A validade de alimentos vencidos é uma questão que gera muitas dúvidas nas famílias brasileiras e tem relação direta com o grande desperdício alimentar no país. Pedro Muniz, nutricionista formado pela USP e registrado no CRN 70616, trouxe informações importantes sobre quando alguns produtos podem ser consumidos mesmo após a data de vencimento, desde que observadas as condições adequadas de armazenamento.
Segundo o especialista, que compartilha conhecimento científico em suas redes sociais (@nutripedromuniz), muitos alimentos mantêm suas características de segurança por períodos além do prazo estipulado na embalagem, contanto que sejam armazenados corretamente e não apresentem sinais de deterioração.
Qual a diferença entre data de validade e deterioração real dos alimentos?
A data de validade impressa nas embalagens é determinada pelo próprio fabricante com base em diretrizes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). O prazo de validade é o intervalo de tempo no qual o alimento permanece seguro e adequado para consumo, desde que armazenado de acordo com as condições estabelecidas pelo fabricante. No entanto, muitos produtos mantêm suas características de segurança por períodos adicionais.
A diferença entre data de validade comercial e vida útil real do alimento é reconhecida pelas autoridades sanitárias do Brasil e do mundo. Órgãos como FDA (EUA), USDA, ANVISA, FAO e OMS reconhecem que alguns alimentos podem ser consumidos após o vencimento sem oferecer riscos à saúde, desde que estejam adequadamente armazenados.
Por que algumas famílias desperdiçam tanto alimento no Brasil?
O desperdício de alimentos no Brasil é um problema grave que envolve questões culturais e comportamentais. Dados da pesquisa sobre hábitos de consumo e desperdício de alimentos revelam que 41,6 quilos de comida são desperdiçados por pessoa a cada ano. Diariamente, cada família brasileira joga fora 353 gramas, o que dá um alarmante total de 128,8 quilos de alimento.
A pesquisa da EMBRAPA identificou que fatores como valorização da fartura e preferência por comida sempre fresca contribuem para esse desperdício. A necessidade de compras em grande quantidade, para manter a despensa abastecada, foi confirmada por 68% das pessoas que responderam à pesquisa, evidenciando a cultura do “é sempre melhor sobrar do que faltar”.
Quais alimentos Pedro Muniz indica que podem ser consumidos após o vencimento?
O nutricionista destacou alguns produtos específicos que podem ser consumidos com segurança após o prazo de validade, sempre observando sinais de deterioração:
Produtos secos com longa durabilidade:
- Farinha de trigo: até 6 meses após vencimento, se fechada e sem presença de insetos
- Macarrão: até 1 ano depois da validade, com embalagem bem fechada e sem furos
- Milho de pipoca: de 6 meses a 1 ano após vencimento, em local fresco e seco
- Leite em pó: até 6 meses depois do vencimento, em local fresco e seco
Produtos com características especiais:
- Óleo de cozinha: até 1 ano após vencimento, se bem fechado e sem cheiro de ranço
- Leite condensado: até 3 meses após vencimento, desde que a embalagem não esteja estufada
- Coco ralado: até 3 meses após vencimento, se bem fechado
Mel realmente não tem prazo de validade?
O mel é um alimento único em termos de conservação. Composto por cerca de 80% de açúcares e 17 a 22% de umidade, ele cria um ambiente hostil à maioria dos microrganismos. Essa alta concentração de açúcar tem um efeito desidratante, essencialmente “secar” qualquer bactéria ou fungo que tente se desenvolver.
Embora Pedro Muniz tenha mencionado que “o mel não tem data de validade, ele é eterno”, a legislação brasileira estabelece prazo de dois anos para garantir qualidade comercial. Quando protegido da luz, da umidade e do calor, nosso mel dura bastante tempo. Mas nem todo mundo consegue fazer isso por um longo período. Por isso, a legislação brasileira recomenda que o produto seja consumido em até 2 anos. A cristalização é um processo natural que não indica deterioração.
O que observar antes de consumir um alimento vencido?
Independentemente do que indica o especialista, é fundamental avaliar as características sensoriais de qualquer alimento antes do consumo. Os principais sinais que indicam deterioração incluem mudanças na cor, presença de mofo, odores estranhos, alterações na textura e embalagens danificadas.
Para não oferecer riscos à saúde, é importante que estejam armazenados adequadamente. O armazenamento correto em locais secos, protegidos da luz e em temperaturas adequadas é essencial para manter a segurança dos alimentos além do prazo comercial.
Como reduzir o desperdício alimentar em casa?
Para reduzir o desperdício doméstico, especialistas recomendam planejamento das compras, armazenamento adequado dos alimentos e conhecimento sobre diferentes tipos de validade. Respondentes com maior consciência ambiental e maior percepção do impacto do desperdício no orçamento familiar, apresentaram menor propensão a desperdiçar alimentos.
A educação sobre aproveitamento integral dos alimentos e o conhecimento de quais produtos podem ser consumidos com segurança além da data impressa contribuem significativamente para a redução do desperdício. O trabalho de nutricionistas como Pedro Muniz é fundamental para levar informação científica baseada em evidências para a população.
Fontes Consultadas
- ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2018/guia-orienta-sobre-prazos-de-validade-de-alimentos
- EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/37863018/pesquisa-revela-que-familia-brasileira-desperdica-128-quilos-de-comida-por-ano
- Ministério da Agricultura – Informações sobre mel e cristalização: https://agro2.com.br/dicas/descubra-uma-maneira-simples-de-tornar-o-mel-cristalizado-liquido-novamente/
