Uma decisão recente do Poder Judiciário reforçou a tolerância zero contra abusos cometidos por operadoras, condenando uma empresa de telefonia a indenizar um consumidor em R$ 10 mil. O motivo da sentença foi a persistência de cobranças por serviços nunca contratados, culminando na inclusão indevida do nome do cliente nos órgãos de proteção ao crédito.
Esse tipo de condenação por danos morais serve como um alerta para o mercado e um precedente favorável para milhares de brasileiros. Quando a falha na prestação de serviço ultrapassa o mero aborrecimento e atinge a honra ou o crédito do cidadão, a Justiça entende que há dever de reparar financeiramente.
O que configura o dano moral nesses casos?
Nem toda conta errada gera indenização automática de alto valor, mas a situação muda quando ocorre a chamada negativação indevida. Se o consumidor tem seu CPF enviado para o Serasa ou SPC por uma dívida que não existe, o dano é considerado in re ipsa, ou seja, presumido, sem necessidade de provar prejuízo financeiro adicional.
A jurisprudência atual entende que o “desvio produtivo”, tempo que a pessoa perde tentando resolver o problema via call center sem sucesso, também pesa na fixação do valor. A insistência da operadora em cobrar mesmo após avisos de cancelamento agrava a penalidade imposta pelo juiz.
Como contestar faturas e recorrer legalmente?
A organização das provas é a arma mais forte do consumidor contra as gigantes do setor de telecomunicações. O primeiro passo é sempre tentar a via administrativa, anotando rigorosamente todos os protocolos de atendimento gerados durante as ligações.
Se o contato direto com a operadora falhar, o caminho segue para a agência reguladora e, posteriormente, para o tribunal. Veja a ordem recomendada de ações para blindar seu direito:
- SAC da Operadora: Conteste a fatura e exija a gravação da chamada; anote o protocolo, data e hora.
- Ouvidoria: Se o SAC não resolver em 5 dias, acione a ouvidoria da empresa com o protocolo anterior.
- Anatel ou Consumidor.gov: Registre uma reclamação oficial online; as empresas costumam responder mais rápido nessas plataformas para evitar multas.
- Juizado Especial Cível (JEC): Caso a cobrança persista ou seu nome seja sujo, ingresse com ação (sem necessidade de advogado para causas até 20 salários mínimos).
Quais os tipos comuns de fraudes e erros em faturas?
Muitas vezes, a cobrança abusiva vem disfarçada de pequenos lançamentos que passam despercebidos na soma total. Outras vezes, trata-se de fraude grosseira ou clonagem de dados para abertura de linhas piratas em nome de terceiros.
A tabela a seguir expõe as irregularidades mais frequentes encontradas nas contas de celular e internet:
| Tipo de Irregularidade | Como Identificar | Ação Recomendada |
|---|---|---|
| Serviços de Valor Agregado (SVA) | Taxas de antivírus, jogos ou horóscopo não solicitados. | Pedir cancelamento e reembolso em dobro. |
| Linha Fantasma | Cobrança de um número desconhecido no seu CPF. | Boletim de Ocorrência por fraude imediato. |
| Multa de Fidelidade Indevida | Cobrança após 12 meses ou falha na qualidade do sinal. | Contestar com base na resolução da Anatel. |
| Cobrança pós-cancelamento | Faturas chegando meses após o encerramento do contrato. | Exigir o comprovante de quitação anterior. |
Qual o direito à devolução em dobro?
O Código de Defesa do Consumidor (CDC) é claro em seu artigo 42: quem é cobrado indevidamente e paga a conta tem direito a receber o valor igual ao dobro do que pagou em excesso. Esse ressarcimento deve ser acrescido de correção monetária e juros legais.
Para exercer esse direito, é essencial não apenas contestar, mas guardar o comprovante de pagamento da fatura errada. É este documento que materializa o prejuízo financeiro e obriga a empresa a aplicar a repetição do indébito.
Revise suas últimas três faturas agora mesmo e verifique se há serviços “extras” consumindo seu saldo silenciosamente.
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Lições para proteger seu CPF
- Monitoramento constante: Consulte regularmente a situação do seu CPF nos birôs de crédito para identificar dívidas desconhecidas precocemente.
- Guarda de documentos: Mantenha os protocolos de cancelamento salvos por pelo menos cinco anos.
- Ação rápida: Ao notar uma cobrança indevida, não espere o próximo mês; a demora pode dificultar a comprovação do erro sistêmico.