O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu a devolução de seu voto no julgamento que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros réus por suposta tentativa de subversão da ordem democrática. O pedido foi feito após a conclusão do julgamento, com a justificativa de “ajustes de redação”, mas o ato acabou interrompendo o cronograma interno da Corte e pode adiar a publicação do acórdão, etapa essencial para o início dos prazos recursais da defesa.
O gesto de Fux, embora comum no meio jurídico, tem repercussão política direta: sem a publicação do acórdão, a decisão ainda não é formalmente concluída, e a tramitação de recursos fica suspensa. Na prática, isso pode postergar a conclusão do caso por meses ou até anos, dependendo do tempo que o ministro levar para devolver o texto revisado.
Revisão sem prazo
Diferente do pedido de vista (que, desde 2022, tem prazo regimental de 90 dias), a revisão de voto após o julgamento não tem qualquer limite de tempo estabelecido no Regimento Interno do STF. O ministro pode manter o processo sob análise enquanto considerar necessário para ajustes técnicos ou de redação.
Enquanto isso, o acórdão, documento que consolida os votos e fundamentações de todos os ministros, permanece pendente de publicação. Somente após essa publicação é que a defesa de Bolsonaro poderá apresentar recursos, como embargos de declaração ou outras medidas cabíveis.
Impactos no cronograma da Corte
Nos bastidores do Supremo, a devolução do voto causou incômodo entre ministros que defendiam acelerar a tramitação do processo para pacificar o tema antes do calendário eleitoral de 2026. Com a devolução de Fux, o cronograma interno da Secretaria Judiciária precisará aguardar o retorno do voto revisado para consolidar o acórdão final.
A decisão também atinge o planejamento da Corte em outros julgamentos que dependem da conclusão desse caso como precedente, especialmente em ações relacionadas à inelegibilidade e condutas de autoridades durante o período pós-eleitoral de 2022.
Possível efeito em cadeia
Fontes ligadas ao Supremo afirmam que, embora o pedido de Fux tenha sido motivado por ajustes formais, o efeito prático é inevitável: qualquer demora no acórdão suspende automaticamente os prazos processuais.
Em outras ocasiões, revisões de votos já atrasaram a publicação de decisões importantes por períodos que variaram de quatro meses a mais de um ano, sem que houvesse sanção regimental.
Sem previsão de devolução
Até o momento, o gabinete do ministro Luiz Fux não informou prazo para a devolução do voto revisado. A Secretaria de Comunicação do STF limitou-se a confirmar que o processo “aguarda ajustes finais de redação”.
Enquanto isso, o julgamento de Bolsonaro permanece tecnicamente inconcluso, apesar de a votação ter sido finalizada e o resultado amplamente divulgado.
A situação reacende um debate antigo dentro da Corte: a ausência de prazos formais para revisões internas e a dependência da agenda individual de cada ministro. Na prática, um simples pedido de revisão pode paralisar por tempo indeterminado o andamento de um caso, mesmo após a decisão colegiada já ter sido proferida.
Por Júnior Melo