Quatro parafusos utilizados para fixar o painel que sofreu uma explosão em um avião da Alaska Airlines durante um voo em janeiro foram retirados, e aparentemente não foram recolocados, na fábrica da Boeing em Washington, de acordo com um relatório preliminar divulgado na terça-feira pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos Estados Unidos.
O painel, conhecido como plugue de porta, foi aberto para reparar rebites danificados na fuselagem da aeronave, conforme registros da Boeing. O relatório não especificou quem realizou a remoção desses parafusos responsáveis por manter o plugue de porta no lugar. No entanto, o conselho de segurança afirmou que parece que nem todos os parafusos foram reinstalados após a porta ser recolocada no avião, após o reparo dos rebites.
Como evidência, o conselho apresentou uma fotografia do plugue de porta depois de reinstalado, mas antes da restauração do interior da aeronave. Na imagem, é possível observar a ausência de três dos quatro parafusos da porta, e a localização do quarto parafuso está coberta com isolamento.
O relatório disse que a imagem foi anexada a uma “mensagem de texto entre a membros da equipe Boeing no dia 19 de setembro de 2023″. Os funcionários da Boeing “estavam discutindo a restauração interior depois que o retrabalho dos rebites foi concluído durante as operações do segundo turno naquele dia”, diz o documento. O conselho declarou que não há evidência de que o plugue tenha sido aberto novamente depois de deixar a fábrica da Boeing. O avião foi entregue para a companhia aérea Alaska Airlines no fim de outubro.
O documento intensifica o escrutínio sobre a Boeing, que tem lutado há semanas para conter as consequências do acidente, e levanta novas questões sobre se a empresa fez o suficiente para melhorar a segurança depois de dois acidentes fatais de aviões 737 Max 8 em 2018 e 2019. Também responde questões críticas sobre por que o plugue de porta se soltou logo depois de o voo 1282 da Alaska Airlines decolar do Aeroporto Internacional de Portland no Oregon.
Em um comunicado, o CEO da Boeing, Dave Calhoun, disse que “quaisquer que sejam as conclusões finais, a Boeing é responsável pelo que aconteceu”. “Um evento como esse não deve acontecer em um avião que deixa a nossa fábrica”, acrescentou. “Nós simplesmente devemos fazer melhor pelos nossos clientes e seus passageiros. Estamos implementando um plano abrangente para fortalecer nossa qualidade e a confiança de nossas partes de interesse.”
O conselho de segurança eliminou outras razões possíveis para a instalação incorreta do plugue de porta. A peça foi fabricada na Malásia, em março, e recebida em maio pela Spirit AeroSystems, uma fornecedora da Boeing em Wichita, no Estado do Kansas, que faz fuselagens do modelo Max, de acordo com o relatório.
Embora o conselho de segurança tenha dito que a Spirit detectou um problema pequeno com o “nivelamento da vedação” do plugue de porta, o relatório descobriu que esse problema não exigiu qualquer trabalho de fabricação adicional e que a Spirit não indicou nenhuma outra notificação de qualidade sobre a peça.
O porta-voz da Spirit Joe Buccino disse “nós permanecemos focados em trabalhar de perto com a Boeing e nossos órgãos reguladores na melhoria contínua de nossos processos e em encontrar os patamares mais altos de segurança, qualidade e confiabilidade”.
A fuselagem foi despachada para a Boeing em 20 de agosto e chegou à fábrica de Renton em 31 de agosto, conforme indicado no relatório. Ao chegar lá, os rebites danificados, normalmente utilizados para unir e fixar componentes em aeronaves, foram identificados em 1º de setembro. Após a remoção do tampão para acessar os rebites, os colaboradores da Spirit AeroSystems em Renton realizaram os devidos reparos.
Posteriormente, o avião foi entregue à Alaska Airlines, e entre 27 de novembro e 7 de dezembro, um sistema de internet Wi-Fi foi instalado em Oklahoma City. No entanto, a empresa responsável por esse trabalho, AAR, afirmou que modificou aproximadamente 60 aeronaves 737 Max 9 da Alaska Airlines sem a necessidade de remover o plugue da porta, de acordo com o documento.
O conselho de segurança destacou que a investigação em andamento visa esclarecer quais documentos foram utilizados para autorizar a abertura e o fechamento do plugue da porta. O incidente da Alaska Airlines provocou a suspensão temporária de alguns jatos Max 9 pela Administração Federal de Aviação (FAA), afetando os horários de voos por vários dias para a Alaska e a United Airlines, as duas principais companhias aéreas dos Estados Unidos que operam com esse modelo.
”Esse incidente nunca deveria ter ocorrido, e não pode acontecer novamente”, disse a FAA em um comunicado na terça-feira depois que o relatório do conselho foi divulgado. A FAA também limitou de forma indefinida os ambiciosos planos da Boeing de aumentar a produção de todas as aeronaves Max, mergulhando a empresa na incerteza.
A organização tinha a intenção de fabricar 42 aeronaves mensalmente neste ano e aumentar para 50 no próximo ano. Contudo, optará por manter a produção em 38 unidades, pelo menos por vários meses. Na semana passada, executivos da Boeing se recusaram a divulgar uma projeção financeira para o ano, justificando isso com o incidente ocorrido e a necessidade de priorizar a segurança.
Com informações de Estadão