foto: Exame
Na segunda-feira, 3 de outubro, uma tempestade perfeita atingiu o mercado mexicano, com a bolsa do México caindo cerca de 5,6% e o dólar se valorizando aproximadamente 4% em relação ao peso mexicano. A forte desvalorização da bolsa e da moeda mexicana foi uma reação do mercado aos resultados das eleições do fim de semana.
Claudia Sheinbaum, do partido Morena, o mesmo do atual presidente López Obrador, venceu a corrida presidencial. Embora o mercado já esperasse a vitória de Sheinbaum, a larga margem de vitória do Morena, especialmente nas eleições estaduais e para o Congresso, impressionou. No Legislativo, projeta-se que o Morena conquistou cerca de dois terços das cadeiras, o que é suficiente para promover mudanças na Constituição, uma vantagem maior do que a que López Obrador tinha quando foi eleito em 2018. No México, as eleições presidenciais ocorrem a cada 6 anos e as legislativas a cada 3 anos.
Com a oposição enfraquecida, surge o temor de que a nova conjuntura política no México facilite a aprovação de propostas controversas que já vinham sendo levantadas pelo Morena durante o mandato de López Obrador. Uma delas é o desmonte da Suprema Corte do país, com a possibilidade de os futuros juízes serem eleitos por voto popular. Essa proposta foi sondada por Obrador, mas não teve apoio político suficiente.
Além disso, há preocupações sobre a indicação de Sheinbaum para a Suprema Corte em novembro, quando um dos onze juízes se aposentará. O receio é que o tribunal comece a favorecer os interesses do Morena. No México, para a Suprema Corte considerar uma lei inconstitucional, são necessários oito dos onze votos. Com a indicação de Sheinbaum, o Morena passará a ter quatro juízes na corte, o suficiente para barrar qualquer iniciativa de considerar uma nova lei como inconstitucional.
“Um resultado claramente negativo”, avalia o BTG Pactual, do mesmo grupo controlador da Exame. Na visão do banco, reformas mais radicais, como a da Suprema Corte, devem sofrer modificações, mas são vistas como diretamente negativas para os mercados e o setor privado.
Durante o governo de Obrador, de viés mais à esquerda, houve um aumento significativo de programas sociais, embora o país tenha gastado menos que seus pares durante o período mais crítico da pandemia. Alberto Ramos, head de economia latino-americana no Goldman Sachs, avalia que os programas sociais e a alta aprovação de Obrador tiveram papel decisivo na grande vitória do Morena.
Antes da abertura do pregão, a bolsa do México tinha um preço/lucro de 12,2 vezes, 20% abaixo da média dos últimos 10 anos. Apesar desse desconto, analistas do Bradesco BBI recomendam cautela maior em investimentos no México, considerando os riscos legislativos, taxas de juros mais altas e “algumas nuances domésticas”.