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O risco-país do Brasil, utilizado como medida do risco de investimento, registrou a segunda maior alta entre os membros do G20, que inclui as 19 maiores economias do mundo mais a União Africana e a União Europeia. Desde janeiro, o indicador subiu 33 pontos, acumulando um total de 166 pontos no fechamento de sexta-feira (21 de junho de 2024).
Liderando o ranking de variação dentro do grupo, a Argentina apresentou um aumento significativo, elevando seu indicador em 1.133 pontos ao longo do ano, devido à crise econômica que enfrenta.
O risco-país é calculado com base no CDS (Credit Default Swap) de 5 anos e é usado para avaliar o risco de inadimplência na contratação de empréstimos. Os dados foram fornecidos exclusivamente à Poder360 pela Guide Investimentos, com alguns históricos obtidos por meio de consultas na Investing.
Os países que registraram queda no indicador desde janeiro historicamente têm um risco país abaixo dos 3 dígitos. A exceção é a Turquia, mas a redução no período foi de 9 pontos –menos expressiva quando comparada com o valor do fechamento.
Não há dados compilados do CDS para a União Europeia, a Rússia e o Canadá, outros integrantes do G20.
O patamar atual do risco Brasil é o maior desde novembro de 2023. Portanto, o mais elevado de 2024. A piora se explica especialmente pela incerteza da política fiscal do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
REVERTE RESULTADO DE 2023
O Brasil havia registrado um bom desempenho em 2023, quando o risco-país brasileiro recuou 121 pontos. Agora, parte desse resultado positivo foi perdido.
O topo do ranking de piora no período foi ocupado por Estados Unidos (+23 pontos) e Reino Unido (+8 pontos). Eis a lista:
Em 2023, as nações que apresentaram as quedas mais expressivas de pontuação foram aquelas que historicamente têm o índice maior que 3 dígitos, a maioria ainda em desenvolvimento.
O resultado mais positivo para o Brasil 1 ano antes se explica pelo crescimento da economia no começo de 2023, com melhora em muitos indicadores –como criação de emprego, PIB (Produto Interno Bruto) e inflação.
Todo esse cenário favoreceu o início do ciclo de cortes na Selic (taxa básica de juros) em meados do ano.
3º PIOR DA AMÉRICA LATINA
O desempenho do Brasil em 2024 na região só não é pior que o da Argentina e o da Colômbia (+47 pontos), que não integra o G20.
INCERTEZAS NO RADAR EM 2024
Os números dos infográficos acima indicam uma maior desconfiança do mercado financeiro nas perspectivas de médio e longo prazo para a economia. Para esse grupo, não basta ter resultados econômicos favoráveis sem uma perspectiva de estabilidade no futuro.
Nos últimos anos, o risco Brasil atingiu seu ponto mínimo em fevereiro de 2020, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Ficou na casa de 90 pontos –abaixo dos 3 dígitos.
Com a aprovação da reforma da Previdência, houve uma perspectiva mais favorável para rumo da dívida pública no Brasil. Logo depois, veio a pandemia e o risco disparou. Além disso, a Guerra na Ucrânia piorou o cenário do ponto de vista internacional.
O ambiente de negócios atual é considerado mais propício que nos anos anteriores. A crise sanitária acabou. Mas as incertezas da política fiscal acenderam um alerta no mercado.
“Hoje, voltamos para um cenário sem pandemia e sem o estresse de guerra, mas com uma dívida muito maior e com um governo que não tem perspectivas de cortar gastos. Está sempre buscando mais receita, o que traz muita incerteza”, diz ao Poder360 Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.
A equipe econômica de Lula, liderada pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), se propôs a equilibrar as contas públicas. Entretanto, mudou as metas e atrasou as estimativas de superavit com menos de 1 ano da aprovação do novo marco fiscal.
Outra questão é que o governo tomou medidas efetivas em direção ao equilíbrio majoritariamente com medidas para aumentar a arrecadação com impostos. Cortes de despesas ainda estão em fase de balão de ensaio, sem muita definição.
Victor Beyruti afirma que essa estratégia traz dúvidas. Segundo ele, o potencial de arrecadação é mais incerto que um corte de gastos.
“O que vem sendo apontado como uma solução são sempre medidas de aumento de arrecadação. Se olhar a receita, ela é muito incerta. Tem uma estimativa de quanto uma medida vai arrecadar, mas você não tem como ter certeza. Na medida que o corte de gasto é uma coisa certa. Sabe o quanto está cortando e consegue garantir”, declarou.
A revisão de gastos públicos tomou os holofotes durante a semana depois de declarações públicas dos ministros Haddad e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), sobre a necessidade de acelerar esse processo. As falas vêm em um momento de desconfiança do mercado sobre a política fiscal do governo. Apesar das declarações, nada efetivo foi anunciado. Parece ter ficado só no campo da retórica.