Um clima de tensão e apreensão tomou conta do Palácio do Planalto nos últimos dias. O motivo é o avanço das investigações sobre fraudes bilionárias no INSS, conduzidas com autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, indicado ao cargo ainda no governo de Jair Bolsonaro. As apurações já começaram a atingir pessoas ligadas ao atual governo, o que provocou pânico entre auxiliares diretos de Lula e acendeu o alerta vermelho na articulação política do Executivo.
Fontes do próprio entorno presidencial admitem que a amplitude das operações e o perfil independente de Mendonça preocupam o Planalto. Diferente de outros ministros considerados próximos à base governista, Mendonça não mantém alinhamento político com o governo e tem adotado postura técnica e firme nas autorizações judiciais. Integrantes do governo veem no movimento uma espécie de “reedição da Operação Lava Jato”, com potencial para gerar uma nova onda de delações e denúncias que podem respingar no núcleo político do PT e em aliados da Esplanada.

De acordo com bastidores da Corte, ministros do Supremo foram discretamente consultados por interlocutores do governo sobre possíveis formas de conter o avanço das investigações. O temor é que a ofensiva judicial saia do controle e volte a abalar a imagem do governo Lula, que ainda tenta recuperar credibilidade após escândalos envolvendo o INSS, o Bolsa Família e contratos de estatais.
O gabinete de André Mendonça, no entanto, tem sinalizado que as operações continuarão com “força total”, sem interferência política. Um assessor próximo ao ministro afirmou reservadamente que “Mendonça está com sangue nos olhos” para punir todos os envolvidos, sem distinção de partidos ou cargos.
Nos bastidores, líderes governistas tentam convencer o presidente Lula a agir com cautela e evitar ataques públicos ao ministro, temendo transformar o episódio em um confronto direto entre o Executivo e o ministro, algo que poderia fortalecer ainda mais a imagem de independência de Mendonça.