O primeiro detido extraditado na Operação O Lobo de Wall Street desembarcou em Brasília por volta das 17h20 desta quinta-feira (1º/2) em um voo da companhia aérea TAP, procedente de Lisboa.
A operação, conduzida pela 9ª Delegacia de Polícia (Lago Norte), desvendou uma quadrilha criminosa sediada em Portugal que lesava vítimas no Brasil por meio do golpe dos falsos investimentos na bolsa de valores, conhecido como Ghost-Brokers.
Criminoso preso que tinha 'Lobo de Wall Street' como inspiração acaba de chegar ao Brasil pic.twitter.com/uli2d2luaS
— Diario do Brasil Notícias (@diariobrasil_n) February 2, 2024
O grupo utilizava o filme O Lobo de Wall Street como inspiração para enganar as vítimas, resultando em prejuízos que chegavam a atingir R$ 1 milhão.
Devido às investigações, o indivíduo chegou a ser incluído na lista de difusão vermelha da Interpol. Com os criminosos baseados em Lisboa, Portugal, os mandados de prisão foram executados naquele país.
Desde então, os detidos aguardavam os processos de extradição, que são conduzidos em processos separados sob a supervisão do Ministério da Justiça.
O preso foi encaminhado à ala federal do complexo da Papuda. Os demais envolvidos ainda permanecem em Portugal, aguardando as próximas ordens de extradição.
“Depois de quase um ano de investigação e muito trabalho, tivemos a satisfação de recepcionar um dos criminosos já na saída do avião. Não conseguimos recuperar todos os ativos desviados das milhares de vítimas espalhadas por todo o Brasil, mas que pelo menos elas possam ter um pouco de paz e a satisfação de que algo foi feito. Os responsáveis não saíram ilesos”, disse o delegado Erick Sallum.
Com apoio operacional da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), a 9ª Delegacia de Polícia (Lago Norte) cumpriu, em 7 de março de 2023, em Lisboa, Portugal, seis mandados de prisão preventiva com bloqueio de contas bancárias, sequestro de criptoativos e derrubada de sites. O chefe da quadrilha foi detido no Aeroporto de Frankfurt, na Alemanha, ao tentar fugir.
A polícia apurou que um tcheco morador de Lisboa montou um escritório de fachada em Portugal, registrado como empresa de publicidade. Contudo, a verdadeira atividade do negócio era vender falsos investimentos na bolsa de valores, por meio de empresas fantasmas de corretagem.
O call center da organização criminosa era distribuído em quatro sedes e empregava centenas de brasileiros, geralmente imigrantes ilegais. A contratação exclusiva desse público decorria, também, da necessidade de pessoas que falassem português fluente, pois o grupo assediava e buscava seus alvos apenas no Brasil.
Os contratados para trabalhar no escritório tinham a função de ligar para brasileiros e oferecer opções de investimento. Os investigadores verificaram que o grupo usava todo tipo de argumento para convencer as vítimas a entrar no mercado de valores e fazer aplicações que supostamente gerariam altas rentabilidades com garantia.
As vítimas enganadas começavam a investir nas ações indicadas pelos criminosos, mas, diferentemente do prometido, sempre perdiam tudo. Desesperadas, elas eram incentivadas a fazer novos investimentos, na esperança de reverter o prejuízo.
“Ocorre que os novos investimentos também geravam outras perdas, alimentando uma bola de neve. Depois de [fazerem as vítimas] perderem todas as economias e se endividarem ainda mais em bancos, quando não tinham mais um centavo para aplicar, os criminosos cortavam os contatos telefônicos, e elas ficavam sem ter a quem recorrer”, afirma o delegado Erick Sallum.
Lobo de Wall Street
O delegado à frente das investigações revelou que obteve diversas provas do ambiente que predominava na empresa. A figura de Jordan Belfort — O Lobo de Wall Street — era venerada. Em festas da empresa, havia grande ostentação de riqueza e premiações aos melhores “vendedores”.
Nos grupos de mensagens da empresa no WhatsApp, os “gerentes” encorajavam os “vendedores” a assistir ao filme estrelado por Leonardo Di Caprio e eram consistentemente orientados a adotar o mesmo comportamento. O lema da empresa era: “Pensem em vocês e em suas famílias, esqueçam as vítimas”.
Para ludibriar as vítimas brasileiras, os criminosos utilizavam aplicativos que ocultavam os números internacionais. Isso ocorria porque eles sabiam que ligar de telefones com esses códigos para assediar brasileiros teria baixa eficácia.
Ao simular números com o código de área 61, referente ao Distrito Federal, os suspeitos conseguiam fazer com que as vítimas atendessem à primeira ligação.
Adotando a mesma estratégia, agentes da Polícia Civil do Distrito Federal utilizaram o mesmo aplicativo escolhido pelos criminosos para simular números portugueses. Isso resultou no atendimento dos funcionários da empresa às chamadas da polícia, momento em que foram convocados para prestar esclarecimentos por meio de videoconferência.
Difusão vermelha
Após comprovada a fraude, a PCDF representou pela prisão preventiva dos líderes e pediu emissão de red notice à Interpol — o alerta de “difusão vermelha” autoriza a captura de pessoas em qualquer país conveniado e a publicação de fotos delas como “procurados”.
A Polícia Civil obteve o primeiro deferimento judicial desse tipo, envolvendo uma organização criminosa em plena atividade, representando um marco no sistema jurídico brasileiro.
Como resultado, todas as contas bancárias dos indivíduos relacionados, tanto dentro do território nacional quanto em exchanges (plataformas digitais de negociação) internacionais de criptomoedas, foram bloqueadas.
Os acusados enfrentam acusações que incluem fraude eletrônica, participação em organização criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. As penas associadas a esses crimes somam mais de 50 anos de prisão.
As informações são da coluna Na Mira/Metrópoles