O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu recentemente que o uso eficaz do Equipamento de Proteção Individual (EPI) pode descaracterizar o direito ao tempo especial no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Essa decisão impacta diretamente o Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), documento que detalha os riscos associados às atividades laborais. Segundo a tese aprovada, a presença de informações no PPP sobre a eficácia do EPI, em princípio, anula o tempo especial, exceto em casos excepcionais que ainda serão definidos.
Essas exceções, conforme apontado pela advogada Adriane Bramante, podem incluir exposição a ruídos, agentes cancerígenos e calor extremo. Bramante, que representou os trabalhadores no processo, destacou que muitas empresas afirmam a eficácia do EPI no PPP sem seguir as normas legais, dificultando que os trabalhadores provem o contrário devido à falta de conhecimento e acesso às informações internas da empresa.
Quais são as implicações da decisão para os trabalhadores?

A decisão do STJ estabelece que o ônus da prova sobre a ineficácia do EPI recai sobre o trabalhador que entra com a ação. A ministra Maria Thereza de Assis Moura, relatora do processo, afirmou que, em caso de dúvida sobre a eficácia do EPI, o tempo especial deve ser concedido. No entanto, ela reforçou que a responsabilidade de provar a ineficácia do EPI é do trabalhador, não da empresa.
O tempo especial do INSS é um benefício concedido a trabalhadores que atuam em condições prejudiciais à saúde, permitindo que se aposentem com menos tempo de contribuição. A decisão do STJ, portanto, pode afetar significativamente aqueles que buscam esse tipo de aposentadoria, especialmente se não conseguirem provar a ineficácia do EPI.
Como a decisão afeta os empregadores?
Para os empregadores, a decisão do STJ é vista como positiva, pois, se o EPI for considerado eficaz, não há obrigação de pagar alíquotas maiores do Risco Ambiental de Trabalho (RAT). O advogado Halley Henares, presidente da Associação Brasileira de Advocacia Tributária (Abat), destacou que a decisão de que o empregado deve provar a ineficácia do EPI é crucial. Caso a eficácia do EPI seja contestada com sucesso, o empregador terá que arcar com alíquotas majoradas do RAT.
Quais são os próximos passos para a implementação da decisão?
O acórdão da decisão ainda precisa ser publicado, e as partes envolvidas poderão decidir se apresentarão recurso. A advogada Adriane Bramante acredita que o INSS pode levar o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF) para ser julgado junto com outros temas relacionados ao benefício especial. A decisão do STJ, por estar nos ritos dos recursos repetitivos, terá validade para todos os casos semelhantes no país, mas ainda precisará do reconhecimento da repercussão geral no STF.
Essa decisão marca um ponto crucial na interpretação das normas previdenciárias relacionadas ao tempo especial e ao uso de EPIs, afetando tanto trabalhadores quanto empregadores em todo o Brasil. A evolução desse tema será acompanhada de perto por todos os envolvidos no setor previdenciário.