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O Morro do Careca, um dos cartões postais mais icônicos de Natal, no Rio Grande do Norte, tem sido alvo de estudos devido a um impressionante processo de erosão que reduziu sua altura de 66 metros para 63,3 metros em 17 anos. A erosão foi identificada pela primeira vez na década de 1990 e, desde então, tem havido uma preocupação contínua com os fatores que aceleram esse fenômeno natural.
Situado na praia de Ponta Negra, o Morro do Careca passou a sofrer mais intensamente com a erosão devido a uma combinação de fatores naturais e ações humanas. Entre os fatores naturais, destaca-se a ação das ondas e dos ventos, enquanto a ocupação desenfreada da orla e o encolhimento dos sedimentos disponíveis são exemplos de intervenções humanas que agravam a situação.
Quais são os principais fatores que contribuem para a erosão do Morro do Careca?
De acordo com estudos do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), três fatores principais são responsáveis pelo aumento da erosão na área. Primeiramente, as barragens construídas ao longo dos rios entre as décadas de 1950 e 1970 reduziram o transporte de sedimentos para as costas. Além disso, o aumento do nível do mar, impulsionado pelas mudanças climáticas, intensificou o impacto das ondas na base do morro. Por fim, a ocupação crescente da faixa costeira atrapalha o fluxo natural de areia movida pelo vento.
Particularmente para o Morro do Careca, sua localização em uma baía amplifica o problema, pois a hidrodinâmica marinha aumenta a erosão interna. A interação contínua das ondas com a parte interna da baía contribui para a degradação acelerada da duna, que suscetibiliza o morro a deslizamentos de terra.
Que medidas estão sendo tomadas para mitigar a erosão?
Em resposta ao cenário crítico, a prefeitura de Natal declarou estado de emergência e iniciou obras de alargamento da faixa de areia, com o objetivo de proteger a base do morro. Essas obras, conhecidas como “engorda da praia”, visam absorver o impacto das ondas, minimizando o efeito erosivo. Contudo, especialistas alertam que tais medidas, embora úteis, não substituirão a necessidade de reposição contínua de sedimentos na área.
Complementarmente, foram recomendadas restrições ao acesso ao topo do morro para evitar danos adicionais e melhorar a segurança dos visitantes. O isolamento de áreas vulneráveis pretende proteger os banhistas de eventos súbitos, como possíveis desabamentos de material rochoso.
Como as condições climáticas têm influenciado a erosão recentemente?
O impacto das condições climáticas tornou-se ainda mais evidente nos últimos anos. Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) relataram aumento significativo das precipitações nos primeiros meses de 2024, comparados ao ano anterior. Embora a erosão causada por chuvas seja significativa, a municipalidade destaca que as marés e os ventos permanecem como os principais agentes erosivos.
A administração local aposta na combinação da engorda da praia com a requalificação da infraestrutura de drenagem ao longo da orla, além do enrocamento, para estabelecer barreiras físicas contra os impactos dos eventos naturais e, assim, assegurar a estabilidade do morro.
O futuro do Morro do Careca está em risco?
Ainda que a redução total do morro não esteja prevista para o futuro imediato, a transformação de sua forma original é inevitável, segundo especialistas. A continuidade da erosão pode modificar significativamente a característica visual associada ao Morro do Careca – uma formação que remete a uma cabeça calva, no imaginário coletivo.
Para preservar esse patrimônio natural, pesquisadores defendem o investimento em monitoramento contínuo e pesquisas detalhadas sobre o volume de sedimentos na região. O objetivo é formular estratégias eficazes que assegurem a manutenção do morro e sua identidade única para as gerações futuras.