Foto: Reprodução/Cristiano Mariz/O Globo.
Matéria do colunista Fabiano Lana para o Estadão, publicada na manhã deste domingo (02), diz que o atual Presidente da República, Lula, e seu principal conselheiro internacional, Celso Amorim, teriam inscrito o Brasil no “eixo do mal”.
A posição do presidente Lula e de Celso Amorim sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia tem gerado controvérsias e afastado moderados, prejudicando os índices de popularidade do governo. Por motivos que variam desde interesses comerciais até um antiamericanismo sectário, as ações do governo indicam que o compromisso com a democracia por parte do PT pode ter sido mais uma conveniência eleitoral.
A questão é ainda mais abrangente. Em momentos decisivos, os petistas parecem simpatizar mais com qualquer ditadura que se oponha aos Estados Unidos ou, atualmente, até mesmo à Europa. Seja uma teocracia misógina como o Irã, um governo que levou sua população à miséria como a Venezuela, ou uma ditadura em crise como Cuba, se esses regimes se opõem aos EUA, recebem a simpatia aberta ou velada do governo atual. Além disso, as posições de Amorim têm causado danos significativos, especialmente em um período em que qualquer minoria pode fazer a diferença na balança eleitoral.
Relações internacionais muitas vezes envolvem hipocrisia. Governos vis frequentemente possuem ou desejam comprar produtos a preços competitivos para salvar economias como a brasileira, tornando negociações comerciais inevitáveis. No entanto, no caso da dupla Lula-Amorim, a situação é pior. Em vez de preferirem países que, apesar de incoerências, seguem princípios democráticos, respeitam minorias e a livre expressão, o governo parece optar por regimes repressivos que transgridem a soberania internacional e subjugam seus povos. Influenciados por Amorim, o Brasil parece estar optando pelo “eixo do mal”.
É curioso que essa postura não cause grandes impactos no cenário mundial. Devido à distância geográfica e à falta de poderio bélico, o governo Lula é visto como pouco influente nas relações internacionais. Apesar disso, Lula escolheu priorizar sua ação internacional em seu terceiro mandato – uma escolha que pode precisar mudar após tantas derrotas no Congresso. Será que Lula e Amorim ainda sonham em liderar negociações de paz na Rússia e em Gaza e ganhar o Nobel da Paz? Eles acreditam na própria megalomania? A realidade mostra que estão colhendo antipatia dos líderes ocidentais. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski, é apenas o mais vocal entre eles. Nem na América Latina Lula consegue se destacar, como demonstram as reprimendas de Gabriel Boric, do Chile, e Lacalle Pou, do Uruguai, além do hostil argentino Javier Milei.
A invasão russa na Ucrânia é a primeira violação territorial dessa magnitude na Europa desde a invasão da Polônia pela Alemanha Nazista em 1939, que deflagrou a Segunda Guerra Mundial. Existe claramente um lado agressor. Mas, para Amorim, são apenas visões divergentes em jogo. Ele sugere que a Rússia teria razão por se sentir ameaçada pela OTAN. Esse contorcionismo mental esconde ideologias e rancores. A realidade pode ser o oposto: sem a OTAN, repúblicas que se libertaram da União Soviética, como Estônia, Letônia e Lituânia, já teriam sido invadidas. Esses países têm museus que equiparam as invasões nazistas e comunistas como igualmente ignóbeis, incluindo o período do Pacto Molotov-Ribbentrop entre Stalin e Hitler.
A postura do Brasil nessas crises revela outra incoerência: a contundência com que Lula condena as mortes de crianças na Faixa de Gaza se transforma em brandura se o agressor for russo. É firme contra Israel, mas leniente com Putin.
Amorim, que se apresenta como um grande negociador, tem levado Lula a um impasse difícil de superar. Isso pode ser crucial para a pequena minoria decisiva que votará em 2026, influenciada por fatores como esses. Como questões morais não sensibilizam o presidente e seu conselheiro, vale um argumento pragmático: em um país tão dividido, uma política internacional conduzida por Amorim pode ser uma das razões para uma derrota eleitoral. O mais sábio para o presidente seria afastar seu desastrado conselheiro.