O consumo de bebidas alcoólicas sempre desempenhou um papel significativo na história da humanidade. Segundo o historiador Mark Hailwood, professor da Universidade de Bristol, no Reino Unido, o álcool teve inúmeras funções ao longo dos séculos. Não se trata apenas de socialização; bebidas alcoólicas foram usadas em rituais religiosos e como tratamentos médicos milenares.
Hailwood, especialista em história da bebida, destaca como essas funções evoluíram. Ele explica que a relação da humanidade com o álcool é profunda e multifacetada. As bebidas alcoólicas, como a cerveja e o vinho, foram essenciais em várias culturas, não só como alimento, mas também como uma fonte de prazer e relaxamento.
Em sua obra “Cervejarias e Companheirismo na Inglaterra Moderna”, Hailwood explora esses aspectos variados. Mais recentemente, ele observou uma tendência curiosa: a queda no consumo de bebidas alcoólicas entre jovens, uma realidade que reflete mudanças socioculturais e preocupações com a saúde.
Queda no Consumo de Álcool: O Que Está Acontecendo?
Estudos recentes indicam uma queda significativa no consumo de bebidas alcoólicas, especialmente entre os jovens. Na Noruega, Suécia, Lituânia e Islândia, a redução ultrapassa os 50% nos últimos 20 anos. No Brasil, uma pesquisa de 2023 pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) revelou que 46% dos jovens de 18 a 24 anos afirmam não beber nunca.
Segundo Hailwood, essa tendência pode ser explicada por duas principais razões. Primeiro, existe uma crescente conscientização sobre os impactos do álcool na saúde. Evidências científicas mostram que há poucos benefícios em consumir essas bebidas. Segundo, as alternativas ao álcool se tornaram mais acessíveis e diversificadas, como videogames e redes sociais.
O professor também menciona que, no passado, os locais sociais como bares e pubs eram praticamente as únicas opções de lazer. Hoje, a variedade de entretenimento disponível reduziu a necessidade de consumir bebidas alcoólicas para relaxar ou se divertir.
Costumes do Passado: O Almoço Regado a Cerveja e Outras Curiosidades
No Reino Unido de 20 anos atrás, era comum os trabalhadores praticarem o “almoço de trabalho”. Eles saíam para beber durante o horário de expediente, retornando ao trabalho ou encerrando o dia por ali mesmo. Essa prática, hoje rara, era amplamente aceita e vista como parte da rotina diária.
Na França, até a década de 1980, as escolas ofereciam vinho a crianças e adolescentes. Essa tradição foi alterada devido a preocupações de saúde e controle mais rigoroso. Outro exemplo curioso é o consumo de cerveja preta por mulheres lactantes, uma prática desaconselhada pelos riscos do álcool passar para o bebê.
Esses exemplos mostram como a percepção e o uso de bebidas alcoólicas mudaram, refletindo uma consciência maior sobre seus impactos e uma busca por alternativas.
Como e Por Que Consumimos Álcool?
História das Bebidas Alcoólicas
A origem do consumo de bebidas alcoólicas remonta a milênios atrás. Registros confiáveis do Egito Antigo mostram que cerveja era produzida em larga escala. Esse hábito poderia estar relacionado não apenas ao prazer, mas também ao valor nutricional das bebidas fermentadas.
Funções Nutricionais e Rituais Religiosos
A cerveja e outras bebidas alcoólicas eram vistas como fonte de calorias essenciais, além de desempenharem papéis em rituais religiosos. No cristianismo, por exemplo, o vinho é um elemento central em celebrações religiosas, simbolizando o sangue de Cristo.
Aspectos Medicinais
No passado, os coquetéis eram considerados remédios essenciais. No século 16 e 17, lidavam com doenças utilizando misturas alcoólicas. Produtos como o gim eram vistos não apenas como bebidas recreacionais, mas como remédios, referidos até como “água da vida”.
O Que o Futuro Reserva para o Consumo de Bebidas Alcoólicas?
Embora a tendência atual seja de redução no consumo de álcool, Hailwood sugere que essa realidade pode mudar. Fatores culturais e econômicos influenciam essas transformações, e futuras gerações podem adotar estilos de vida diferentes.
A história do álcool revela uma relação complexa e em constante mudança com a sociedade. Seja como fonte de calorias, socialização ou rituais religiosos, as bebidas alcoólicas continuarão a ser parte integral de muitas culturas.
A tensão entre os benefícios econômicos e os desafios de regulamentação mantém o debate sobre o álcool atual e relevante, destacando a necessidade de políticas equilibradas para lidar com essa dualidade.
Essa abordagem aberta e equilibrada talvez seja a chave para entender e gerenciar o consumo de bebidas alcoólicas no futuro.