Foto: Matias Delacroix/AP
A recente decisão dos Estados Unidos de reconhecer a vitória da oposição nas eleições presidenciais da Venezuela lançou uma nova onda de pressão sobre Caracas para iniciar uma transição de governo. No entanto, essa posição não será seguida pelo Brasil, que optou por um caminho diferente em sua diplomacia. Cinco dias após as eleições, sem que o regime chavista tenha apresentado provas de uma reeleição de Nicolás Maduro, integrantes do Itamaraty apontam para riscos de uma maior repressão, similar ao regime de Daniel Ortega na Nicarágua, que perseguiu opositores e a Igreja Católica.
Em um comunicado emitido nesta quinta-feira, 1º de julho de 2024, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, destacou que “Edmundo González Urrutia ganhou a maioria dos votos na eleição presidencial de 28 de julho na Venezuela”. Os EUA pedem agora que os partidos venezuelanos iniciem discussões sobre uma transição pacífica e respeitosa. No entanto, o Brasil e os Estados Unidos têm abordagens distintas sobre a crise venezuelana.
Como o Brasil Está Abordando a Crise Eleitoral Venezuelana?
Os presidentes Joe Biden e Luiz Inácio Lula da Silva prometeram coordenação estreita na questão venezuelana, mas adotam posturas diferentes. A diplomacia brasileira busca preservar sua liberdade de ação e não concordou com uma estratégia única com os Estados Unidos. O Palácio do Planalto escolheu a “receita do diálogo” e mantém canais de comunicação tanto com o governo Maduro quanto com a oposição venezuelana.
Na prática, enquanto os EUA já apostam em uma pressão mais forte sobre Maduro, apoiados por governos de direita e centro-direita da América Latina, o Brasil se associou a Colômbia e México para pedir um escrutínio transparente e rápido das eleições. A nota conjunta dos três países reforça a necessidade de um processo eleitoral verificável e imparcial, algo que o regime chavista ainda não forneceu.
Há Alguma Possibilidade de Diálogo na Venezuela?
A oposição venezuelana, representada por figuras como Edmundo González e María Corina Machado, tem tentado obter reconhecimento internacional para sua vitória, apresentando atas de votação que indicam uma derrota de Maduro. No entanto, o chavismo controla o aparato estatal e as forças repressivas, o que torna difícil uma transição sem um acordo interno para garantir segurança aos derrotados.
O presidente colombiano, Gustavo Petro, foi o primeiro a sugerir publicamente a necessidade de um pacto que garantisse proteção para aqueles que perderem o controle, uma proposta ainda não aceita por Maduro. Diplomatas brasileiros indicam que esse tipo de acordo seria crucial para qualquer transição pacífica, mas essas negociações precisam ser lideradas pelos próprios venezuelanos, incluindo civis e militares.
Quais São os Próximos Passos para a Diplomacia Brasileira?
Dentro do governo brasileiro, há uma percepção de que a oposição venezuelana tem apresentado argumentos mais convincentes ao público, mas o regime tem a vantagem das armas e do controle estatal. Nesse contexto, o Itamaraty mantém suas apostas no diálogo, confiando que este é o caminho para evitar um recrudescimento ainda maior da repressão.
Enquanto os EUA reconheceram oficialmente a vitória de González, o Brasil opta por esperar uma resposta das autoridades eleitorais controladas pelo chavismo. Sem o reconhecimento dos três maiores países da América Latina – Brasil, Colômbia e México – Maduro ficou isolado, mas insiste que está disposto a dialogar com os EUA com base em um acordo discutido no Catar no ano passado.
Pressão Internacional e Futuro da Venezuela
A crise na Venezuela evolui rapidamente, com novos fatos surgindo a cada dia. A situação é delicada e o tempo para uma resolução pacífica pode ser limitado. O Brasil, ao adotar uma postura de mediação, busca influenciar os eventos sem uma intervenção direta. No entanto, o cenário ainda é incerto e a posição do governo brasileiro pode mudar conforme a situação no terreno evolui.
Enquanto isso, o risco de agravamento da violência nas ruas aumenta, e a comunidade internacional aguarda por ação. A busca por um escrutínio justo e transparente será essencial para qualquer avanço na crise venezuelana, e cada movimento diplomatico será observado de perto. O foco continua na necessidade de uma solução que respeite a soberania do povo venezuelano e assegure uma transição pacífica e democrática.