Em novembro de 2015, o Brasil enfrentou um dos piores desastres ambientais de sua história. O rompimento de uma barragem de rejeitos na cidade de Mariana, Minas Gerais, causou a morte de 19 pessoas e destruiu o distrito de Bento Rodrigues. A lama tóxica não apenas devastou a região local, mas também afetou a biodiversidade do rio Doce, comprometendo a economia de dezenas de comunidades ao longo de seu curso.
O acidente revisitou a responsabilidade das mineradoras por desastres ambientais. A mineradora anglo-australiana BHP, juntamente com a Vale, controlava a Samarco, empresa à frente da barragem que se rompeu. A tragédia marcou o início de uma longa batalha judicial entre as partes envolvidas, com demandas por compensação e justiça ecoando tanto em território brasileiro quanto internacional.
Ação Judicial no Reino Unido: Por que a BHP está no banco dos réus?
Mais de 620 mil indivíduos afetados pela tragédia de Mariana decidiram procurar justiça no Reino Unido contra a BHP, explorando que a sede da mineradora estava localizada no país na época do desastre. A ação reúne não apenas indivíduos, mas também 46 governos locais e cerca de 2 mil empresas, todos buscando reparação pelos danos imensuráveis causados pelo rompimento da barragem.
O escritório de advocacia Pogust Goodhead representa essas vítimas em uma ação coletiva que demanda 36 bilhões de libras, o equivalente à cerca de R$ 266 bilhões. Este valor faz dessa ação potencialmente a maior da história da Justiça britânica e uma das maiores já vistas globalmente em termos de danos ambientais.
A Fundação Renova e Suas Implicações
Após o desastre, as mineradoras BHP e Vale criaram a Fundação Renova com a intenção de mitigar os efeitos do rompimento da barragem. A fundação tem como foco principal compensar financeiramente as vítimas e realizar a recuperação ambiental da área afetada. Até o momento, foram desembolsados mais de R$ 57 bilhões para compensar os impactos na saúde, propriedades e formas de sustento dos afetados.
No entanto, críticas surgem quanto à eficácia das medidas adotadas pela fundação e quanto à responsabilidade assumida publicamente. Algumas famílias veem a compensação financeira como insuficiente e argumentam que a fundação falha em atender plenamente a complexidade e a magnitude dos danos enfrentados.
Qual o Futuro das Comunidades Afetadas?
O futuro das comunidades atingidas ainda é incerto. A nova cidade de Novo Bento está sendo construída para abrigar os moradores deslocados, mas muitos dos que perderam suas casas em Bento Rodrigues nutrem dúvidas sobre a mudança. Enquanto alguns aceitam a oferta de novas moradias, outros se preocupam com a perda de suas raízes culturais e tradições, temendo que o novo local não lhes proporcione o mesmo senso de comunidade.
Para as vítimas, esta tragédia não só trouxe perdas materiais, mas também emocionais, com famílias lamentando a perda de entes queridos e o estilo de vida que uma vez conheceram. As cidades-espelho oferecem uma esperança de recomeço, mas o desafio de reconstruir a vida permanece gigantesco.
Desafios e Esperança na Busca por Justiça
A luta por justiça persiste em ambos os tribunais no Brasil e no exterior, com as mineradoras se defendendo alegando que as ações na Inglaterra são desnecessárias por duplicarem questões já abordadas no Brasil. Apesar disso, as vítimas e seus representantes legais continuam a buscar uma resolução que reflita a extensão dos danos sofridos.
Para muitos, a justiça não será plenamente alcançada até que medidas efetivas sejam implementadas para prevenir desastres futuros. Este caso serve como um lembrete contundente da necessidade de regulamentação rigorosa e responsabilidade corporativa no setor de mineração, para garantir que catástrofes deste tipo não se repitam.