O caso da cassação de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) segue gerando repercussão em Brasília e entre apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Um dia após a Câmara dos Deputados oficializar a perda de mandato por faltas, o agora ex-parlamentar usou uma live nesta sexta-feira (19/12) para criticar duramente o próprio partido, o PL, e a condução do processo pela Mesa Diretora, presidida por Hugo Motta (Republicanos-PB), expondo tensões internas na legenda e levantando debates sobre disciplina partidária, estratégia política e o papel da oposição na Câmara.
Por que Eduardo Bolsonaro responsabiliza o PL por sua cassação?
Na live, o ex-deputado afirmou que só está sem mandato porque Hugo Motta, “de maneira inédita”, não aceitou sua indicação para líder da Minoria na Câmara após a renúncia de Caroline de Toni (PL-SC), em setembro, o que teria mudado toda a dinâmica de proteção política e regimental.
Segundo Eduardo, a recusa em reconhecê-lo como líder da Minoria foi decisiva, pois a liderança permitiria outra lógica de presença e atuação política, inclusive com maior margem para atividades externas. Ele sustenta que essa escolha da Mesa, com aval de dirigentes do PL, revela uma combinação de cálculos políticos e uso seletivo de critérios regimentais, indo além de uma simples questão de assiduidade formal. Veja o pronunciamento do parlamentar em suas redes sociais:
Acabaram de cassar o nosso mandato. Valeu a pena? pic.twitter.com/ehuaMFmFa9
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) December 19, 2025
Quais são os argumentos sobre presença remota e dever parlamentar?
Hugo Motta justificou, à época, que um parlamentar fora do país não poderia exercer a função de líder nem o mandato de forma regular, o que, na visão da Mesa, inviabilizaria a escolha de Eduardo para o posto. A cassação se baseou nas ausências reiteradas desde o início do autoexílio nos Estados Unidos, entendidas como descumprimento do dever parlamentar e motivo para perda de mandato.
Eduardo Bolsonaro rebateu esse entendimento, argumentando que não caberia ao presidente da Câmara verificar se ele está nos Estados Unidos, em seu estado de origem ou em sua cidade natal, e que a presença é um ato político sob responsabilidade da liderança. Esse conflito de interpretação alimenta a narrativa de que a cassação de Eduardo Bolsonaro foi, em parte, resultado de escolhas políticas, e reacende o debate sobre limites e possibilidades do exercício remoto do mandato e de cargos de liderança.
Quais críticas Eduardo Bolsonaro faz ao PL e à Mesa Diretora?
Além de focar na cassação de Eduardo Bolsonaro, o ex-parlamentar direcionou críticas ao funcionamento da Mesa Diretora da Câmara e às escolhas internas do PL. Ele mencionou o papel do deputado Antônio Carlos Rodrigues (PL-SP), primeiro suplente da Mesa, que assinou os atos de cassação tanto dele quanto de Alexandre Ramagem (PL-SP), apontando que o colega só ocupa essa posição por indicação antiga do partido.
Em tom crítico, Eduardo afirmou que o PL poderia ter indicado “pessoas muito mais honradas” para a suplência da Mesa Diretora e citou o adiamento, em agosto, de uma eventual expulsão de Antônio Carlos, mesmo após elogios ao ministro do STF Alexandre de Moraes e críticas ao ex-presidente americano Donald Trump. Para ele, quando o partido não “risca o chão” e não define claramente suas linhas de atuação, tende a se transformar em um partido de Centrão, sem perfil ideológico nítido e vulnerável a conflitos internos sobre fidelidade e alinhamento.
Quais possíveis desdobramentos políticos?
Os desdobramentos imediatos envolvem a situação interna do PL, o futuro político de Eduardo Bolsonaro e o papel da Câmara na condução de casos semelhantes. No partido, cresce a pressão por uma definição sobre Antônio Carlos Rodrigues e por sinais de unidade em torno do bolsonarismo, enquanto outras siglas de direita observam o cenário para ocupar eventuais espaços deixados pelo PL.
Para facilitar a compreensão dos cenários possíveis, é útil observar os principais eixos de impacto deste episódio, que vão desde a reorganização interna do partido até o debate sobre regras de mandatos em contexto de atuação internacional.
- Internamente no PL: aumento da disputa entre alas ideológicas e pragmáticas, com risco de rachas regionais.
- Futuro de Eduardo Bolsonaro: uso do discurso de perseguição e do autoexílio como capital político para futuras campanhas.
- No Congresso: pressão para clarear regras sobre presença física, liderança remota e aplicação de sanções por faltas.
- Na direita brasileira: reacomodação de lideranças e partidos em busca de protagonismo no campo bolsonarista.
FAQ sobre o caso Eduardo Bolsonaro e o PL
- Eduardo Bolsonaro pode voltar a disputar eleições? Em regra, a cassação por faltas não gera automaticamente inelegibilidade permanente. A possibilidade de nova candidatura depende do teor final da decisão, de eventuais recursos e de como a Justiça Eleitoral enquadrar o caso.
- O autoexílio nos Estados Unidos foi formalizado de alguma forma? O termo “autoexílio” é usado de maneira política, não jurídica. Não há registro oficial de exílio, mas sim a permanência prolongada fora do país, o que impactou a presença em sessões na Câmara e alimentou a controvérsia sobre exercício do mandato à distância.
- Alexandre Ramagem foi cassado pelas mesmas razões? O ato assinado por Antônio Carlos Rodrigues também alcançou Alexandre Ramagem, porém cada caso possui fundamentação própria e segue ritos específicos, ainda que alguns documentos tenham sido formalizados em conjunto pela Mesa Diretora.
- O PL pode mudar a indicação para a Mesa Diretora imediatamente? A troca depende de regras internas da Câmara e dos acordos partidários que definiram a composição da Mesa. Qualquer alteração passa por negociações entre bancadas e lideranças e tende a refletir o peso político das correntes em disputa dentro do PL.