Será que o bom desempenho de clubes brasileiros no Mundial de Clubes tem mudado a percepção dos europeus sobre o futebol nacional? O jornalista Marcelo Bechler, correspondente em Barcelona pela TNT Sports e Rádio Itatiaia, responde sem rodeios: não, o europeu não tem interesse pelo futebol brasileiro — e isso precisa deixar de ser um problema para nós.
Segundo ele, o Campeonato Brasileiro dificilmente será um produto de exportação, e não devemos esperar validação externa. O verdadeiro desafio está em fazer com que o próprio torcedor brasileiro valorize mais a sua liga, os seus clubes e o seu futebol como um todo.
O Mundial de Clubes muda algo na visão dos europeus?
Bechler afirma que, mesmo com boas campanhas, os europeus seguem vendo o Mundial como um torneio de verão, de pré-temporada ou de encerramento de calendário — apenas mais uma oportunidade de arrecadação financeira. Quem transmite ou está nos bastidores tenta dar importância ao evento, mas o interesse real continua sendo mínimo.
Segundo ele, os fatores que afastam o europeu incluem os horários, o ritmo dos jogos e a estética do futebol brasileiro. Apesar de reconhecerem que há bons jogadores e até bons times, o europeu médio não consome nem acompanha com atenção o Brasileirão.
O futebol brasileiro é mesmo pouco exportável?
Sim. Para Bechler, o futebol brasileiro não é um produto desenhado para o mercado externo. Não temos uma liga organizada ou com apelo visual e midiático capaz de conquistar audiência internacional — como acontece com a Premier League ou La Liga. Isso não é só uma questão de futebol, mas de modelo de gestão, marketing e cultura de consumo.
Ele reforça que a atenção deve estar no mercado interno. O maior desafio é fazer com que o próprio brasileiro consuma mais futebol brasileiro, vá além do time do coração e se interesse por jogos como Cruzeiro x Palmeiras, mesmo sem envolvimento emocional direto.
Por que os brasileiros buscam tanta validação externa?
Durante o Mundial, é comum ver brasileiros ansiosos pela repercussão dos jogos na Europa. Mas Bechler questiona essa busca por aprovação estrangeira. Para ele, existe uma contradição: enquanto reclamamos do eurocentrismo, continuamos desejando que os europeus reconheçam o nosso futebol.
Essa necessidade de validação é vista como um reflexo cultural. Em vez de buscar aprovação alheia, o foco deveria estar em melhorar a qualidade, a experiência e o respeito interno com o nosso próprio futebol, desde a base até a elite, do torcedor ao dirigente.
O que falta para o brasileiro valorizar o próprio campeonato?
Bechler acredita que o caminho começa com educação, cobertura jornalística mais crítica e envolvimento real do torcedor. Precisamos consumir mais o futebol local como cultura, como entretenimento e como paixão — não apenas nas fases finais ou em clássicos.
Além disso, é necessário que os clubes invistam em estrutura, transparência e engajamento. Isso inclui estádios, transmissões acessíveis, redes sociais bem geridas e fortalecimento das categorias de base.
Qual o verdadeiro desafio do futebol brasileiro?
Para Bechler, o ponto central não está na busca de reconhecimento europeu, mas sim em reconquistar o brasileiro. Ele defende que todos — imprensa, torcedores, clubes e gestores — precisam tratar melhor o futebol nacional. Isso inclui valorizar os campeonatos, acompanhar jogos de forma crítica e contribuir para um ambiente mais profissional e atrativo.
A estética, o ritmo, a organização e o consumo do futebol brasileiro devem ser pensados para quem vive aqui. Não para agradar quem está na Europa. “Os gringos não vão se interessar, eles não estão nem aí”, resume Bechler. E talvez isso seja um convite para olharmos mais para dentro e menos para fora.
Links e referências utilizadas
- Instagram oficial de Marcelo Bechler: https://www.instagram.com/marcelobechler
- Canal do Marcelo Bechler no YouTube: https://www.youtube.com/c/marcelobechler1