Pesquisas recentes têm dedicado atenção especial à relação entre o uso de antipsicóticos e a saúde bucal, em especial em pacientes que vivem com esquizofrenia. Estudos conduzidos por equipes acadêmicas, através de bancos de dados como o EudraVigilance, evidenciam um vínculo significativo entre essas medicações e reações adversas que afetam a cavidade oral. Essa questão tem despertado o interesse da comunidade científica e de profissionais de saúde, dado o impacto dessas alterações sobre o bem-estar de quem necessita desses tratamentos a longo prazo.
Como os antipsicóticos afetam o fluxo salivar? Os antipsicóticos atuam principalmente bloqueando receptores de dopamina (D2) no sistema nervoso central, mas também exercem efeitos sobre o sistema nervoso parassimpático através do bloqueio de receptores muscarínicos (antagonismo colinérgico). Esse antagonismo reduz o estímulo das glândulas salivares, resultando frequentemente em diminuição da produção de saliva (xerostomia). Dependendo da afinidade de cada antipsicótico pelos receptores muscarínicos e outros receptores, pode também ocorrer sialorreia, em especial com medicamentos como a clozapina, devido à sua ação adicional em receptores adrenérgicos e serotoninérgicos. Esses mecanismos farmacológicos explicam por que diferentes antipsicóticos podem levar tanto à boca seca quanto à salivação excessiva, interferindo diretamente no equilíbrio da flora bucal e aumentando o risco de infecções, cáries e outras complicações orais.
Segundo dados levantados até 2025, pessoas com transtornos psiquiátricos apresentam maior vulnerabilidade a doenças sistêmicas e complicações bucais, cenário que tende a agravar-se devido à ação dos fármacos antipsicóticos. Conforme relatórios de farmacovigilância, as manifestações mais frequentes incluem problemas no fluxo salivar, inflamações na boca e até perdas dentárias, condições que comprometem funções essenciais como mastigação, deglutição e comunicação.
Quais alterações bucais estão associadas ao uso de antipsicóticos?
Entre os efeitos colaterais mapeados relacionados ao uso de antipsicóticos, destaca-se a alteração do fluxo de saliva, podendo variar entre salivação excessiva (sialorreia) e boca seca (xerostomia), conforme o medicamento utilizado. Além disso, há registros de casos de inflamações envolvendo glândulas salivares, língua e mucosas, bem como o desenvolvimento de cáries e perdas de dentes. Essas alterações, quando não acompanhadas de cuidados preventivos, podem agravar-se ao longo do tempo e aumentar o risco de infecções e dor crônica na região bucal.
Esses dados são resultado da análise sistemática de notificações registradas tanto por profissionais da saúde quanto por pacientes. Os efeitos adversos orais podem ser subnotificados ou confundidos com outras causas, dificultando, por vezes, a identificação direta do medicamento responsável. Mesmo assim, a frequência elevada dessas ocorrências entre usuários de antipsicóticos reforça a necessidade de atenção redobrada a essa população específica.

Quais fatores que influenciam a saúde bucal em pacientes psiquiátricos?
A saúde oral de indivíduos com transtornos mentais não depende apenas do tipo de medicação prescrita. Diversos fatores podem comprometer a higiene bucal desses pacientes, tais como a utilização concomitante de diferentes classes de fármacos, dificuldades de acesso a serviços odontológicos, ausência de rotinas de higiene e o consumo elevado de substâncias como tabaco e drogas ilícitas.
- Comorbidades e polifarmácia: O uso de vários medicamentos pode potencializar efeitos colaterais bucais.
- Hábitos de higiene oral inadequados: Falta de escovação frequente e a não utilização de fio dental aumentam o risco de doenças periodontais e cáries.
- Dificuldades de acesso ao atendimento: Barreiras sociais, culturais e econômicas restringem o acompanhamento odontológico rotineiro.
- Estigma e isolamento: O preconceito social pode desencorajar a busca por cuidados regulares de saúde, inclusive odontológicos.
Levando em conta esses aspectos, profissionais da saúde são unânimes na ênfase à integração do cuidado multidisciplinar envolvendo psiquiatras, dentistas, psicólogos e equipe de enfermagem para oferta de suporte mais completo a quem utiliza antipsicóticos.
Como prevenir complicações bucais em pessoas que usam antipsicóticos?
A prevenção das complicações bucais relacionadas ao uso de antipsicóticos exige ações coordenadas e monitoramento contínuo dos pacientes. Uma das principais recomendações envolve a análise regular da saúde oral durante o tratamento psiquiátrico, incentivando práticas de higiene, como escovação após as refeições e a utilização correta do fio dental, além de visitas periódicas ao dentista.
- Análise sistemática da saúde bucal em consultas regulares de psiquiatria.
- Orientação detalhada sobre higiene oral adaptada a cada caso.
- Inclusão da avaliação odontológica como parte do protocolo terapêutico de pacientes psiquiátricos.
- Colaboração entre profissionais de saúde mental e odontólogos para troca de informações e monitoramento dos efeitos adversos.
- Promoção do acesso facilitado a serviços odontológicos, especialmente em comunidades com recursos restritos.
Além disso, é fundamental a sensibilização dos próprios pacientes e de suas famílias quanto à importância do autocuidado oral, destacando os benefícios de uma boca saudável para a qualidade de vida e para a resposta geral ao tratamento psiquiátrico.
O que os profissionais recomendam para o cuidado da saúde bucal nesse contexto?
Recomendações atuais apontam para a necessidade de estratégias preventivas e educativas constantes, englobando desde medidas simples de higiene até intervenções clínicas. É sugerida uma abordagem integrativa, unindo ações de profissionais de diferentes especialidades, a fim de potencializar resultados positivos e reduzir riscos associados aos medicamentos antipsicóticos. Programas de acompanhamento, educação em saúde e monitoramento regular são indicados para minimizar a incidência e a gravidade dos efeitos adversos orais.
A abordagem ampla, que considera tanto os fatores individuais quanto os contextuais, pode contribuir de forma significativa para a melhoria da saúde bucal e, em consequência, do bem-estar físico e mental dos pacientes em uso de antipsicóticos. Assim, a atenção continuada e personalizada permanece como ponto-chave para a promoção de uma vida mais saudável e digna para pessoas em tratamento psiquiátrico de longo prazo.
