O impacto das políticas comerciais internacionais atinge diretamente pequenos produtores brasileiros, que dependem de exportações para sustentar seus negócios. A empresária Daniele Alkmin, por exemplo, que comanda a pequena exportadora Agrorigem em Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais, viu seus planos virarem de cabeça para baixo com as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Para ela, que construiu ao longo de dez anos uma relação sólida com importadores americanos, essa mudança representa não apenas um desastre financeiro, mas também emocional, já que tanto esforço por sua parte pode não ter o reconhecimento desejado.
A tarifa de 50% imposta pelo então presidente dos EUA, Donald Trump, entrou em vigor em 1º de agosto de 2025, abrangendo uma ampla gama de produtos, incluindo petróleo, ferro, aço e aeronaves. Além disso, em março de 2025, os Estados Unidos impuseram tarifas adicionais de 25% sobre produtos de aço e alumínio, como parte de suas políticas comerciais protecionistas. Isso forçou Daniele a cancelar contratos importantes, o que a coloca em busca de novos mercados em lugares como Noruega e Dubai. No caso dos produtos que exporta, como café especial, há um prazo limitado para que eles mantenham a qualidade até encontrar novos compradores. Enquanto isso, outras direções no globo, como Hong Kong, Japão e Irlanda, já figuram no portfólio de clientes da empresária, que agora precisa redirecionar seu estratégico planejamento de negócios. Em resposta, Daniele também passou a considerar a venda direta através de plataformas digitais, buscando compradores em mercados alternativos como Canadá.
Como os pequenos produtores podem encontrar alternativas?
O caso de Joaquim Rodrigues, um apicultor do interior da Bahia, ilustra mais ainda como as mudanças nas políticas comerciais internacionais afetam severamente o trabalho no campo. As exportadoras de mel que compram sua produção passaram a oferecer cerca de 18% menos pelo produto. Considerando que 90% de seu mel é exportado, principalmente para os EUA, tal redução significa uma perda substancial de receita, e consequentemente, coloca em risco a viabilidade econômica de sua pequena propriedade em Cipó. Além disso, Joaquim relata aumento de custos logísticos e maiores dificuldades para obter insumos, impactando diretamente a produção local.
Em resposta a essas mudanças, o governo brasileiro anunciou medidas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), mas produtores como Joaquim ainda têm dúvidas sobre a eficácia dessas iniciativas. A pergunta que surge frequentemente é: será que a burocracia não se tornará um empecilho maior do que a solução que propõem fornecer? Ao mesmo tempo, o apicultor e sua associação continuam buscando alternativas para assegurar que o mel encontre mercados interessados. Associações regionais também buscam apoiar produtores na adaptação às normas internacionais e na obtenção de certificações para facilitar o acesso a outros mercados.
Quais são as novas estratégias para superação das barreiras?
Para enfrentar a incerteza, produtores como Jailson Lira, um agricultor de uvas em Pernambuco, precisam se preparar para possíveis variações de preço quando o produto chegar aos EUA, pelo fato de o preço ser definido apenas na chegada. Diante de um cenário tão imprevisível, eles também se esforçam para encontrar novos mercados locais e internacionais, expandindo parcerias e buscando diversificação de clientes. Alguns produtores começaram a investir em feiras internacionais e exploram parcerias com startups de logística para facilitar a exportação para destinos considerados estratégicos.
Quais são as perspectivas para o futuro dos produtores brasileiros?
A situação para muitos é desafiadora, mas a experiência demonstra que pequenos produtores brasileiros têm uma notável capacidade de adaptação. Investimentos contínuos em qualidade, a busca por certificações atraentes para o mercado externo, e uma constante prospecção de novos parceiros, são componentes essenciais para a sustentabilidade futura de suas operações. Além disso, a pressão para que políticas públicas ofereçam suporte adequado permanece mais relevante do que nunca. Observa-se também a crescente importância de cooperativas e alianças regionais, que oferecem suporte técnico, acesso a crédito e plataformas coletivas de exportação, fortalecendo toda a cadeia produtiva.

Perguntas frequentes sobre a situação dos produtores
1. O que motivou o aumento das tarifas nos Estados Unidos sobre produtos brasileiros?
As tarifas foram introduzidas como parte de políticas comerciais mais protecionistas dos EUA para proteger indústrias locais e reduzir desequilíbrios na balança comercial.
2. Quais setores brasileiros foram mais afetados pelas novas tarifas?
Petróleo, ferro, aço, alumínio, aeronaves, café especial e produtos agrícolas em geral foram alguns dos setores mais impactados.
3. O que os pequenos produtores podem fazer para reduzir os impactos das tarifas?
Diversificar mercados de exportação, investir em certificações internacionais, participar de feiras e buscar suporte em associações e cooperativas são estratégias recomendadas.
4. Os programas governamentais realmente ajudam os pequenos exportadores?
Apesar de iniciativas como PNAE e PAA oferecerem algum suporte, há críticas frequentes quanto à burocracia e limitações de acesso para pequenos produtores.
5. Que oportunidades surgiram para os produtores brasileiros apesar das restrições?
Novos mercados na Europa, Ásia e Oriente Médio têm sido explorados, e a venda direta via plataformas digitais foi intensificada por algumas empresas.
6. Como as associações e cooperativas contribuem para o enfrentamento da crise?
Elas fornecem suporte técnico, acesso a crédito, auxílio em certificações e criam redes coletivas de comercialização, aumentando o poder de barganha dos pequenos produtores.