Do sertão pernambucano às margens do rio São Francisco, dois destinos se destacam na preservação da memória nordestina.

O cangaço, fenômeno marcante da história do Nordeste, ganha vida em Serra Talhada (PE) e Canindé de São Francisco (SE), dois municípios que unem cultura, natureza e tradição. De um lado, o legado de Lampião. Do outro, paisagens deslumbrantes entre cânions e águas calmas. Ambos oferecem experiências únicas para quem busca mergulhar na identidade sertaneja.
Serra Talhada preserva a história de Lampião
Conhecida como a terra do xaxado, Serra Talhada abriga o Museu do Cangaço, criado nos anos 1990 por moradores da cidade. Com mais de 2.300 peças no acervo, o espaço expõe fotografias, armas, indumentárias, moedas e bilhetes escritos pelo próprio Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.
Além do museu, a cidade promove eventos culturais e festivais que celebram a vida e a trajetória do “Rei do Cangaço”. A Fundação Cabras de Lampião, originada de um grupo de dança local, fortalece essa identidade por meio de pesquisas e manifestações artísticas.
“Lampião era uma figura muito contraditória e, por isso, muitas vezes as pessoas tinham vergonha de dizer que eram de Serra Talhada”, afirma Cleonice Maria dos Santos, presidenta da fundação. “Mas ele faz parte de um movimento forte do Nordeste, que compõe um capítulo importante da história do Brasil. Precisamos nos empoderar dessa herança.”

Canindé de São Francisco revela a beleza dos cânions
Se Lampião é a alma de Serra Talhada, os cânions do rio São Francisco são o coração de Canindé. Localizado no sertão de Sergipe, o município se tornou um dos roteiros mais procurados do estado por conta das formações rochosas esculpidas pela ação da água ao longo dos séculos.
O passeio de catamarã pelos cânions é a principal atração. As águas calmas e as paredes de pedra já serviram de cenário para produções como a novela Velho Chico. Além da beleza natural, o local preserva a cultura ribeirinha e a biodiversidade da região.
Cultura, gastronomia e vivências do sertão
Ambas as cidades oferecem mais do que turismo: proporcionam imersões autênticas na cultura nordestina. Em Serra Talhada, além do xaxado, o visitante pode conhecer trilhas ecológicas, feiras de artesanato e saborear pratos típicos como o bode guisado e a buchada.
Já em Canindé, as margens do rio guardam comunidades tradicionais que preservam saberes e costumes antigos. Festivais de música, dança e culinária complementam a visita, revelando um Nordeste rico em histórias, sabores e resistência.
O historiador Anildomá Willians, autor de cinco livros sobre o cangaço, resume: “O cangaço é um dos poucos recortes da cultura brasileira que tem tudo próprio: música, dança, poesia, indumentária e até uma gastronomia. É um universo completo dentro do sertão”.