O doutorando no Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola e do Ambiente na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em Porto Alegre, Beni Chaúque, de 35 anos, criou o protótipo de um sistema, enquanto realizava seu curso de mestrado na universidade gaúcha, que é capaz de desinfectar a água por iluminação solar, tornando-a potável.
O projeto, que agora está em processo de reconhecimento de patente, elimina bactérias e cistos de protozoários em até 90 segundos. Segundo o autor, que é natural de Moçambique, no sudeste do continente Africano, a técnica de desinfecção solar da água é habitual no meio científico e conhecida pela sigla em inglês ‘’SODIS’’ (solar water disinfection).
“O processo tradicional consiste em colocar um pouco de água não tratada em uma garrafa pet, que deve ficar sob o sol por, pelo menos, seis horas para matar todos os microrganismos e tornar a água novamente potável para ingestão. Tudo isso, graças ao calor e às radiações solares. Em dias nublados, com 50% de neblina, seria necessário expor a garrafa por ao menos dois dias para se ter 1,5 litro de água potável”, explicou o cientista que mora e estuda em Porto Alegre há cinco anos.
Modelo torna o processo mais rápido
No entanto, o volume de água obtido pela técnica já conhecida é relativamente pequeno, repetitivo e cansativo. Além do mais, em regiões de pobreza nem sempre há um número grande de garrafas ou recipientes disponíveis para a coleta da água.
Já o sistema criado por Beni tem um grande diferencial, pois aquece e esteriliza a água com os raios solares UV (refletidos por um conjunto de espelhos), trabalhando de maneira constante, por meio de uma bomba movida a energia solar, que possibilita alcançar um volume de água muito superior.
‘’O promissor protótipo poderá ser instalado no local de captação da água, ou seja, numa represa por exemplo, sem necessidade de energia elétrica. A SODIS em fluxo contínuo permite disponibilizar de 1 a 5 litros de água potável por minuto. ‘’Em 24h, teríamos, em média, 7 mil litros de água potável’’.
Outra vantagem é o custo do equipamento, que é relativamente baixo. ‘’Se produzirmos numa escala comercial, poderá custar, em média, R$ 2.500 e ajudar as pequenas comunidades menos favorecidas, que não têm acesso a água potável, tanto no Brasil como em Moçambique. No protótipo do teste, por exemplo, tratando 360 litros de água por dia, a estrutura pode custar R$ 1.800, com uma durabilidade média de até seis anos’’, disse o pesquisador.
Como é o protótipo?
O modelo desenvolvido por Beni consiste em dois tanques, um para aquecimento e outro para resfriamento da água não potável, além de uma tubulação pela qual a água passa, recebendo os raios solares UV. Também há um jogo de espelhos que direciona esses raios para os tubos onde a água está localizada.
‘’Como o sistema permanece em fluxo constante, a água vai passando em alta velocidade pelas tubulações e naturalmente vai sendo esterilizada. Assim o trabalho consegue ser feito em grandes volumes’’, explicou o cientista.
O novo equipamento para desinfectar água foi criado por Beni há pouco mais de um ano e meio e os próximos passos, além de patentear o produto, é elaborar um design mais arrojado, com novas configurações, para maximizar a quantidade de água produzida. O próximo objetivo, segundo ele, é para que o sistema produza de 800 a 1.000 litros de água por dia, em períodos de sol.
O pesquisador vai realizar novas experiências a partir do próximo verão, como, por exemplo, no tratamento de águas residuais, que são lançadas diretamente no esgoto e não recebem o tratamento sanitário. ‘’Nós queremos degradar com o equipamento resíduos de fármacos e agrotóxicos despejados na água, que atualmente é uma preocupação global’’, finalizou o cientista.