A história recente da BR-381, entre Belo Horizonte e Governador Valadares, mostra como uma estrada pode virar símbolo de perigo e, ao mesmo tempo, de expectativa por mudança, deixando para trás décadas de apelido pesado como “rodovia da morte” e entrando em uma fase de reformas profundas para se tornar um corredor mais seguro e moderno.
Por que a BR-381 ficou conhecida como rodovia da morte?
A BR-381 ganhou fama nacional pelo alto número de acidentes em pouco mais de 300 km de extensão. Em 2023, foram 2.641 ocorrências e 171 mortes, envolvendo caminhões carregados, ônibus cheios e carros de passeio em uma pista simples e sinuosa.
As curvas de serra, acostamentos estreitos e o fluxo intenso de carga agravam o cenário, especialmente em dias de chuva. Pequenos erros de direção acabam se transformando em colisões frontais, tombamentos ou engavetamentos, alimentando um histórico de interdições e tragédias ao longo do ano.
Quais são os principais números de acidentes na BR-381?
Entre 2018 e 2023, a Polícia Rodoviária Federal registrou 3.960 acidentes e 420 mortes apenas no trecho entre Belo Horizonte e Governador Valadares. Tudo isso em uma estrada projetada nas décadas de 1950 e 1960, para um volume de tráfego muito menor.
Em 2024, foram 169 vítimas fatais em toda a BR-381, com 37 atropelamentos, 31 saídas de pista e 28 colisões frontais. A falta de passarelas, a drenagem precária, a visibilidade ruim em trechos de serra e episódios marcantes, como o acidente múltiplo de 2009 e o tombamento do ônibus de torcedores do Corinthians em 2023, reforçam a alta gravidade desses dados.
Como começou a transformação da BR-381 em uma rodovia mais segura?
Após anos de promessas e leilões frustrados, a virada começou em 22 de janeiro de 2025, com a assinatura da concessão de 303,4 km para a empresa Nova 381, do grupo 4i Investimentos. O contrato, de 30 anos, prevê cerca de R$ 10 bilhões em investimentos em um trecho que atende 24,7 mil veículos por dia.
Nos primeiros 100 dias, o foco foi estabilizar a via: 32 mil toneladas de asfalto foram aplicadas e 30 km de pavimento restaurados, além de limpeza de sinalização e desobstrução de drenagens. O objetivo inicial é melhorar a fluidez e reduzir riscos imediatos, enquanto os projetos de duplicação e expansão são detalhados e preparados para execução.
Quais obras e melhorias estão previstas para a BR-381?
O pacote de obras previsto vai muito além do recapeamento e busca atacar as causas mais recorrentes de acidentes graves. Entre duplicações, faixas adicionais e intervenções urbanas, a meta é reduzir colisões frontais, conflitos de tráfego e pontos críticos de travessia de pedestres.
Entre as principais melhorias planejadas para os próximos anos, destacam-se:
- Duplicação de 28 km antigos e construção de cerca de 90 km de novas pistas duplas.
- Implantação de 82 a 83 km de faixas adicionais em subidas críticas e 10 km de vias marginais urbanas.
- Construção de 20 passarelas para pedestres, 166 pontos de ônibus e uma rampa de escape para veículos pesados.
- Duplicação entre Belo Horizonte e Caeté sob responsabilidade do DNIT, com licitação prevista para 31 km e reassentamento de cerca de 1.750 famílias.
- Meta de queda expressiva na severidade dos acidentes, apoiada em estudos que apontam forte redução de colisões graves em trechos duplicados.
Por que a BR-381 é tão importante para Minas Gerais e para o Brasil?
Apesar do histórico trágico, a BR-381 é um eixo logístico fundamental para o escoamento de minério, aço e produtos agrícolas de Minas Gerais em direção a São Paulo e a outras regiões. Esse papel estratégico explica o grande volume de caminhões e a pressão social por obras duradouras.
Além de conectar o Vale do Aço, o leste mineiro e a Região Metropolitana de Belo Horizonte, a rodovia corta cidades que cresceram coladas à pista, ampliando travessias de pedestres, acessos irregulares e riscos de atropelamento. A fama de “rodovia da morte” é conhecida por caminhoneiros de todo o país, o que torna sua transformação em referência de segurança um tema acompanhado de perto por moradores, usuários e especialistas em infraestrutura viária.