. Em Portugal pode-se fotografar e compartilhar registros das cédulas, no dia das eleições, desde que elas estejam em branco.
Ao contrário do Brasil, o voto em Portugal é facultativo. Por isso, muitos eleitores compartilham os registros como forma de tentar também encorajar a participação de seus conhecidos.
Até às 12h (9h de Brasília), 25,21% dos eleitores já tinham votado, o que representa um aumento de 1,94 ponto percentual em relação às últimas legislativas, em 2022. “Há um pequeno acréscimo. É sinônimo de maior participação. Vamos ver se ao longo do dia se mantém”, diz Fernando Anastácio, presidente da CNE (comissão Nacional de Eleições).
Para aqueles que ostentam a dupla cidadania portuguesa, como Gustavo e Carolina, as estatísticas oficiais os ignoram como brasileiros, contando-os apenas como parte do eleitorado luso. Essa falta de dados impede a quantificação precisa de brasileiros aptos a votar em Portugal.
Ainda assim, o número de passaportes portugueses concedidos a brasileiros nos últimos anos oferece uma pista sobre o tamanho desse eleitorado. Entre 2020 e 2021, mais de 107 mil brasileiros obtiveram a nacionalidade portuguesa, segundo o Ministério da Justiça.
As eleições deste domingo (10) foram convocadas após a queda do governo do premiê António Costa, que renunciou em novembro devido a um escândalo de corrupção envolvendo negócios na área de energia.
A coligação de direita AD (Aliança Democrática), liderada pelo PSD (Partido Social Democrata), liderava as pesquisas de intenção de voto. Uma pesquisa da Universidade Católica Portuguesa para o jornal Público, publicada na quinta-feira (7), mostrava a AD com 34% dos votos, seguida pelo PS (Partido Socialista), no poder desde 2015, com 28%. Em terceiro lugar, o partido de ultradireita Chega marcava 16%. A margem de erro era de dois pontos percentuais.
Com informações de Estado de Minas