O Rio Grande do Sul é o estado que se destaca no cenário nacional pela significativa presença de religiões de matriz africana. Segundo dados recentes, 3,2% da população gaúcha segue essas religiões, uma proporção consideravelmente maior do que a média nacional de 1%. Essa diferença reflete uma herança cultural e histórica única, que remonta ao período escravocrata no Brasil.
Historicamente, o estado foi um dos principais destinos de pessoas escravizadas trazidas da África. Em 1814, entre as 70 mil pessoas que viviam no território, 20 mil eram escravos e 5 mil eram negros livres. Esse contexto histórico facilitou a formação de comunidades religiosas afro-brasileiras, que hoje são parte integrante da identidade cultural do estado.

Quais são as principais religiões no Estado do RS?
No Rio Grande do Sul, as religiões de matriz africana mais praticadas são a umbanda, o candomblé, o batuque e a quimbanda. Cada uma dessas tradições possui características e práticas distintas, mas todas compartilham raízes africanas e desempenham um papel vital na vida espiritual de seus seguidores.
A umbanda, por exemplo, é conhecida por sua fusão de elementos africanos, indígenas e cristãos, enquanto o candomblé preserva de forma mais rigorosa as tradições africanas. O batuque, por sua vez, é uma manifestação religiosa que se desenvolveu especialmente no sul do Brasil, e a quimbanda é frequentemente associada a práticas espirituais mais voltadas para a magia e o esoterismo.
Como o patrimônio cultural afrorreligioso é preservado no RS?
Um dos marcos mais emblemáticos da presença afrorreligiosa no Rio Grande do Sul é o Bará do Mercado Público de Porto Alegre. Em 2020, a Câmara de Vereadores da cidade aprovou o tombamento desse espaço como patrimônio histórico-cultural. No batuque, o Bará é uma entidade que simboliza a abertura de caminhos e a fartura, sendo um local de grande importância espiritual para os praticantes.
Além disso, a Federação Afro-Umbandista Espiritualista do RS (FAUERS) desempenha um papel crucial na preservação e promoção dessas tradições. Em 2010, a FAUERS catalogou cerca de 71 mil terreiros no estado, evidenciando a vasta rede de comunidades religiosas afro-brasileiras.
Quais desafios as religiões enfrentam no Estado do RS?
Apesar de sua rica herança cultural, as religiões de matriz africana enfrentam desafios significativos, especialmente no que diz respeito à intolerância religiosa. Entre 2022 e 2024, os casos de preconceito religioso aumentaram 250% no estado, com a maioria dos incidentes sendo dirigidos contra essas tradições.
Em 2023, foram registrados 70 casos de intolerância religiosa na Polícia Civil do Rio Grande do Sul, destacando a necessidade de ações efetivas para combater o preconceito e promover o respeito à diversidade religiosa. A educação e a conscientização são ferramentas essenciais para enfrentar esses desafios e garantir que todas as expressões religiosas sejam respeitadas e valorizadas.
Qual é o panorama religioso no Estado do RS e no Brasil?
O censo demográfico revela que, no Rio Grande do Sul, a religião católica é a mais seguida, com 62,4% da população, seguida pelos evangélicos, que representam 23,7%. Em contraste, a cidade de Chuí, na fronteira com o Uruguai, destaca-se por ter a maior proporção de pessoas sem religião no estado, com 37,8% de sua população.
Em nível nacional, 9,3% dos brasileiros declaram não seguir nenhuma religião, um aumento em relação aos 7,9% registrados no censo de 2010. O Sul do Brasil, no entanto, tem a menor proporção de pessoas sem religião entre as regiões do país, com 7,1%.