Lembra do filme “Super-Homem”, em que o herói faz a Terra girar no sentido contrário para voltar no tempo? Pois bem, essa ideia é pura ficção hollywoodiana. No entanto, a rotação da Terra realmente exerce influência direta sobre o clima.
No Brasil, se a Terra girasse no sentido contrário, teríamos mudanças significativas. No Rio de Janeiro, em vez de biquínis, veríamos casacos à beira-mar. Em Santa Catarina, os golfinhos dariam lugar aos leões-marinhos ou até mesmo orcas. Essas alterações ocorreriam devido ao impacto da rotação terrestre nas correntes de ar próximas aos oceanos e, consequentemente, nas correntes oceânicas. Essas correntes são fundamentais para a distribuição do calor absorvido nos trópicos.
Imagine que as correntes oceânicas também se inverteriam. Isso teria um impacto climático decisivo, como explica Ricardo de Camargo, do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo. Além disso, a história humana seria diferente: Cristóvão Colombo, por exemplo, não teria chegado ao Novo Mundo seguindo as correntes que vão da costa africana ao Brasil.
A inversão da rotação também afetaria os ventos e as correntes oceânicas. No Atlântico Norte, os ventos soprariam para leste, empurrando tempestades tropicais e furacões em direção a Marrocos, Portugal e Espanha, em vez de atingir o Caribe.
E o clima? O litoral brasileiro seria banhado por águas frias, semelhantes à costa do Chile. Teríamos menos pessoas na água, mas mais peixes. Além disso, o deserto do Saara seria menor, pois o ar úmido e quente do Atlântico sopraria diretamente sobre o norte da África, levando chuva para o interior do continente.
Para entender o movimento de rotação da Terra, precisamos voltar às origens do sistema solar. Há cerca de 5 bilhões de anos, o Sol estava rodeado por uma nuvem giratória de gás e poeira, que gradualmente formou os planetas. Todos seguem o mesmo movimento dessa nuvem, exceto Vênus e Urano, que giram em sentidos diferentes devido a razões específicas.
Curiosamente, se a Terra girasse no sentido contrário, o ano teria dois dias a mais, pois cada dia seria quase oito minutos mais curto. A Terra completaria mais voltas em torno de si mesma até dar uma volta completa em torno do Sol.
O conceito tradicional de oriente e ocidente, baseado na direção em que o Sol nasce e se põe, sofreria uma reviravolta. Imagine se o Sol, assim como a Lua e as estrelas, surgisse no lado oeste (atual Ocidente) em vez do lado leste (atual Oriente) do globo terrestre. Essa inversão teria implicações interessantes.
Um exemplo notável seria o Japão, cujo nome deriva do chinês “jih-pun” (que significa “Sol nascente” ou origem do sol). Originalmente, os chineses chamavam seus vizinhos à direita de “jih-pun-kuo”, que se traduz como “país da origem do Sol”. No entanto, nesse novo cenário, seríamos nós, do lado ocidental, a ocupar essa posição oriental.
Essa mudança de perspectiva nos levaria a redefinir nossa compreensão dos pontos cardeais e a reconsiderar nossa relação com o Sol e os astros. Afinal, a forma como percebemos o mundo está profundamente ligada à nossa posição relativa no planeta.