Um século depois, essa inquietação por um fazer artístico genuíno está representada na Semana Criativa de Tiradentes. O evento, que ocorre desde 2017 na cidade homônima de Minas Gerais, é reconhecido por unir design contemporâneo e técnicas tradicionais de artesanato local. O festival movimenta a economia criativa, ao convidar profissionais do Brasil inteiro para trabalhos colaborativos com artesãos do estado, dialogando com o passado e antecipando tendências do futuro.
A viagem realizada por intelectuais e artistas em 1924 pelas cidades históricas de Minas Gerais marcou o começo de uma valorização mais profunda das raízes culturais brasileiras. Nomes como Mário de Andrade, Oswald de Andrade e a artista Tarsila do Amaral, acompanhados pelo poeta suíço Blaise Cendrars, buscaram referências no barroco mineiro, abrindo espaço à reflexão sobre como a tradição pode dialogar com o novo. Essa expedição influenciou debates sobre identidade e autenticidade na arte, numa tentativa de conciliar modernidade e herança cultural do Brasil.
Quais são as origens e os objetivos da Semana Criativa de Tiradentes?
Criada pela jornalista Simone Quintas e pelo produtor cultural Júnior Guimarães, a Semana Criativa surgiu da vontade de fortalecer a presença do artesanato na agenda cultural de Tiradentes. Com histórico relevante no universo do design e arquitetura, Quintas notou que, embora festivais gastronômicos, cinematográficos e fotográficos movimentassem a cidade, faltava espaço para mostrar a tradição manual que sustenta parte significativa da economia local.
A iniciativa inicial cresceu rapidamente graças ao engajamento de designers, artesãos e arquitetos, transformando-se num projeto de promoção e salvaguarda do patrimônio imaterial brasileiro. O evento busca estimular a criação de novas linguagens sem abandonar os fundamentos que diferenciam as manifestações culturais do país, enfatizando as potencialidades promovidas pela diversidade regional.

Como o festival impacta a valorização do artesanato e da cultura local?
A Semana Criativa de Tiradentes reúne visitantes de várias regiões e estimula a valorização de ofícios passados de geração em geração. Os casarões históricos da cidade são palcos de exposições, palestras e oficinas, além de abrigarem mostras de produtos desenvolvidos em colaboração entre artesãos e designers renomados. Em 2024, o evento teve como destaque a apresentação de mestres artesãos, peças únicas vindas de regiões como Vale do Jequitinhonha e Urucuia, e debates acerca de apropriação cultural e preservação do saber fazer tradicional.
- Workshops: Os visitantes participam de oficinas de cerâmica, tecelagem e marcenaria, promovendo o intercâmbio de técnicas.
- Imersões criativas: Designers e artesãos trocam experiências em atividades ao longo do ano, cocriando produtos que ampliam o repertório de ambos.
- Loja própria: Desde 2024, os produtos desenvolvidos passaram a ser comercializados em pontos físicos e online, garantindo renda extra e reconhecimento nacional ao artesanato mineiro.
Além dos benefícios econômicos, há impactos sociais decisivos. O reconhecimento profissional e a autoestima dos artesãos aumentam, refletindo-se nas famílias e nas comunidades envolvidas. Histórias de superação pessoal e continuidade de tradições em novas gerações se multiplicam, tornando o evento um agente transformador da realidade local.
Por que Tiradentes é um polo de cultura e tradição artesanal?
A cidade de Tiradentes, fundada no período colonial, destaca-se não apenas pelo patrimônio arquitetônico e pelas paisagens, mas pelo papel central no desenvolvimento do artesanato mineiro. Suas ruas calçadas de pedra, igrejas barrocas e a atmosfera bucólica atraem turistas em busca de experiências culturais autênticas e de contato direto com mestres artesãos.
A relação de Tiradentes com a história também está presente na escolha do nome do município, em homenagem a Joaquim José da Silva Xavier, símbolo da Inconfidência Mineira. O passado revolucionário se mistura ao presente inovador do festival, oferecendo um retrato da persistência das tradições na construção da identidade nacional.
Como o futuro da Semana Criativa pode influenciar o design brasileiro?
Entre os projetos previstos para 2025, destaca-se a inauguração da Escola da Semana Criativa, uma instituição dedicada ao ensino e à partilha de saberes entre arquitetos, designers, artesãos e demais interessados. Instalada em uma antiga escola rural restaurada, a escola planeja oferecer cursos que abrangem desde técnicas tradicionais, como o artesanato em pedra-sabão, até práticas contemporâneas em design e gastronomia.
- Fomento ao diálogo entre áreas distintas, enriquecendo a produção cultural brasileira.
- Consolidação de Tiradentes como referência nacional em design de raízes populares.
- Valorização e atualização dos métodos artesanais, criando novas oportunidades de mercado.
O alcance da Semana Criativa vem crescendo, com participantes de outros estados integrando exposições e atividades. A cidade, com sua tradição, serve como ponto de encontro entre passado e presente, consolidando-se como símbolo de renovação permanente das expressões culturais brasileiras.
Diante disso, a Semana Criativa de Tiradentes segue como exemplo de como o artesanato pode dialogar com a inovação, preservando saberes históricos ao mesmo tempo em que inspira novas práticas no cenário do design, arquitetura e demais áreas criativas do Brasil, promovendo inclusão, desenvolvimento social e valorização da identidade nacional.