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No Brasil, os reality shows são uma verdadeira mania, mesmo quando boa parte do público demonstra um certo desprezo por esse tipo de entretenimento. Curiosamente, muitos dos que criticam esses programas e seus participantes não deixam de assistir e comentar cada episódio. Essa aparente contradição tem raízes profundas em fatores psicológicos, socioculturais e midiáticos. A opinião é de José Inácio Pilar, formado em Direito pela FAAP e pós-graduado em comunicação pela FGV, para O Antagonista.
Do ponto de vista psicológico, criticar reality shows pode ser uma forma de envolvimento emocional. Ao expressar suas opiniões sobre o comportamento dos participantes, os espectadores estão processando suas próprias reações. Tomemos como exemplo o Big Brother Brasil, onde personagens polêmicos como Karol Conká, em 2021, suscitaram críticas ferozes mas também impulsionaram a audiência.
Por que criticar é tão satisfatório?
Criticar comportamentos e situações em reality shows fornece uma válvula de escape emocional para os espectadores. O ato de julgar os participantes pode dar a sensação de superioridade moral, estimulando o público a continuar acompanhando o programa, mesmo que afirmem não gostar dele.
No Brasil, a cultura do debate público é fortemente enraizada. Programas como A Fazenda, da Record, e MasterChef Brasil, da Band, geram discussões intensas tanto nas redes sociais quanto nas conversas do dia a dia.
Papel sociocultural dos reality shows
Os reality shows frequentemente servem de palco para discussões mais profundas sobre comportamentos e valores. Por exemplo, A Fazenda muitas vezes aborda temas como preconceito e racismo. Em 2021, controvérsias envolvendo Dayane Mello trouxeram essas questões à tona, servindo de ponto de partida para debates mais amplos.
A tradição televisiva brasileira sempre instigou discussões acaloradas, desde as novelas até os reality shows. O Big Brother Brasil é discutido diariamente como se os participantes fossem figuras públicas de alta relevância, o que reforça esse comportamento.
Como as redes sociais amplificam as discussões
Redes sociais como Twitter e Instagram desempenham um papel crucial em manter o interesse pelos reality shows. Elas permitem que o público debata e critique em tempo real as atitudes dos participantes e o desenvolvimento do programa. No caso do BBB23, as redes sociais registraram milhões de menções diárias, com hashtags frequentemente liderando os trending topics globais.
A crítica nas redes sociais não serve apenas como expressão individual, mas também como meio de conexão entre os espectadores, criando uma comunidade de debates e compartilhamento de opiniões.
A resistência dos reality shows no cenário televisivo
Desde os pioneiros como No Limite e Casa dos Artistas, os reality shows atraem uma audiência comprometida. A crítica contínua parece, paradoxalmente, fortalecer o envolvimento do público com esses programas, transformando-os em pilares duradouros do entretenimento e do debate social.
Com a proliferação de reality shows na TV e nos serviços de streaming, os espectadores precisam escolher em quais programas focar seu tempo e suas críticas. Aqueles que conseguem acompanhar tudo talvez mereçam seu próprio show de realidade!