Divulgação Polícia Nacional do Paraguai
Fabio Dornaldo de Moraes Schultz, conhecido como “Gordinho” assaltou o cofre de uma associação de cambistas
A Polícia Nacional do Paraguai prendeu nesta quinta-feira (15) Fabio Dornaldo de Moraes Schultz, de 42 anos, conhecido como “Gordinho”. O brasileiro é apontado como líder de um assalto milionário contra doleiros paraguaios.
O crime ocorreu no dia 5 de fevereiro, em Ciudad Del Este, cidade paraguaia que faz fronteira com o Brasil.
Gordinho foi encontrado por agentes em uma região de mata em Capitán Bado, cidade paraguaia separada por apenas uma rua de Coronel Sapucaia, no Mato Grosso do Sul.
O homem estava desarmado, tentou fugir, mas foi capturado pelos agentes. O comparsa dele escapou.
Conforme as investigações, pelo menos US$ 20 milhões foram levados pelos bandidos do cofre da Associação dos Cambistas.
Para chegar ao cofre, os assaltantes escavaram um túnel de 180 metros de extensão e com um buraco de 70 cm de diâmetro. Segundo a polícia paraguaia, o grupo usou até material acústico para evitar ruídos e não chamar a atenção.
Também foram usados macacos hidráulicos, equipamentos de perfuração, inibidores de sinal e sensores de movimento. Autoridades paraguaias entraram no túnel para fazer uma perícia, mas suspenderam os trabalhos porque encontraram vários explosivos.
A Polícia Federal se juntou às investigações. O objetivo é apurar se houve uma participação de facções brasileiras no crime, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), que é uma das principais hipóteses, que teria passado um ano escavando o túnel.
O local contava com alarmes e sensores, mas houve cortes de energia no local que podem ter sido aproveitados pelos criminosos. O prédio usado para a preparação para o assalto foi alugado no final de 2022 e funcionava como um comércio de fachada durante o dia, e à noite recebia o grupo que fazia a escavação do túnel.
Investigadores afirmam que a maioria dos doleiros da Associação trabalham de forma clandestina e, por isso, apenas dois registraram denúncia na polícia. Os cambistas trocavam principalmente dólares, reais e guaranis, também havia a suspeita de que movimentavam dinheiro vindo do contrabando e do tráfico de drogas.
O roubo foi descoberto logo no início do dia, quando os primeiros cambistas chegaram e não conseguiram abrir a porta do local. Ao entrarem, descobriram que o cofre subterrâneo, local onde eram guardadas as bolsas utilizadas pelos cambistas, fora invadido por desconhecidos que escavaram um túnel com vários metros de extensão.
Para abrir o túnel, os criminosos utilizaram mantas acústicas que controlavam o barulho das obras no subterrâneo. Também foram usados equipamentos de perfuração, sensores de movimento, macacos hidráulicos e explosivos.
Atuação do PCC na fronteira
Em 2017, outro assalto também assombrou os moradores de Ciudad del Este. Um grupo com 50 homens armados com fuzis, metralhadoras e granadas explodiu a sede da transportadora de valores Prosegur. Foram levados pelo menos R$ 120 milhões da empresa.
Na fuga, o bando incendiou 15 veículos para dispersar a polícia. Um agente morreu.
Os explosivos usados danificaram casas próximas e uma concessionária de carros.
À época do crime, a Polícia Nacional do Paraguai também suspeitou de que o mega-assalto à Prosegur tenha sido executado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), tanto pelo modo de agir, quanto pelo contexto de expansão da facção brasileira no país vizinho.
Um ano antes, em junho de 2016, o PCC matou o traficante Jorge Rafaat Toumani, que era considerado como “o rei da fronteira” com o Brasil. Rafaat dominava o tráfico na divisa de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, com a cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero.
A morte do “rei da fronteira” abriu caminho para a organização paulista dominar a rota do tráfico entre Bolívia-Peru-Paraguai em direção ao Brasil.
Três tentativas
Em 15 anos, o empresário e traficante, que tinha 56 anos, sofreu três tentativas de assassinato.
Na ação em que culminou para a morte de Rafaat, foram usados armamentos antiaéreos e metralhadoras de uso exclusivo das Forças Armadas.
No momento da emboscada, Rafaat dirigia sua caminhonete blindada, escoltada por cerca de 30 seguranças, quando foi bloqueado por outro veículo em um cruzamento de Pedro Juan Caballero, na noite de 15 de junho de 2016.
Desse carro, partiram mais de 400 disparos de uma metralhadora .50, armamento usado em guerras para derrubar aeronaves.
Ao menos metade dos tiros atingiram o automóvel blindado e Rafaat morreu na hora.
Segundo o Ministério do Interior do Paraguai, órgão a quem a Polícia Nacional é subordinada, relataram que entre 30 e 40 veículos estavam na emboscada armada para assassinar Rafaat. Cada um tinha entre três e quatro mercenários.
Em 2018, o ex-militar carioca Sérgio Lima dos Santos, de 34 anos, apontado como o responsável por manusear a arma que matou o “rei da fronteira”, foi condenado no Paraguai a 35 anos de prisão pelo homicídio de Rafaat.
Ele foi preso logo depois do crime, após dar entrada num hospital da região.
Na chegada ao quartel, o carioca vestia um colete à prova de balas e um capacete. Santos, entretanto, vai cumprir a pena em outra penitenciária da capital paraguaia, Assunção, o presídio de Tacumbu.
Para as polícias paraguaia e brasileira, Santos é integrante do Comando Vermelho, liderado por Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
Beira-Mar, em áudio vazado, isentou o Primeiro Comando da Capital (PCC) de participação na execução de Rafaat.
No áudio, captado durante banho de sol no Presídio Federal de Porto Velho–RO, o homem apontado como líder do Comando Vermelho (CV) responsabiliza Gerson Palermo pelo crime. Palermo é apontado como um dos principais traficantes do país, e está foragido desde 2020, após ter sido beneficiado por decisão do desembargador do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul, Divoncir Schneider, que, durante plantão de feriado, autorizou que o condenado a 126 anos, fosse colocado em prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica.
Após sair da prisão, ele rompeu a tornozeleira e fugiu, sem deixar rastros.
Antes do crime, ele já tinha diversas passagens pela polícia do Rio.
Sérgio é apontado como gerente do tráfico na comunidade do Fogueteiro, em Santa Teresa, bairro da região central do Rio. Ele é investigado por associação ao tráfico, corrupção ativa e uso de entorpecentes. Sérgio chegou a ser preso no Rio, por roubo, em 1997.
A principal prova que levou à condenação do traficante foi um laudo pericial que comprovou que o DNA de Santos foi encontrado dentro do veículo Hilux usado pelos assassinos. Até hoje, o brasileiro é o único responsabilizado pelo crime.
Apesar de o caso não ter sido solucionado pelas autoridades paraguaias, a principal suspeita é que a morte de Rafaat tenha sido posta em prática pelas duas maiores facções brasileiras, o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), visando controlar a fronteira.