Na pequena cidade de Uiraúna, uma história de determinação e conquista vem chamando a atenção. Francisca Maria, aos 78 anos de idade, acaba de realizar um sonho que tinha sido adiado por quase quatro décadas: se formar em Direito. Após interromper sua educação superior nos anos 70 por questões financeiras, ela decidiu retomar os estudos, encorajando não só sua família, mas toda uma comunidade.
Era um ambiente de aprendizado singular: enquanto esperava a água encher o tanque de seu quintal, Francisca aproveitava cada momento para estudar. “Era um olho no tanque e outro nos livros”, relata essa incansável mulher, que teve que vencer não apenas os desafios educacionais, mas também a distância e as dificuldades de locomoção diária da zona rural até a cidade de Cajazeiras.
Como Francisca Maria conseguiu completar sua graduação aos 78 anos?
Seu retorno para a graduação não foi fácil. Aprovada no vestibular, Francisca enfrentava diariamente mais de 100 quilômetros de viagem para alcançar a faculdade. Sua rotina começava antes das cinco da manhã e envolvia longas horas de espera nas instalações de uma igreja próxima ao local de estudo. Mesmo assim, ela se mantinha firme, contando com a fé e a organização para conciliar todas as atividades.
Do papel à inspiração: a jornada de Francisca
Outra peculiaridade de sua jornada foi a forma como completou seu trabalho de conclusão de curso (TCC). Sem familiaridade com a tecnologia, Francisca escrevia tudo à mão. Semanalmente, ela levava páginas escritas para que seu orientador, Paulino Júnior, revisasse. Após a correção, sua neta, Laisa Beatriz, ajudava na transcrição dos textos para o formato digital. “Sempre que tinha dúvidas sobre alguma letra ou palavra, eu consultava minha avó. Queria que tudo ficasse perfeito, como ela escreveu”, conta Laisa.
Inspiração para a família e além
Além de conquistar seu diploma, Francisca tornou-se um verdadeiro exemplo para sua filha, Kilza Maria, que inicialmente temia os riscos da mãe retornar à universidade. Hoje, Kilza vê a jornada educacional de sua mãe como uma inspiração, planejando seguir seus passos e iniciar sua própria jornada acadêmica em breve. “O jeito é a gente fazer o curso igual mainha está fazendo”, afirma Kilza, demonstrando orgulho e admiração pela mãe.
Essa história destaca não apenas a realização de um sonho pessoal, mas também evidencia o poder da educação como instrumento de transformação social. Francisca Maria continua sendo uma fonte de inspiração, provando que nunca é tarde para aprender e transformar a própria vida e a de quem está ao redor.