Entre as doenças respiratórias crônicas, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) se mantém entre as principais causas de mortes em 2025. O uso da auscultação pulmonar, por ser uma abordagem não invasiva e de baixo custo, facilita tanto a triagem quanto o acompanhamento de pacientes, auxiliando na distinção entre sons normais e patológicos, como sibilos e estertores. Além desse método tradicional, a busca por soluções mais rápidas e precisas impulsionou o desenvolvimento de algoritmos de inteligência artificial para a análise automatizada de sons pulmonares e a classificação de doenças respiratórias.
Auscultação pulmonar é uma técnica importante em medicina respiratória, permitindo que profissionais de saúde avaliem sons dos pulmões em diferentes pontos do tórax para identificar sinais de possíveis doenças respiratórias. Esses sons, captados por meio de estetoscópios, carregam informações relevantes sobre o funcionamento do aparelho respiratório e ajudam a detectar alterações anatômicas que indicam condições clínicas variadas. Atualmente, estima-se que, globalmente, distúrbios respiratórios respondem por cerca de 10 milhões de mortes ao ano, destacando a necessidade de métodos diagnósticos acessíveis e eficientes para identificação precoce dessas enfermidades.

Como funciona a análise de sons pulmonares com inteligência artificial?
O uso de inteligência artificial para a análise de sinais respiratórios envolve principalmente métodos de aprendizado de máquina e redes neurais profundas. Primeiramente, é necessário obter e preparar os dados, que são gravações de sons pulmonares feitas com estetoscópios eletrônicos. Após a coleta, os sinais passam por etapas de pré-processamento, como ajuste da taxa de amostragem, segmentação em pequenos trechos de tempo e normalização dos valores, o que garante uniformidade nas análises.
Na extração de características, utiliza-se filtros digitais para decompor os sinais em diferentes bandas de frequência. São calculados indicadores estatísticos, como desvio padrão, entropia, média das variações absolutas e outros parâmetros. Esses atributos formam a base para que algoritmos interpretem os padrões presentes em cada faixa de som, ajudando na separação entre diferentes classes de doenças.
Quais abordagens de inteligência artificial são adotadas na detecção de doenças pulmonares?
Dentro dos métodos avançados de análise, as redes neurais convolucionais (CNNs) vêm ganhando destaque por apresentarem alta precisão na classificação de sons respiratórios. Nessas abordagens, sinais de áudio, frequentemente unidimensionais, são transformados em imagens por técnicas de análise tempo-frequência, como espectrogramas e scalogramas. Essas imagens são, então, usadas como entrada para as redes neurais, que são capazes de extrair automaticamente características profundas e relevantes para classificação.
- Redes Convolucionais: reconhecem padrões complexos de tempo e frequência presentes em sinais patológicos e saudáveis.
- Redes Feed-forward: realizam classificação por meio de camadas totalmente conectadas, utilizando variáveis-chave extraídas de cada sub-banda de frequência.
- Técnicas Híbridas: combinam diferentes algoritmos, como CNNs e SVMs, para otimizar a performance e garantir maior robustez em dados variados.
Essas arquiteturas promovem ganhos significativos de acurácia, especificidade e sensibilidade, além de reduzirem o tempo de diagnóstico quando comparadas a métodos convencionais. Estudos também comprovam que a avaliação cruzada com múltiplos conjuntos de dados públicos fortalece a capacidade de generalização dos modelos, tornando-os mais confiáveis para uso clínico.
Quais são os principais desafios e resultados alcançados pelos métodos automatizados?
Mesmo com avanços notáveis, persistem desafios relacionados à generalização dos algoritmos para diferentes populações e à necessidade de maior diversidade nos bancos de dados utilizados para treinamento. Em muitos trabalhos, o desempenho pode ser elevado em banco de dados específico, mas cai quando exposto a sinais captados em condições distintas ou com equipamentos variados.
O desenvolvimento recente de redes neurais de arquitetura simplificada, mas eficiente, mostrou que é possível atingir resultados superiores com menor demanda computacional. Ao utilizar filtros de fase zero para separar frequências dos sons pulmonares e compilar indicadores estatísticos, modelos feed-forward apresentaram 100% de acurácia, sensibilidade e especificidade em classificações binárias e multi-classes, tanto em experimentos de validação cruzada quanto em validação leave-one-subject-out.
- Pré-processamento dos sinais por uniformização da taxa de amostragem e segmentação.
- Filtragem em bandas específicas para remoção de ruídos e identificação de componentes-chave.
- Extração de características estatísticas para descrição abrangente dos padrões de cada classe.
- Classificação eficiente com redes neurais enxutas, resultando em desempenho elevado, inclusive em validação entre diferentes bases de dados.
Essas soluções indicam potencial não apenas para aprimorar o diagnóstico, mas também para acelerar a tomada de decisão clínica, podendo ser implementadas em sistemas portáteis e adaptadas para outras áreas da saúde que demandam análise de sinais biomédicos.
Como a automação pode mudar o futuro da análise de sons pulmonares?
O uso crescente da inteligência artificial na análise de sons pulmonares promete beneficiar pacientes e profissionais ao permitir triagens em larga escala, em diversas regiões e sem a necessidade de especialistas para avaliação detalhada de cada gravação. Sistemas mais precisos, rápidos e fáceis de implementar tendem a reduzir atrasos no diagnóstico e melhorar o prognóstico de doenças respiratórias, especialmente em locais com acesso limitado a pneumologistas ou equipamentos avançados.
No futuro, espera-se que bancos de dados ainda mais robustos, aliados a redes neurais com arquitetura adaptativa e aprendizado contínuo, potencializem a identificação não só de doenças, mas também de tendências e episódios agudos. A portabilidade de soluções baseadas em inteligência artificiais também pode apoiar o monitoramento domiciliar e contribuir para estratégias de saúde pública voltadas ao controle de epidemias e ao manejo de doenças crônicas.
O avanço dos métodos automatizados e o uso de aprendizado de máquina na análise de sons respiratórios sugerem um caminho promissor para unir recursos tecnológicos à prática clínica, oferecendo suporte objetivo na detecção e acompanhamento de doenças pulmonares.