O presidente Lula defendeu, nesta quarta-feira (26), em entrevista ao UOL, uma diferenciação tributária entre carnes mais simples e carnes nobres na reforma tributária em tramitação no Congresso Nacional. Para ele, o frango poderia ficar isento de impostos, enquanto cortes como filé mignon deveriam ser taxados.
“Estamos discutindo várias questões na reforma tributária, incluindo quais itens queremos isentar de impostos. Os empresários querem isenção para toda a carne, mas acho que precisamos mediar”, disse o presidente. “Há carnes consumidas por pessoas de alto padrão e carnes que o povo consome. Podemos fazer essa separação. Não vamos taxar o frango, que é o que o povo come todo dia.”
Lula não mencionou a picanha, um dos cortes mais nobres. A promessa de colocar picanha na mesa do brasileiro foi uma das bandeiras de sua campanha eleitoral, mas ele ainda não conseguiu reduzir o custo de vida a ponto de tornar a picanha acessível diariamente.
A entrevista também foi marcada por críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, motivadas pela manutenção da taxa básica de juros em 10,5% ao ano. Lula convocou os empresários do setor produtivo a pressionar o executivo a baixar os juros.
“Eu continuo criticando a taxa de juros. Até acho que não deveria ser o presidente a fazer essa crítica. Houve um tempo em que tínhamos o Emílio de Moraes e o Zé Alencar [ex-vice-presidente da República e ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais], que batiam muito na taxa de juros. Mas é preciso que os empresários do setor produtivo, a CNI, a Fiesp, ao invés de reclamar do governo, façam passeatas contra a taxa de juros, porque são eles que estão tendo dificuldades. São eles que não conseguem crédito, não é o governo”, afirmou Lula.
Para o presidente, o Banco Central “não pode cuidar apenas da inflação”. “O Banco Central precisa manter a taxa de juros a 10,5% quando a inflação está a 4%? O Banco Central leva em conta que as pessoas estão tendo dificuldade em obter financiamento? Não é culpa apenas do Banco Central, mas da estrutura que foi criada. Ou seja, ele não pode se preocupar apenas com a inflação”, concluiu.