Na terça-feira (18), a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, divulgou um trecho editado da entrevista concedida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Rádio CBN na manhã do mesmo dia, omitindo a parte em que ele se refere ao bebê de uma vítima de estupro como “monstro”.
“Olha, eu não subestimei, não. Porque eles estão fazendo o papel que sempre souberam fazer. Nós não tínhamos a experiência neste país de uma extrema-direita ativista como temos hoje e uma extrema-direita pouco pragmática na política e muito pragmática nas mentiras. Estamos vivendo um outro mundo, é uma outra realidade. Mas eu não subestimei o Congresso, não, porque sei quantos partidos elegeram cada deputado, conheço o perfil de cada partido político, sei do nosso tamanho. Nós construímos uma maioria para garantir governabilidade e estamos lidando com isso. Olha, eu acho que essas pautas de costume, eu até não gosto muito de discutir isso, Cássia, porque não tem nada a ver com a realidade que estamos vivendo, não tem nada a ver esse negócio de ficar discutindo aborto legal. O que temos que discutir é o seguinte: quem está botando, na verdade, são meninas de 12, 13, 14 anos. É crime, crime hediondo, um cidadão estuprar uma menina de 10, 12 anos e depois querer que ela tenha um filho, um filho de um monstro. É preciso, de forma civilizada, a gente discutir. As crianças estão sendo violentadas dentro de casa, muitas vezes por padrastos. Então como é que a gente pode achar que esse debate é um debate cru? Isso é um debate maduro que envolve a sociedade, nós temos que respeitar as mulheres, sabe? Elas têm o direito de ter um comportamento diferente e não querer. Por que uma menina é obrigada a ter um filho de um cara que estuprou ela? Que monstro vai sair do ventre dessa menina? Então essa discussão é um pouco mais madura, não é banal como se faz hoje. O cidadão disse que fez o projeto para “testar o Lula”. Eu não preciso de teste, quem precisa de teste é ele. Eu quero saber se uma filha dele fosse estuprada, como é que ele iria se comportar. Eu quero muita maturidade dentro da discussão, Cássia, porque não é um tema simples. Eu disse textualmente o seguinte: Eu sou pai de 5 filhos, avô de 8 netos e bisavô de uma bisneta. Eu, Luiz Inácio Lula da Silva sou contra o aborto. Dá para ficar bem claro. Agora, enquanto chefe de Estado, o aborto tem que ser tratado como uma questão de saúde pública, porque não se pode permitir que a madame vá fazer um aborto em Paris e que a coitada morra em casa tentando furar o útero com agulha de tricô, esse é o drama que estamos vivendo. Uma menina de 10, 11, 12 anos primeiro esconde. Ela não quer que o pai saiba, ela não quer que a mãe saiba, ela esconde todo mundo. Quando vai cuidar, já está adiantado. Então acho que não precisaríamos estar discutindo outra coisa. A gente vai ter ou não que levar educação sexual nas escolas? A gente vai ter ou não que ensinar meninas e meninos como devem se comportar? Nós estamos no século 21 e estamos retrocedendo nessa discussão, voltando atrás. O que é triste é que um deputado apresenta um projeto de lei em que o estuprador pode pegar uma pena menor do que a estuprada, o que é isso? Sinceramente, essa coisa não deveria nem ter entrado em pauta, se entrou eu não sei por quê, mas não deveria ter entrado, porque o tema do Brasil não é esse.”