A viagem do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), para assistir à final da Copa Libertadores em Lima, no Peru, ao lado de um advogado ligado ao caso Banco Master, reacendeu o debate sobre transparência e limites éticos no Judiciário brasileiro. O deslocamento, segundo revelou a imprensa, teria ocorrido em um jato particular de um empresário, em momento sensível de uma investigação que envolve o banqueiro Daniel Vorcaro, presidente do Banco Master, e gerou críticas de entidades como a Transparência Internacional.
O que está em jogo no caso Banco Master e na conduta de Dias Toffoli?
No centro da discussão está a combinação de três elementos: a presença de um ministro do STF em viagem com advogado de um investigado, o uso de aeronave privada de um empresário e a posterior imposição de sigilo rigoroso a um processo de interesse público. O caso Banco Master envolve o banqueiro Daniel Vorcaro, que chegou a ficar dez dias preso e é alvo de investigação por supostos ilícitos financeiros e operações atípicas.
A defesa de Vorcaro solicitou o sigilo do processo, pedido acolhido por Toffoli. Com a decisão, dados que antes podiam ser consultados livremente foram removidos, dificultando o acompanhamento público da tramitação. Além disso, o ministro determinou que novas diligências só podem ser realizadas com autorização prévia do STF, sob o argumento de possível envolvimento de autoridades com foro privilegiado.
Como a Transparência Internacional caracteriza o caso?
Na avaliação da Transparência Internacional, a viagem de Toffoli com o advogado de um dos presos no caso Banco Master representa um exemplo desse tipo de atuação, que coloca em risco a imagem de imparcialidade da Justiça.
Em nota pública, a organização afirmou que o lobby judicial se tornou uma “pandemia” no país e apontou ministros do STF como protagonistas de práticas consideradas incompatíveis com a função. O texto critica o recebimento de favores e benefícios indiretos, como viagens em jatos particulares, por magistrados que analisam processos de interesse desses grupos, o que, segundo a entidade, corrói a credibilidade do tribunal constitucional brasileiro. “Autoproclamados defensores da democracia, ministros nutrem o autoritarismo ao destruírem a credibilidade do tribunal constitucional brasileiro”, diz a Transparência Internacional na nota.
Quais são as críticas ao sigilo imposto por Dias Toffoli no caso Banco Master?
A ampliação do sigilo no caso Banco Master também foi alvo de reprovação por especialistas e entidades de controle. A Transparência Internacional classificou a medida como “extremamente grave” e cobrou, ao menos, a divulgação do despacho que justificou a decisão, considerado inédito pelo nível de restrição imposto.
A entidade argumenta que a ausência de acesso às razões formais enfraquece o controle social sobre o Judiciário e dificulta a avaliação da proporcionalidade da medida. Para pesquisadores em governança, esse tipo de sigilo profundo só se justificaria em hipóteses muito excepcionais, claramente fundamentadas e com revisão periódica. Veja a nota divulgada:
Extremamente grave. O lobby judicial se tornou uma pandemia no Brasil e os maiores responsáveis são juízes do STF, que se regalam de favores escusos e desmoralizam a Justiça.
— Transparência Internacional – Brasil (@TI_InterBr) December 7, 2025
Autoproclamados defensores da democracia, ministros nutrem o autoritarismo ao destruírem a credibilidade… https://t.co/NH4JhhrwrY
Qual é o papel do STF e do CNJ na análise da viagem e da integridade judicial?
Diante da repercussão, a Transparência Internacional pediu que o ministro Edson Fachin, recém-empossado presidente do STF e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), examine o episódio por meio do Observatório da Transparência e Integridade no Poder Judiciário. A iniciativa busca monitorar a conduta de magistrados, sobretudo em situações que possam indicar conflito de interesses.
Em termos institucionais, esse tipo de apuração pode envolver a análise de aspectos éticos e disciplinares da conduta de integrantes de cortes superiores. Entre os pontos que podem ser avaliados pelas instâncias de controle, destacam-se:
- verificação de eventual vantagem indevida recebida por magistrado;
- análise de possível conflito de interesses entre condutas privadas e decisões judiciais;
- avaliação da compatibilidade ética de encontros e viagens com partes interessadas em processos ativos;
- revisão de normas internas sobre transparência, agendas públicas e prestação de contas.
Quais são os impactos do sigilo e da crise de credibilidade?
O sigilo processual, em algumas situações, é instrumento legítimo para proteger dados sensíveis ou investigações em curso. No entanto, quando ampliado sem explicações públicas mínimas, pode ser interpretado como barreira ao escrutínio social e alimenta suspeitas sobre tratamento diferenciado a investigados economicamente poderosos.
No caso Banco Master, a retirada de informações do site do STF, somada à ausência de publicidade do despacho que reforçou o sigilo, alimentou dúvidas sobre a proporcionalidade da medida. Isso potencializa a percepção de que atores com maior poder econômico têm acesso privilegiado a autoridades e fragiliza a confiança nas decisões do tribunal.
FAQ sobre o caso Toffoli e Banco Master
- O que é lobby judicial na prática? É a atuação de advogados, empresários ou outros interessados que buscam influenciar magistrados fora dos canais formais do processo, por meio de encontros privados, favores ou benefícios indiretos.
- Viajar com advogado de parte interessada é ilegal? A legalidade depende das circunstâncias, mas órgãos de controle avaliam se houve vantagem indevida, quebra de imparcialidade ou violação de normas éticas e disciplinares.
- Por que a viagem em jato privado chama tanta atenção? Porque pode ser interpretada como benefício oferecido por agente econômico a autoridade pública, especialmente sensível quando há processos de interesse desse grupo em tramitação.
- O Observatório da Transparência no Judiciário pode punir alguém? O Observatório não pune diretamente, mas produz diagnósticos e recomendações que podem embasar apurações formais no CNJ ou em outras instâncias de controle.