Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
O exame detalhado do material é uma das razões pelas quais a Polícia Federal (PF) ainda não finalizou o relatório final do inquérito. Conforme as investigações, Wassef teria recomprado de uma joalheria americana um Rolex presenteado pelo governo saudita a Bolsonaro, após a peça ter sido negociada com a loja pelo ex-ajudante de ordens do ex-presidente, tenente-coronel Mauro Cid.
Procurado, Wassef não retornou o contato. Em depoimento prestado em São Paulo, em agosto do ano passado, o advogado afirmou que a transação foi declarada à Receita Federal e realizada em dinheiro vivo, o que lhe garantiu um desconto de US$ 11 mil. Ele apresentou um recibo de compra de US$ 49 mil e outro recibo de saque no valor de US$ 35 mil.
“Eu comprei o relógio. A decisão foi minha. Usei meus recursos. Tenho a origem lícita e legal dos meus recursos. Tenho conta aberta nos Estados Unidos, em um banco em Miami, e usei meu dinheiro para pagar o relógio. Meu objetivo ao comprar esse relógio era devolvê-lo à União, ao governo federal do Brasil, à Presidência da República, conforme decisão do Tribunal de Contas da União”, disse na época.
Na semana passada, agentes da PF realizaram novas diligências e tomaram um novo depoimento de Mauro Cid. O objetivo era esclarecer a suposta negociação de uma nova joia, identificada em uma cooperação internacional com o Federal Bureau of Investigation (FBI). Em cidades como Miami (Flórida), Wilson Grove (Pensilvânia) e Nova York (NY), os policiais ouviram comerciantes, acessaram imagens de câmeras de segurança e obtiveram documentos, como movimentações financeiras dos investigados.
“Foi nessa diligência no exterior, com a equipe do FBI, que surgiu a notícia dessa nova joia negociada, que não estava no foco da investigação. A descoberta desse novo bem vendido no exterior pode ter atrasado a conclusão do inquérito, reforçando a investigação iniciada desde a apreensão no aeroporto”, afirmou Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF, há duas semanas.
Para o delegado Ricardo Andrade Saadi, diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção (Dicor), a identificação dessa nova joia vendida pode agravar a pena em caso de eventual condenação dos envolvidos no esquema, que inclui crimes como peculato e organização criminosa.
Segundo o inquérito, auxiliares de Bolsonaro venderam ou tentaram comercializar ao menos quatro itens, sendo dois entregues pela Arábia Saudita e dois pelo Bahrein. A investigação aponta a existência de uma organização criminosa no entorno do ex-presidente, que atuou para desviar joias, relógios, esculturas e outros itens de luxo recebidos por ele como representante do Estado brasileiro.
Entre os presentes negociados estão relógios das marcas Rolex e Patek Philippe, vendidos para a empresa Precision Watches por um total de US$ 68 mil, equivalente a R$ 346.983,60 na cotação da época. Mauro Cid esteve pessoalmente em uma loja em Willow Grove para vender uma dessas peças, e uma foto do comprovante de depósito foi armazenada no celular do oficial.
Em depoimento sobre a investigação, Bolsonaro optou por permanecer em silêncio.