No cenário jurídico brasileiro atual, um projeto de Código Civil proposto pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) tem gerado intensos debates acerca de seus possíveis efeitos no sistema de justiça. Especialistas da área têm expressado preocupações sobre como este novo código pode ampliar perigosamente o poder dos juízes, ao mesmo tempo em que desafia os conceitos tradicionais de família e segurança jurídica em diversas esferas do Direito. A questão central gira em torno da utilização excessiva de definições vagas e contradições internas que podem proporcionar uma ampla margem de interpretação para os tribunais.
Segundo informações da Gazeta do Povo, Judith Martins-Costa, uma respeitada civilista, adverte que o projeto parece ter sido elaborado com foco nos juízes em vez dos cidadãos. Ela destaca que o documento contém não só contradições e erros técnicos, mas também uma vasta quantidade de conceitos que não são juridicamente precisos. Segundo ela, isso pode levar a uma exacerbação do já elevado nível de judicialização no Brasil, transformando o processo jurídico em um campo fértil para decisões arbitrárias.
Quais os riscos de uma margem interpretativa ampla?
 
A advogada Katia Magalhães enfatiza que a transferência de poder legislativo para o judiciário implícita neste projeto é preocupante. A presença de termos como “prosperidade” e “função social” sem definições claras pode validar um ativismo judicial desmedido, permitindo que a legislação seja moldada de acordo com as decisões individuais de juízes. Este cenário de “juristocracia” suscita preocupações sobre a consistência e previsibilidade das decisões judiciais.
Na prática, Magalhães alerta que tal cenário poderia transformar a função legislativa em uma mera formalidade, uma vez que o conteúdo das normas seria determinado caso a caso pelos magistrados. Isso não só comprometeria a consistência das leis, como também criaria um ambiente onde o casuísmo prevaleceria, minando o conceito fundamental de uma legislação uniforme e previsível.
Como o Novo Código afeta o direito de família?
Segundo informações do jornal, no campo do Direito de Família, o projeto apresenta definições preocupantes, como no artigo referente à perda de herança por “ofensa psicológica” ou “abandono afetivo”. Tais termo, sem especificações claras, podem ser interpretados de maneiras variadas por diferentes juízes, gerando insegurança e incerteza quanto às decisões judiciais. Essa flexibilidade interpretativa poderia resultar em uma aplicação desigual da lei, dependente das perspectivas individuais de cada magistrado.
Venceslau Tavares Costa Filho, professor de Direito Civil, observa que o projeto promove uma “hiperinflação de termos vagos”, o que conferiria aos juízes a responsabilidade de criar a lei a partir das suas interpretações dessas expressões indeterminadas. Essa tendência reforça o ativismo judicial e aumenta os riscos de insegurança jurídica, já que a clareza e a previsibilidade são fundamentais para a estabilidade legal.
Quais os impactos da linguagem jurídica?
 
A linguagem jurídica precisa ser precisa e compartilhada para limitar litígios e fomentar a confiança no sistema legal. Judith Martins-Costa enfatiza que, para evitar conflitos, os termos utilizados no direito devem ser bem definidos. No entanto, o projeto apresentado parece se afastar desse princípio ao adotar uma abordagem que pode resultar em um aumento significativo no número de disputas judiciais.
A ausência de definições claras no projeto não apenas desafia a clareza da comunicação legal, mas também ameaça a função da legislação como ferramenta de segurança jurídica e proteção dos direitos. Ao ampliar excessivamente a margem interpretativa, corre-se o risco de fazer do Código uma coleção de conceitos maleáveis, comprometendo sua eficácia como instrumento normativo.
Quais os próximos passos?
O novo projeto de Código Civil suscita uma discussão importante sobre o equilíbrio entre o poder legislativo e judiciário no Brasil. Embora se reconheça a necessidade de reformas e atualizações na legislação civil, o caminho escolhido deve priorizar a clareza, a consistência e a previsibilidade nas leis. A delegação excessiva de interpretação aos juízes, como apontado pelos especialistas, pode comprometer esses objetivos, reforçando a necessidade de um debate amplo e cuidadoso antes de sua eventual aprovação.
Diante desses desafios, cabe aos legisladores considerar cuidadosamente como cada mudança proposta impactará o equilíbrio entre as instituições, assegurando que o Código Civil continue a servir como um pilar da segurança jurídica e proteção dos direitos dos cidadãos.
FAQ sobre o projeto de Código Civil
- Quem propôs o projeto de novo Código Civil que está sendo debatido? O projeto foi proposto pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
- Qual é a principal crítica feita pela civilista Judith Martins-Costa sobre o foco do projeto? Ela adverte que o projeto parece ter sido elaborado com foco nos juízes em vez de nos cidadãos.
- O que o professor Venceslau Tavares Costa Filho afirma que o projeto está promovendo? Ele observa que o projeto promove uma “hiperinflação de termos vagos“, o que confere aos juízes a responsabilidade de criar a lei a partir de suas interpretações.
 
 
