O alerta da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sobre um possível “novo 8 de janeiro” recoloca em evidência o debate sobre a segurança do processo eleitoral, a confiança nas instituições e os riscos das chamadas “narrativas de ruptura” para a estabilidade democrática do país.
Qual o alerta da Abin no relatório?
No relatório, publicado nesta quarta-feira (3/12), a expressão “narrativas de ruptura” aparece como um dos focos centrais de atenção. São discursos que questionam de forma sistemática a legitimidade das eleições, das urnas eletrônicas e dos órgãos responsáveis pela condução do processo democrático, alimentados por desinformação, boatos e teorias conspiratórias.
Esses conteúdos costumam circular em redes sociais, aplicativos de mensagem e ambientes digitais fechados, onde encontram públicos predispostos à radicalização. Segundo a Abin, quando a confiança pública nas eleições é abalada, abre-se espaço para que tais discursos ganhem força e cheguem a grupos dispostos a agir de maneira violenta, em cenário semelhante ao que antecedeu os atos de 8 de janeiro de 2023.
Como a deslegitimação das instituições afeta as eleições de 2026?
A confiança no processo eleitoral é apontada como elemento central. A Abin descreve a deslegitimação das instituições democráticas como um processo gradual, que corrói a percepção de neutralidade e autoridade do Poder Judiciário, em especial a Justiça Eleitoral, bem como do Poder Legislativo e do Poder Executivo.
Quando parte do eleitorado passa a enxergar essas instituições como “parciais” ou “pouco confiáveis”, a credibilidade do sistema como um todo é afetada. Essa crise de confiança amplia a aceitação de narrativas de fraude, aumenta a disposição de rejeitar resultados eleitorais e eleva o risco de mobilizações que ultrapassem a esfera pacífica, contribuindo para um ambiente de instabilidade em 2026.
Qual o impacto das ameaças externas?
O relatório também destaca a atuação de movimentos extremistas internos e articulados internacionalmente. A Abin chama atenção para conexões transnacionais, em que grupos trocam táticas de propaganda, estratégias de manipulação da opinião pública e métodos de mobilização em fóruns e comunidades de difícil rastreio.
Segundo a agência, “atores estatais ou não estatais” podem ter interesse em fragilizar o processo eleitoral brasileiro. Entre os objetivos estariam minar a confiança nas instituições, influenciar resultados por meio de desinformação e favorecer agendas geopolíticas ou econômicas, inclusive com campanhas digitais anônimas e possíveis interferências cibernéticas. “Atores estatais ou não estatais podem ter altos incentivos para promover ações de desestabilização do processo eleitoral, minando a confiança nas instituições, influenciando resultados e favorecendo interesses geopolíticos e econômicos próprios”, diz o documento.
Como a Abin atua para prevenir um novo 8 de janeiro?
A Agência Brasileira de Inteligência assessora diretamente a Presidência da República com informações estratégicas, atuando em áreas como segurança de fronteiras, narcotráfico, terrorismo, cibersegurança e proteção das instituições democráticas. Em anos eleitorais, intensifica o monitoramento de riscos ao ambiente político e institucional.
No campo eleitoral, a Abin trabalha com análise de dados, relatórios sigilosos e acompanhamento de movimentos que indiquem risco de desestabilização. Utiliza técnicas de contraespionagem e operações discretas para identificar articulações internas e externas, buscando antecipar ameaças e reduzir a probabilidade de ações concretas contra o sistema democrático.
Quais são os principais riscos identificados pela Abin?
Segundo o relatório, a combinação entre desinformação, descrédito institucional e radicalização pode criar condições para novos episódios de instabilidade. A agência ressalta que as ameaças não se limitam a manifestações de rua, mas incluem também ações invisíveis ao grande público.
Nesse contexto, a Abin lista possíveis vetores de risco que merecem atenção especial das instituições responsáveis pela segurança e pela condução do processo eleitoral:
- Disseminação coordenada de conteúdos falsos ou distorcidos sobre urnas e resultados;
- Campanhas digitais anônimas que promovam ataques às instituições democráticas;
- Atuação de grupos extremistas com potencial de mobilização violenta;
- Interferências cibernéticas que afetem sistemas de informação ou gerem pânico;
- Articulações transnacionais para compartilhar métodos de desestabilização política.
FAQ sobre o 8 de janeiro e a atuação da Abin
- O que foi o 8 de janeiro de 2023? O 8 de janeiro de 2023 marcou atos de invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília, realizados por grupos inconformados com o resultado das eleições de 2022.
- Como o cidadão pode identificar desinformação sobre eleições? Uma forma básica é verificar a fonte, checar em veículos confiáveis, desconfiar de mensagens alarmistas e evitar repassar conteúdos sem confirmação em canais oficiais.
- A Abin pode interferir diretamente no resultado das eleições? A atribuição da Abin é produzir inteligência e subsidiar decisões do Executivo. A condução do processo eleitoral é de responsabilidade da Justiça Eleitoral, especialmente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs).
