Em recente entrevista à rádio CBN, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) expressou severas críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O chefe de estado comentou que a postura da autoridade monetária é “incoerente” e acusou seu líder de falta de “autonomia” e de ter uma inclinação “política”, além de tentar “dificultar o progresso nacional”.
Lula destacou que, no Brasil, o único desajuste atual é a conduta do Banco Central. Ele questionou a alta taxa de juros vigente, considerando-a injustificada.
Essas observações coincidiram com o início da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que está previsto para anunciar o novo nível da taxa Selic, que atualmente está em 10,5% ao ano. Há expectativas no mercado de que o Banco Central pausará a redução dos juros e manterá a taxa como está, diante das preocupações crescentes com o cenário fiscal do país e a volatilidade do dólar.
“Nós só temos uma coisa no Brasil desajustada nesse instante: o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar do que para ajudar o país. Porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, afirmou.
Indagado sobre a manutenção da Selic em 10,50%, Lula manifestou descontentamento e enfatizou que o Brasil não necessita de uma taxa de juros tão elevada, argumentando que isso desestimula investimentos no setor produtivo.
Ele também salientou que a inflação está sob controle e criticou a criação de narrativas sobre uma inflação futura. Lula apontou para os indicadores positivos da economia brasileira e defendeu a necessidade de atrair mais investimentos para o país, instando o Banco Central a contribuir para o crescimento econômico em vez de impedi-lo.
Na entrevista, Lula mencionou um jantar oferecido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em honra a Roberto Campos Neto. Esse evento gerou especulações sobre um possível convite para Campos Neto assumir o Ministério da Fazenda se Tarcísio se candidatar e vencer as eleições presidenciais em 2026. Lula usou esse episódio para questionar a independência política de Campos Neto e fez uma comparação com Henrique Meirelles, que foi presidente do Banco Central durante seu governo.
“Eu tenho muito tempo de experiência, eu já lidei muito tempo com o Banco Central. E o [Henrique] Meirelles é o meu presidente do Banco Central e eu duvido que esse Roberto Campos tenha mais autonomia que tinha o Meirelles. Duvido. O que é importante ver é a quem esse rapaz é submetido. Como ele vai a uma festa em São Paulo quase que assumindo a candidatura a um cargo do governo de São Paulo? Cadê a autonomia dele?”, questionou Lula.
“Quando ele se auto lança a um cargo, eu fico imaginando: nós vamos repetir o [Sergio] Moro? O presidente do Banco Central está disposto a fazer o mesmo papel que o Moro fez? Como paladino da Justiça? Com rabo preso a compromissos políticos?”, prosseguiu o mandatário. A referência a Sergio Moro se deve ao fato de o ex-juiz da Lava Jato ter deixado a magistratura para ser ministro da Justiça e Segurança Pública do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).