Wisley Alves de Sousa, proprietário de uma modesta loja de queijos em Macapá, capital do Amapá, acaba de se destacar no mercado ao se tornar o maior vencedor do controverso leilão promovido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a importação de arroz.
Segundo informações de The Agribiz, no certame realizado nesta quinta-feira, a empresa Wisley A. de Sousa LTDA arrematou seis lotes, assumindo a responsabilidade de importar 147 mil toneladas de arroz e internalizá-las até setembro. O valor do contrato é de R$ 736 milhões.
O feito chamou atenção devido ao porte relativamente pequeno da companhia, que é pouco conhecida no mercado brasileiro de grãos. Segundo registros da Receita Federal, o capital social da empresa amapaense é de apenas R$ 5 milhões.
Como parte do acordo, Souza deverá pagar uma caução de R$ 36,8 milhões à Conab até a próxima semana, como garantia de que cumprirá o contrato. Essa condição tem gerado ceticismo entre os observadores.
Na internet, informações sobre os negócios de Wisley de Souza são escassas. A reportagem de The AgriBiz conseguiu localizar a sede da empresa — uma pequena loja chamada “Queijo Minas”, com 1.010 seguidores no Instagram. A loja oferece produtos como cebola, óleo e ovos, aparentando ser uma típica mercearia de bairro.
Os riscos envolvendo a Conab
Desde que o governo federal anunciou o leilão para importação de arroz, com o objetivo de combater a especulação de preços, a medida tem gerado controvérsias e descontentamento entre os agricultores.
Para muitos, trata-se de uma ação populista que desconsidera a realidade da oferta e demanda global do mercado. A Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) chegou a tentar barrar o certame na Justiça, mas não obteve sucesso.
Os resultados do leilão desta quinta-feira só aumentaram as desconfianças. Uma fonte de uma grande beneficiadora de arroz alertou para os riscos de leilões malfeitos, que podem favorecer aventureiros que, por vezes, não conseguem cumprir o acordado.
Ivan Wedekin, ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura no governo Lula (2003-2006) e ex-diretor de commodities da antiga BM&FBovespa, criticou a intervenção governamental. Ele acredita que o arroz importado pela Conab só chegará ao Brasil em setembro, quando os problemas de abastecimento causados pelas enchentes no Rio Grande do Sul já estarão resolvidos.
Acompanhando o leilão à distância, Wedekin também recebeu várias mensagens questionando a capacidade de execução dos vencedores. “É necessário avaliar a experiência dessas empresas no agronegócio. Algumas pessoas também estão intrigadas com isso”, afirmou Wedekin.
Quem mais levou o leilão
O leilão promovido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a importação de arroz alcançou um total de R$ 1,3 bilhão, envolvendo 263 mil toneladas. Esse volume representa quase 90% das 300 mil toneladas que o governo federal pretende importar. Além da Wisley A. de Sousa LTDA, outras três empresas também saíram vitoriosas no certame.
A Zafira Trading, com sede em Santa Catarina, arrematou sete lotes, ficando responsável por importar 73,8 mil toneladas de arroz (R$ 368 milhões). Essa empresa atua principalmente no comércio exterior e pertence a Ana Carolina Altmann Wayhs.
A Icefruit, localizada em Tatuí (SP), também obteve sucesso, vencendo dois lotes e totalizando 19,7 mil toneladas (R$ 98 milhões). Seu foco de atividade é a fabricação de sucos, sob a administração de Marco Aurélio Bittencourt Junior.
Surpreendentemente, a ASR Locação de Veículos, com base em Brasília, ganhou dois lotes para importar 22,5 mil toneladas (R$ 112,5 milhões). A pergunta que ecoou foi: “Desde quando uma locadora de carros importa arroz?”
O negócio pertence a Crispiniano Espindola Wanderley, um nome relativamente conhecido na política do Distrito Federal. Ele já ocupou a presidência da Comissão Executiva do PROS em Brasília e, no passado, denunciou o deputado Alberto Fraga por exigir propina em um contrato relacionado a uma cooperativa de transportes.
Embora seja um novato no mundo agrícola, Wanderley não é estranho aos leilões da Conab. No ano passado, ele estreou ao vencer um leilão para comprar milho e entregá-lo aos produtores familiares da Bahia. “Entreguei 211 mil sacas de milho para ajudar os produtores afetados pela seca no Nordeste”, relatou. O leilão foi realizado a pedido da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional da Bahia (CAR).
Agora, Wanderley enxerga a oportunidade de contribuir para o abastecimento do mercado de arroz. “Acredito que o governo está agindo corretamente”, afirmou o empresário. Embora ainda não tenha garantido as compras, ele conduziu ampla pesquisa em países como Uruguai, Bolívia, Argentina e Vietnã para importar o cereal. Segundo suas estimativas, o preço do arroz deve chegar próximo a US$ 800 por tonelada.
Com informações de The Agribiz