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Nas últimas seis décadas, o Brasil tem enfrentado períodos de estiagem cada vez mais prolongados. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que o número de dias sem precipitação aumentou significativamente de 80 para 100 dias consecutivos. Esse cenário preocupante evidencia os efeitos já presentes das mudanças climáticas.
Foi realizado um estudo abrangente que analisou dados de várias estações meteorológicas no Brasil, dividindo os períodos de 1961 a 1990 e de 1991 a 2020. A conclusão é clara: a estiagem está se tornando uma característica mais predominante no clima do país.
Principais descobertas
No intervalo entre 1961 e 1990, a média de dias consecutivos sem chuvas permanecia entre 80 e 85. Entretanto, essa média saltou para 100 dias entre 1991 e 2020, refletindo um aumento preocupante de 25%. Essa mudança não apenas altera o panorama climático, mas também traz implicações severas para a agricultura e o abastecimento de água.
Mapas e gráficos desenvolvidos a partir dos dados do estudo ilustram claramente esse avanço na seca, destacando as regiões mais afetadas pela estiagem prolongada.
Regiões mais vulneráveis
O estudo identificou que as regiões Nordeste, Centro-Oeste e partes do Sudeste estão entre as mais vulneráveis. Isso põe em evidência um padrão de seca em transformação, afetando novos territórios que anteriormente não eram considerados tão críticos.
- Ceará
- Rio Grande do Norte
- Piauí
- Maranhão
- Bahia
- Tocantins
- Goiás
- Minas Gerais
- Mato Grosso
- Mato Grosso do Sul
- Trechos de São Paulo
Lincoln Alves, especialista em mudanças climáticas do Inpe, observa que “a estiagem, antes concentrada no Nordeste, agora está se estendendo a outras regiões, incluindo o Sudeste, indicando uma mudança no padrão climático.”
Quais são as causas dessa transformação climática?
Lincoln Alves explica que a principal causa dessa mudança é o aumento das emissões de gases de efeito estufa. Essas emissões aceleram as alterações climáticas, resultando em eventos extremos mais frequentes e intensos, como secas prolongadas.
“Previa-se que esses níveis de estiagem ocorreriam até 2050. No entanto, estamos presenciando esses fenômenos muito antes do previsto, o que exige uma resposta imediata e eficaz”, alerta Alves.
Impacto e ações necessárias
O estudo faz parte de uma série de pesquisas que buscam entender o “novo clima” do Brasil. Entre as descobertas, destacam-se:
- Elevação das temperaturas em até 3°C;
- Aumento na frequência de ondas de calor;
- Incidência crescente de chuvas intensas, como observado recentemente no Rio Grande do Sul.
Essas pesquisas são essenciais para a formulação do Plano Clima Adaptação, aprovado recentemente após eventos climáticos extremos no sul do país. Esse plano visa orientar o poder público na criação de estratégias para mitigar os impactos das mudanças climáticas.
“Os resultados indicam claramente que estamos em meio a uma crise climática e que ações concretas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa são prioritárias. Além disso, precisamos desenvolver medidas para mitigar os impactos já inevitáveis,” afirma Alves.
Afetando a Amazônia e as terras indígenas
Além das regiões mencionadas, a estiagem também está causando sérios problemas na Amazônia, afetando negativamente as terras indígenas. Essa situação exige ações urgentes para proteger tanto o meio ambiente quanto as comunidades indígenas que dependem dos recursos naturais para sua subsistência.
Em conclusão, a evidência das mudanças climáticas impactando o clima brasileiro é irrefutável. O desafio agora é implementar políticas eficazes e imediatas para enfrentar e mitigar esses efeitos, garantindo um futuro sustentável para todas as regiões afetadas.